Momento encarando a realidade: se uma mulher é estuprada em
condições diferentes do imaginário estranho-louco-na-esquina, muitos erguerão a
voz para culpá-la. As desculpas estapafúrdias vão de bebidas a roupas curtas,
revelando uma mentalidade machista medieval que faz com que centenas convivam
com algo bastante estranho– a culpa por ter sido vítima de uma violação física
e psicológica para qual a maioria fecha os olhos sem sequer sabê-lo. Faz
sentido? Não muito. {Sobre isso, recomendo muito a leitura desse texto, que é
curtinho e bastante informativo.}
Duas décadas atrás não era muito diferente – e é nessa linha
que Thelma e Louise caminha. Thelma é uma dona de casa bonita, casada desde
os dezoito anos com Darryl, um homem grosso e controlador; já Louise, uma
garçonete
migrante do Texas e de espírito independente, vive um relacionamento indefinido
com um músico. Depois de muita insistência – Thelma não sai da cidade sem o
marido desde sempre, pedindo sua permissão para qualquer coisinha como uma
criancinha faz ao pai – elas partem para uma viagem de final de semana, um
pequeno retiro entre amigas na cabana do gerente de Louise. Na bagagem todas as
roupas possíveis, equipamento de pesca e uma arma de calibre 38 – presente de
Daryl (que aparentemente crê na utilidade de uma arma para auto-defesa) para Thelma.