20 outubro 2012

Todas as coisas que eu já fiz



Depois que abri o blog, o número de livros que comprei aumentou substancialmente – até chegar no atual absurdo de cinqüenta e uma obras na estante não-lidas.

Mas com o aumento no número de livros veio um aumento de experiência: agora raramente compro ou começo a ler livros que me desagradam por completo – é só ver a média das notas que dou para os mesmos em minhas resenhas, raramente mais baixa do que B+. Não é porque sou pouco crítica (acho que o caso é até o contrário); só escolho bem o que vou ler.

De vez em quando, acontece desse meu “olho clínico” falhar e algum livro em especial me oferecer uma experiência totalmente o contrário do esperado – não da forma fascinante e maravilhosa, e sim negativa. Foi assim com Todas as coisas que eu já fiz.

Nova Iorque, 2083. O mundo está um caos (existe uma perspectiva de futuro no qual ele não esteja?), dominado por catástrofes ambientais e guerras. Como é comum em situações como esta, símbolos são escolhidos como inimigos públicos, culpados por todo aquele desespero – nesse caso, não os judeus, negros ou homossexuais, e sim o café e o chocolate.



Dá-me dor de cabeça só em pensar em um mundo sem café, mas o que Anya Balanchine sente quanto a isso é muito pior: sua família composta de mafiosos russos é dona de uma das maiores fábricas de chocolate do mundo, tornando bem difícil para a estudante de dezesseis anos se manter longe de confusão. Seu pai e sua mãe foram assassinados anos atrás por inimigos da família; o mesmo acidente que vitimou seu irmão Leo, deixando-o com leves problemas mentais – que, apesar de não inviabilizarem a vida em sociedade, o tornam um péssimo candidato a guardião legal de Anya e sua irmã, Naty.

A única solução para este núcleo da família Balanchine é manter a matriarca e avó de Anya viva o maior tempo possível, ligando-a a máquinas. Com os problemas de saúde de Leo, a pouca idade de Naty e o fato da avó não poder deixar o quarto, sobra para Anya a resolução dos problemas – tanto os simples e cotidianos de uma família e os advindos da condição de nascença de ser filha de um dos maiores mafiosos de todos os tempos.

Algumas distopias são frenéticas, como Jogos Vorazes, e outras, como Delírio, são lentas e reflexivas. Todas as coisas que já fiz pertence a essa última categoria – na verdade, é discutível até mesmo o rótulo de “distopia”: embora o mundo em que ele se passe seja bem diferente e com menos esperanças que o nosso, as relações familiares de Anya roubam a cena.

Anya é, ao mesmo tempo, o ponto mais forte e mais fraco do livro: aprecio a maturidade com que ela cuida de sua família e o fato de que ela faria tudo por ela; mas as lamentações por ter que fazê-lo são excessivas em alguns pontos.  Também acredito que o meio influencia de forma muito pesada na personalidade, e é impressionante que ela resista tanto em tomar parte nos negócios dos Balanchine.

Alguns personagens secundários, como Scarlet, melhor amiga de Anya, e Naty, sua irmãzinha, merecem um grande destaque – ambas são bastante divertidas, o tipo de pessoa que você convidaria para vir em sua casa num sábado a tarde para comer e falar besteira. Win, par romântico de Anya, não me agradou muito, assim como o romance em si: desde o início, é óbvio que a filha da máfia vai se atrair pelo filho do chefe da promotoria. Dá para ficar mais clichê?

Não sei se leria os próximos volumes da série, já que o enredo desse volume foi meio meh. Acontecem várias coisas empolgantes, mas creio que faltou a Gabrielle Zevin a habilidade necessária para costurá-los. Uma pena: dramas familiares são bem subestimados quando se trata de YA e sendo família (não só a tradicional, mas a baseada em carinho e proteção) uma quase constante humana, é um grande problema que há de se resolver.


