14 julho 2012

The Declaration


Essa coisa de viver para sempre me deixa meio desconfiada.  É bom ter um “prazo de validade”, saber que você não estará para sempre aqui – torna procrastinar algo fútil e nossos planos mais realistas. Alguns anos a mais na média de vida e uma maior garantia de que as pessoas não morressem cedo demais é interessante e até mesmo necessário, mas não a eternidade. A eternidade é tempo demais.

Os cidadãos do mundo de The Declaration, porém, pensam diferente de mim: a ciência aperfeiçoou drogas de Longevidade bem o suficiente para que as pessoas possam viver quase que para sempre. A paixão, as metas e a criatividade morreram, mas se o que importa – vagar pelo mundo por muito tempo (ainda que como quase zumbis) e não ter que enfrentar o maior medo de nove em dez seres humanos – ocorre.

Com a popularização das drogas de Longevidade, a superpopulação do mundo acaba se tornando uma ameaça - afinal, é matemática básica: se ninguém morre e pessoas novas surgem, algo não fica balanceado. Isto basta para que as autoridades - conscientes de que, agora, são eles e não uma futura geração que vai morar em um planeta já muito destruído - proíbam o nascimento de crianças. É claro que existem as exceções: aqueles que optam não tomar as drogas de Longevidade aos dezesseis anos (os chamados Opt Out) podem ter seus rebentos. Mas quem quer trocar a promessa de vida eterna por filhos nessa idade?

Mesmo assim, alguns daqueles que não são Opt Out têm filhos, e caso estes sejam descobertos – a propaganda do medo garante que vizinhos e amigos funcionem como polícia– os pais são presos e as crianças (os chamados Surplus) colocadas em uma instituição do governo. Lá elas aprendem uma função (geralmente aquelas que os membros da nova e estável sociedade – os chamados Legals – não querem ter) e tirem “o melhor de uma situação ruim”, servindo os Legals até sua morte em um regime de semi-escravidão, onde falar, pensar e discordar é probido. As crianças Surplus são ensinadas a se odiar, e, sobretudo, a odiar os pais – afinal, eles não tinham o direito de ter nascido.

Anna é uma Surplus, e com quase quinze anos, não vê a hora de sair da instituição onde mora para servir um Legal. Anna é uma Surplus perfeita: sempre obedece aos Legals, acredita ser uma aberração da natureza e seus pais, monstros egoístas.

A chegada de um novo Surplus, porém, abala as convicções de Anna: Peter tem idéias bastante não convencionais e perigosas para a sua condição. Ele diz conhecer os pais de Anna, diz que eles o ama e que, acima de tudo, ela deve sair logo dali.

The Declaration estimula reflexões interessantes: como seria o mundo caso a vida não se renovasse? A maneira com que as pessoas lidam com isso é apresentada de forma muito interessante: o livro alterna pontos de vista em terceira pessoa de vários personagens, dentre eles Surpluses e Legals. Nenhum dos personagens me desagradou ou encantou – eles foram bem na medida, sem pender para a irrealidade/chatice ou singularidade.

Sim: o livro não tem grandes defeitos. A escrita flui bem, a história é interessante e se desenvolve em um ritmo que, embora não seja frenético como são em geral YAs distópicos, é bom. Mas ainda faltou aquela temperadinha; aquela proximidade psicológica com os personagens e suas relações de amor/ódio com o novo regime. A autora também insinuou conflitos geopolíticos em vários trechos sem aprofunda-los, que foi bastante irritante - gosto de saber, em distopias, como a sociedade chegou até aquele ponto. A série já tem um próximo livro (ah, minha carteira falida!), The Resistance, onde espero que tais defeitos sejam corrigidos. Porque, afinal, quer coisa mais interessante do que saber como poderia ser caso vivêssemos para sempre?

Nota: 4/5

OBS.: The Declaration foi lançado no Brasil com o nome de O Pacto. Quando falo da escrita fluir bem, falo em inglês, que foi como li, mas as traduções da Rocco costumam ser boas. 

