27 fevereiro 2012

F15 - A invenção de Hugo Cabret

Eu não sei o que exatamente causa essa aura de magia em torno de A invenção de Hugo Cabret – seria a fotografia linda, ganhadora do Oscar nesta categoria? O cenário da Paris dos anos 30? Ou senão o velho conto do menino solitário?


Bom, não sei se encontrarei uma resposta, mas o filme é realmente tão bom quanto dizem. Hugo é um garoto bastante solitário: primeiro, perdeu a mãe. Anos depois, o pai morre num incêndio no museu onde trabalhava, o deixando sob custódia do tio grosso e alcoólatra.
O tio, por sua vez, desaparece, o que causa alguns empecilhos para o menino: embora não necessitasse dele fisicamente (Hugo sabia se virar muito bem sozinho, fazendo o trabalho do tio dando corda nos relógios da estação e realizando pequenos furtos para comer) ou não possuísse grandes laços emocionais com o mesmo; o engraçadissimo inspetor da estação, obcecado pela ordem da mesma, adora pegar órfãos “vadios” e mandá-los ao orfanato – o que faz com que Hugo viva escondido, observando num canto com seu doce olhar de criança o que se passa por ali, traçando logo algumas estórias paralelas (não gosto quando elas são muitas e “roubam a cena” dos personagens principais; mas se conduzidas de uma forma boa, como em A invenção de Hugo Cabret, se tornam uma parte adorável do filme).
Sua única herança, um boneco autômato, é também seu projeto: usando um caderno de anotações do pai como instrução e roubando peças das lojas de brinquedos, Hugo tenta consertar o boneco, na esperança de que ele lhe traga algum tipo de mensagem. Um dia, contudo, George, o dono da loja, pega Hugo tentando roubá-lo, e, ao pedir que ele esvazie os bolsos, fica desnorteado ao ver o caderno de anotações que o menino trazia consigo.
Como forma de “compensar” por seus furtos, George faz com que Hugo – que é ótimo consertando coisas – trabalhe para ele durante algum tempo,  caso contrário, seria entregue ao inspetor da estação. Sob a ameaça de ter o seu caderno queimado, Hugo se alia com Isabelle, sobrinha de George, menina louca por livros e que se anima com a perspectiva de viver uma aventura.
A maior parte dos grandes sites que consultei trata A invenção de Hugo Cabret como um filme infantil. Bem, a premissa do roteiro realmente é, e até mesmo um pouco batida: um órfão solitário, cujas maiores qualidades são a coragem e a habilidade, vivendo uma aventura junto com uma menina inteligente – é obvio que você já viu meia dúzia de obras assim.  Além disso, o uso de crianças espertas ao invés dos adolescentes em crises existenciais e cheios de dramas entre si torna o enredo mais dinâmico e agradável (e não só para crianças – eu já me animo sob a perspectiva de um filme com protagonistas assim).
   
Mas a  julgar pelo ritmo do filme (e pelo tédio expresso pelas crianças que estavam perto de mim no cinema e tiraram minha atenção com suas reclamações para os pais em alguns trechos) não sei exatamente se o filme é realmente bom para a meninada. Sim, o olhar infantil de Hugo sob as coisas e as cenas com uma fotografia encantadora  chamam a atenção de qualquer um em qualquer faixa etária, mas as reflexões talvez ditem um ritmo mais profundo e lento do que é agradável para a maior parte das crianças. A invenção de Hugo Cabret fala sobre solidão, sobre sonhos destruídos e sobre a mudança que a guerra causa nas pessoas, o que o torna mais adulto do que qualquer filme de ação por aí.
 A cenografia é algo à parte: filmes de bom orçamento em geral capricham nesse aspecto, mas da última vez que vi algo que me transportou de uma maneira tão cativante para um tempo que não vivi foi nos primeiros episódios da série Boardwalk Empire (que, não por acaso, possuíram o mesmo diretor de A Invenção de Hugo Cabret).
Eu poderia fazer discursos pseudo-cult quanto ao Oscar, falando que ele apenas premia filmes comerciais sem nenhuma qualidade. Certo, isso se aplica a uma parte dos filmes indicados pela academia – mas A Invenção de Hugo Cabret, embora de fato seja “comercial”, foi um dos filmes de maior qualidade que assisti recentemente.
Nota: 5/5
OBS.: Eu não podia deixar de falar isto: estou revoltada por Man or Muppet ter batido Real in Rio na escolha de melhor música original. Juro que não é meu nacionalismo falando: embora Man or Muppet seja legalzinha possa trazer boas e nostálgicas lembranças para muitos, Real in Rio é tão, sei lá, enérgica (minha gente, tem samba, forró, olodum e tudo mais! Poxa, pode esteriotipar nosso país, mas a música é linda!), original e está anos luz à sua frente. É impressionante como parece doer admitir que algo vindo de um país subdesenvolvido pode ser melhor...

