“É sempre culpa da
mãe, não é verdade?”, disse ela, bem baixinho, pegando o casaco. “Aquele menino
deu errado porque a mãe dele bebia, ou se drogava. Ela deixava o garoto solto
na rua; ela não ensinou a ele o que é certo e o que é errado. Nunca estava em casa
quando ele voltava da escola. Ninguém nunca diz que o pai era um bêbado, ou que
o pai nunca estava em casa quando o garoto voltava da escola. E ninguém jamais
diz que alguns desses garotos não prestam e pronto. Não vá você acreditar nessa
balela. Não deixe que eles ponham nas suas costas essa matança toda. (...) É
duro ser mãe. Ninguém nunca aprovou uma lei que diz que para alguém ficar
grávida tem que ser perfeita. Tenho certeza de que você tentou ao máximo. Você
não está aqui, nesse fim de mundo, numa bela tarde de sábado? Você continua
tentando. Se cuide, meu bem.”
Eva Khatchadourian tinha somente dois desejos quando era
criança: sair da cidade onde nasceu (onde sua mãe agorafóbica fazia a casa da
família de sarcófago) e ter um homem que a amasse. O primeiro desejo foi logo
realizado e bem ao pé da letra – difícil encontrar um país que a destemida
escritora de guias de viagem de sucesso não tenha visitado – assim como o
segundo, resumido no seu casamento feliz com Franklin Plaskett.
Franklin era a antítese do homem que Eva imaginara que
casaria: um americano patriota típico, era estranho para a mulher de origens
armênias que odiava tudo que lembrasse a brega, ignorante e doente terra do tio
Sam. Mas o fato era que Franklin e Eva eram tão felizes que chegou a sufocar.
Eles precisavam de responsabilidade, de desafio, de algo novo.
Eles precisavam de um filho.