Eu não acredito em quem diz que não gosta de ler.
Essa é uma crença forte e irracional, quase religiosa, da
qual dificilmente serei dissuadida. Não querendo puxar a sardinha para o meu
lado de leitora voraz e aspirante à autora, mas não há nada que te transporte,
te entretenha e te ensine como um bom livro. Existem vários motivos pelos quais
alguém comete o grande engano de achar que não gosta de ler, e elenco “não ter
achado os livros certos” como principal, ao menos nas pessoas que conheço. É
dose que a maioria tenha começado a sua vida leitora com um Machado de Assis
(maravilhoso, mas na fase certa) imposto por uma professora dificilmente
simpática em um lugar que geralmente se odeia.
Ao mesmo tempo que a defendo com tanto ardor, porém, é
difícil acreditar que a literatura sobreviveu a plataformas visualmente mais
atraentes, como o cinema e os jogos. O Gotham writers’ workshop (oficina de
escrita, cuja apostila pode ser baixada gratuita e legalmente no Brasil aqui)
aponta que os personagens são a razão pela qual lemos ficção, e, mais do que
isso, o diferencial entre o livro bom e o ruim. Ao contrário do cinema, por
exemplo, em um livro passamos horas e horas com os mesmos personagens, entramos
em seus pensamentos e conhecendo o seu passado de forma dificilmente possível
na vida real, despertando, se eficiente, empatia. Como fã de literatura de
gênero, fiquei um pouco cismada com essa afirmativa – não são os mundos e
cenários igualmente importantes? – mas o segundo volume da série Dust Lands, Rebel Heart, me faz ver que o pessoal da
Gotham está certo.
Saba é o tipo de protagonista que podia ser nossa colega de
classe – não porque é comum, e sim porque é real como a dor. Esquiva e bruta,
ela tem razão para sê-lo, e mostra uma coragem do tipo que só se tem caso se
ame ou se odeie muito a alguém.
{Pode conter spoilers do volume um, Caminhos de sangue, a partir daqui – minha resenha deste começo
magnífico está aqui.}