11 comentários:

  1. Fiquei feliz com a sua opinião. Eu gostei tanto de Hugo que fico contente de ver opiniões positivas sobre ele por aí hehehe
    Hugo Cabret é um file comercial, mas pelo que andei lendo, o resultado dele nas bilheterias foi aquém do esperado. Acho que tem a ver com esse marketing que estão fazendo, chamando de filme infantil - é fato que isso afasta muita gente do filme. Talvez ver Scorsese na direção amenize um pouco a situação. Também achei que não tem ritmo de filme de criança, até comentei que acho que um daqueles que agrada mais aos pais do que aos filhos.
    Quanto ao Oscar: nem sempre filmes comerciais sem qualidade ganham, né? Ontem foi um exemplo. Acho que a mesma coisa com Guerra ao Terror (apesar de eu não ter gostado do que vi - mas também não vi inteiro pra julgar). Enfim. O Oscar tem seus momentos.

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    1. Eu também não gostei muito do que vi de guerra ao terror... Mas também não assisti todo para julgar. E, realmente, existem momentos e momentos no Oscar - enquanto em alguns anos filmes totalmente comerciais, sem sal ou qualidade ganham, em outros são fimes até meio "cult" ahahha

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  2. quando vi as pessoas comentando sobre esse filme, fiquei louca atrás de uma resenha dele. Mas não sei se iria ao cinema ver o filme, estou em uma fase: filmes de ação...rs e acho que para quebrar o jejum de cinema, só mesmo Jogos Vorazes.

    p.s: achei injusto tmb sobre a premiação da música original, mas fazer o que, desde o miss mundo que a Natalia perdeu, eu fico conformada quando o Brasil perde, sempre injustamente.
    bjo

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    1. Aaah, entendo isso da fase. Mas Jogos Vorazes não deixa exatamente de ser de ação, né? Tem bastante cenas, ao menos no livro, de violência e etc...

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  3. Não acho que o problema tenha sido a música do rio ter perdido o Oscar, e sim o filme nem ter sido indicado a melhor animação! E eu garanto que não é o meu nacionalismo falando, afinal, que nacionalismo? Eu não sou nada patriota.
    Eu adorei a invenção de Hugo Cabret, talvez pela mistura de boas atuações, um bom roteiro e uma excelente direção. Sem falar, é claro, no ambiente. Paris é a cidade mais bonita do mundo, isso é quase inquestionável.

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    1. Na verdade, eu não havia pensado por esse lado - mas realmente, Rio tinha "calibre" para ganhar de melhor animação...

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  4. Estou louca para assistir esse filme, tenho certeza que vou amar. Adoro filmes e livros fantásticos com crianças espertas! Sem falar que adoro os filmes do Martin Scorsese *-* Quanto ao Rio ter perdido, também fiquei realmente revoltada! Assisti o Oscar só para ver isso e nem acreditei quando perdeu (apesar de estar na cara, afinal até parece que iriam premiar algo brasileiro). Também acho a música muito melhor que a dos Muppets, dá uma felicidade enorme quando ouve. Mas quando eu ouço a música assistindo o filme, me dá vontade de chorar de tão linda haha (sim, eu sou um bocado patriota :|).

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    1. Eu também sou patriota de chorar com algumas coisas brasileiras DHAUSDHAUS Formatura é uma merda, eu sempre tô com uma maquiagem super elaborada, toca o hino, choro e borra tudo hahahha

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  5. Ainda não assisti este filme
    Mas esse parece muito bom e ate foi indicado ao Oscar...

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com

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  6. TÔ começando a ficar com deprê de ler críticas de filmes que ainda não vi...
    Oh, que vida mais cruel é esta, meu Deus!?
    Tenha uma ótima quinta!

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