28 dezembro 2011

O preço do amanhã + novo desafio


A adolescência te dá muitas vantagens. Nenhuma delas compensa os hormônios desregulados e ser dependente de todo mundo; mas antes tê-las do que não ter vantagem alguma.
Fui obrigada a refletir sobre algumas delas depois de assistir “O preço do amanhã”. Sempre que passa algum filme com cara de legal no cinema daqui, fico preocupada. Apesar de Feira de Santana não ser nenhum buraco perdido no meio do nada (há controvérsias sobre isso, mas eu sou quase uma Ms. Brightside), só temos um cinema aqui, o que me deixa a mercê, na maior parte do tempo, de desenhos infantis (os quais até gosto, mas tem um limite máximo de filmes da Pixar por mês para alguém com mais de doze), filmes de ação e comédias açucaradas.
Mas o filme realmente me surpreendeu. Uma das vantagens da adolescência que falei lá em cima é não precisar definir posição política – já que ninguém espera que você sequer ligue para política – e faço um ótimo uso dela: não acho que o comunismo seja uma opção, mas odeio a forma com que a economia mundial se organiza por sua obvia injustiça. Por isso, não dispenso uma crítica inteligente ao nosso sistema, que é o que “O preço do amanhã” faz: no mundo que o filme retrata, as pessoas são geneticamente modificadas para, fisicamente, nunca envelhecerem além dos vinte e cinco anos.
Depois disso, um relógio em contagem regressiva começa a rodar no braço de cada um, e, em um mundo em que o tempo é moeda, a lógica permanece a mesma que no nosso: para alguns serem quase imortais e desfrutarem do bom e do melhor, muitos precisam (depois de uma vida extremamente sofrida) morrer.
O enredo em si é cheio de clichês, admito: o seqüestro da menina rica, Robin Wood, crise de identidade e tal. Contudo, esse limbo no roteiro permite duas reflexões:
a) É ético e humano que alguns desfrutem do bom e do melhor quando outros morrem pela falta do que poderia ser suprido pelos excessos dos outros?
b) O dinheiro – ou o tempo, no caso do filme – realmente traz a libertação ou nos dá uma cautela podre e uma falsa impressão de que vai durar pra sempre?
A crítica que “O preço do amanhã” faz ao capitalismo é bem levinha, quase subentendida. Tratar o tempo como dinheiro não está tão longe da nossa realidade – afinal, como diz o velho ditado, tempo É dinheiro – mas colocar isto dessa forma talvez nos faça enxergar de uma maneira mais sensível. Outro ponto para a ficção distópica. o/

OBS.: Esse filme não entra no desafio dos 100 filmes por eu ter o asssistido há um tempinho já.
OBS2.: Como o meu maior objetivo com o 100 filmes e 70 livros é diversificar minha matriz de gêneros, resolvi entrar no Desafio Literário 2012. Ainda não me inscrevi, porque as inscrições foram fechadas e só reabrem em janeiro, mas pretendo faze-lo. Uma boa maneira de ler gêneros diferentes!

2 comentários:

  1. Oi Isabel! Muito obrigada pela visita ao meu blog, mesmo ele sendo voltado para a vida de bebezinhos e tal- que não deve ser lá um assunto muito empolgante para uma adolescente. Gostei demais do seu blog e da ideia de postar suas reflexões sobre os filmes que vc assiste: eu era cinéfila antes de ter bebê, agora tive que parar de ser, pois é meio complicado ir aos cinemas com um bebê à tiracolo. Mas cinema é cultura e vc está no caminho certo. Vc escreve muito bem,não aparenta ser uma escritora de 16 anos e não se perde em " emocionites" desta fase. Parabéns, Isabel. Vou tentar dar sempre uma passadinha por aqui!

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  2. Olá :) Gostei muito desse filme. Admito que fui ao cinema assistir mais porque parecia divertido e leve e porque tinha o Matt Bomer no elenco (aquele cara que morreu nos primeiros quinze minutos, que sorte a minha). Mas me surpreendi bastante. Mesmo com os clichês, foi uma história interessante e que fez, mesmo que de forma leve - como você disse - uma crítica pertinente à sociedade em que vivemos.
    Mas meu problema com o filme - do qual gostei, mas que passou longe do "ótimo" - foi justamente essa coisa de "vamos acabar com o sistema". Não porque eu concorde com todas injustiças da sociedade capitalista, mas porque não acho que sair distribuindo "tempo" pra todo mundo indiscriminadamente seja uma boa solução, já que a sociedade precisa de uma ordem para funcionar. Enfim. Tem uma resenha bem legal desse filme no Nem Um Pouco Épico que fala bastante a respeito disso.
    Adorei ler sua opinião, você escreve muito bem! Parabéns :)

    Beijo

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