11 comentários:

  1. Adorei a resenha, nunca tinha ouvido falar do livro, fiquei muito interessada na história!
    Concordo com você, não acho legal a ideia de viver para sempre. Aumentar a estimativa de vida é uma coisa, não morrer é péssimo. Num geral, acredito que a morte é o que move as pessoas. Elas procuram realizar seus sonhos e desejos enquanto estão vivas, se eu sei que vou viver para sempre, não vou fazer grande coisa por um bom tempo por saber que tenho o tempo que quiser para tal coisa, né?
    Enfim, fiquei super curiosa para ler o livro. Será que tem algum ebook por ai? :p heheheh

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  2. Isabel, adoro suas resenhas — principalmente porque elas são de filmes/livros que a gente mal conhece!
    Parece ser interessante esse livro, mas são tantas distopias que têm agora que eu nem sei por qual começar! Não sou muito fã desse gênero, só li THG! xD
    Mas algo que acho que é essencial mesmo, e que aconteceu com THG, foi essa proximidade psicológica que vc disse! Sem ela é difícil entender e até mesmo ter empatia pelos personagens!
    Beijos!

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  3. Bel, então somos duas desconfiadas. Essa coisa de ser imortal me deixa com um pé atrás, sério. Mas confesso que o que você escreveu me deixou bastante pensativa acerca do enredo desse livro. Completamente interessante... o fato de fazer o leitor refletir sobre as questões que você fez questão de colocar em pauta em sua resenha já é motivo o bastantes para querer lê-lo. Muito bacana... e a pergunta que não quer calar: e se vivêssemos para sempre?

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br/

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  4. Bel, então somos duas desconfiadas. Essa coisa de ser imortal me deixa com um pé atrás, sério. Mas confesso que o que você escreveu me deixou bastante pensativa acerca do enredo desse livro. Completamente interessante... o fato de fazer o leitor refletir sobre as questões que você fez questão de colocar em pauta em sua resenha já é motivo o bastantes para querer lê-lo. Muito bacana... e a pergunta que não quer calar: e se vivêssemos para sempre?

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br/

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  5. Cara, se eu tivesse com dezesseis anos e tivesse que decidir entre ser imortal e ter filhos, com certeza escolheria ser imortal. O que é melhor do que saber que vou ter tempo para fazer muitas coisas que eu quero fazer?
    Curti bastante a premissa desse livro, não o conhecia na verdade. Vou procurar a edição da Rocco.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  6. Mais uma distopia que me interessa, temas como imortalidade sempre me chamam atenção, como disse a Luara, entre ter filhos ou ser imortal, com 16 anos, com certeza escolheria a imortalidade. rs

    Beijos
    Meu outro lado

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  7. Oi Isabel!
    Não conhecia esse livro, mas gostei da premissa. Me lembrou um filme que vi (esqueci o nome agora, é com o Justin Timberlake e saiu ano passado), por causa dessa história de viver para sempre.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  8. Vou ler sem dúvida ;) Pena que não vai ser agora, o livro me atraiu porque o livro me atraiu... :/
    Adoro suas críticas bem construídas e sempre de obras não muito convencional ou conhecidas haha *-* Amo isso :Ç
    Lindo post, meus parabéns, beeijão diva :*

    Ewerton Lenildo - @Papeldeumlivro
    papeldeumlivro.blogspot.com

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  9. Nunca tinha ouvido falar desse livro, nem com o nome traduzido. Mas gostei da história! É incrível como os livros de distopias conseguem cada um abordar um tema e um problema diferente. Vou adicioná-lo a minha lista.

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  10. Oie!

    O que eu mais gosto nesses livros que abordam temas distópicos é que eles nos fazem refletir sobre o modo como vivemos hoje e a criar hipóteses como seria se vivêssemos num mundo diferente. No caso de "The declaration", que fala sobre a eternidade, não deixa de debater um tema que a gente sempre pensou, né? Quem nunca pensou em "Como seria se eu fosse imortal?". Achei legal, ainda não tinha ouvido falar no livro.

    Ótima dica!

    Bjins

    www.dicasoutravessuras.blogspot.com

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  11. Ah esses livros da Rocco são tudo caros haha
    Mas esse me pareceu bem interessante.. adorei a resenha e a personagem Anna me chamou atenção.

    Gosto da onda distópica, os livros sempre parecem ser interessantes!

    beijos e bom final de semana

    Nana - Obsession Valley

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