13 comentários:

  1. Isabel, não sei se entendi bem, mas achei o enredo do livro bem viajadão né? Não conhecia o livro, mas estou meio que saturado de distopias - acho que o mercado como um todo está - então se lerei será bem depois.

    E tenho que dizer: gosto da forma como disseca suas resenhas, esse tom cai muito bem em quem fala com propriedade.

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  2. Eu tbm depois qe criei o blog minha lista de leitura aumentou bastante - não estou reclamando rsrrs.
    Adoro distopias, mas as vezes fico até em dúvida se um livro é distópico ou não - como por exemplo O Clã dos Magos que estou lendo - Todas as coisas que eu já fiz parece ser chato, não curti o enredo, achei meio infantil #mejulgue.
    Gostei da resenha, como sempre gosto..

    Beijos =*

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  3. O livro me parece bem "zen". Talvez seja o tipo de leitura que faria depois de sair de um livro muito tenso.
    Dificilmente eu acabo avaliando um livro com nota baixa, eu escolho bem antes de comprar. Resenha excelente ;D

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  4. Oie Isa
    esse bicho de comprar livros tmb me pegou depois que criei o blog rs
    eu tenho pra mais de 100 livros não lidos, e sempre surge algo de parceria, e eu acabo deixando os que compro de lado :(
    tmb costumo escolher muito bem minhas leituras,e por isso raramente desgosto de algum livro totalmente.
    Adoro distopias, ainda mais quando envolve drama familiar.
    BJos

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  5. Nossa, estou na mesma que você, devo ter uns 50 livros para ler e alguns nem são meus haha
    Quanto a história, achei ela beeeeem viajada O_O Por que diabos proibir chocolate e café?
    Mas achei interessante, é diferente e clichê ao mesmo tempo, talvez valha a pena ler.

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  6. De onde veio essa ideia louca do café e do chocolate? A autora dá pelo menos uma explicada básica de como a situação foi parar aí? Pelos deuses!
    Acho que esse distúrbio louco de comprar e acumular livros tem em todas as blogueiras literárias, hahahaha. Eu também tenho um monte na lista, e vários são emprestados! D:
    Beijos.
    Amor, Ana.

    http://quemprecisaviver.blogspot.com.br/

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  7. Adorei a sua resenha! Não é bem o meu estilo de livro, mas achei interessante..
    Beijinhos ;)

    Ann
    http://www.vinteepoucos.com.br/

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  8. Acho que os distópicos correm os mesmos riscos daqueles de vampiros - ficarem tão "na moda" que perdem a graça, na maioria dos casos.
    Não me interessou essa história, ainda mais querendo colocar a culpa no chocolate, pobrezinho! rsrs

    Beijos

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  9. Oi!

    Parabéns pela resenha!
    Até o momento ainda não li nada relacionado a distopia, mas interesse é o que não me falta. Logo pela capa, pude imaginar outra temática relacionada a esse livro, mas creio que passei longe ._.

    Beijos :*
    http://musicaselivros.blogspot.com.br/

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  10. Oi Isabel!
    Eu gosto de distopias, mas pelo jeito esse livro não é dos melhores.
    Eu também comecei a ler e comprar mais depois que comecei o blog, antes não lia tanto :)
    Também tento escolher os melhores livros pra ler, mas nem sempre a gente acerta, né!

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  11. Ainda não entrou na minha lista: VOU LER.
    achei a sinopse um pouco confusa.
    mas sua resenha ta ótima.
    adorei
    bjs

    www.amodernpinup.com

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  12. Vi esse livro quando ainda estava em inglês e imediatamente fiquei louca para comprar. Mas agora sei que preciso baixar um pouco as minhas expectativas.
    Beijos!
    http://thebooksthief.blogspot.com/

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  13. Não conhecia o livro e ao ver a capa imaginei uma história completamente diferente heheh
    Muito chato quando não gostamos de um livro que pensávamos que iriamos gostar =/
    Eu geralmente leio a continuação dos livros, só não se for realmente ruim :p

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