29 dezembro 2011

O problema é admitir que se tem um problema



Dando uma pausa na resenhas de filme – to até enjoando levemente de escrevê-las, embora seja divertido – vamos lá com um tabu: preconceito. Um ótimo – como sempre – post no blog da Lola
me inspirou a falar sobre isso.
Mas antes que você pare de ler, já aviso: não vou dar lição de moral nenhuma sobre como é feio ser racista, como a homofobia é um câncer para a sociedade ou como o machismo mata. Não, não é isso: acho que todos nós já ouvimos broncas o suficiente na vida para internalizar esse tipo de coisa.
Vamos do que eu vou falar: dos doze passos. Criado nos anos trinta por um médico, eles possuíam como objetivo “resgatar” alcoólatras. Por seu grande sucesso, hoje existem grupos de apoio que aplicam os doze passos em todo tipo de vício. O primeiro passo, em suma, diz: assuma que você tem um problema.
É aí que chegamos no tal do preconceito: este é um problema que quase todas as pessoas não admitem que o tem, embora seu comportamento hostil com certos grupos seja evidente
.
Apesar de viver em uma sociedade racista, misógina e homofóbica, só ouvi a declaração ipsis libris de tais preconceitos duas vezes. Isso deveria ser algo bom. Deveria mesmo: uma garota, aos dezesseis anos, só ter presenciado a assinatura do atestado de imbecilidade alheio duas vezes. Ou eu moro em um país perfeito ou todo mundo tá com sindrome de Ali Khamel (para quem quiser se divertir um pouquinho, sugiro essa
leitura sobre as pérolas do diretor de jornalismo da globo). Mas não é: apenas demonstra que estamos tapando o sol com a peneira. As recepções de alguém que levanta e diz “sou racista” na maioria dos círculos são de choque: logo se pensa que o dito cujo é um nazista sem coração, que deseja enfiar todos os negros numa câmera de gás e atira em cachorrinhos; não como uma pessoa que foi criada para ser racista e se esforça, cada dia mais, para se livrar dessa educação negativa.
Da minha parte, já consegui alguns avanços: quando admiti que as palavras “piriguete e vadia” (que usava mentalmente com a alguma freqüência) eram de um machismo horrível da minha parte, aprendi muito, assim quando como parei de olhar atravessado para garotas de roupas curtíssimas na rua. Senti nojo de mim mesma por ter passado os primeiros dez ou doze anos me referindo ao cabelo afro como “cabelo ruim” (não porque achasse isso, mas por hábito mesmo), mas isso já não me pertence mais. É como disse Gandhi: “acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto", e acreditar na igualdade e não refleti-las em suas ações não adianta nada.
Pois é, isso é uma daquelas questões que me deixa em um impasse: como deixar que as pessoas admitam que são preconceituosas – podendo assim melhorar e deixar de sê-lo – sem ser conivente com o próprio preconceito?

2 comentários:

  1. É isto aí: se formos analisar, todo mundo tem um preconceito guardado dentro de si- eu mesma, sendo dona de um " cabelo ruim", já tive vários...Espero criar a minha filha com menos preconceitos dos que eu aprendi. Tomara que dê certo.

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  2. preconceito é um assunto muito difícil de analisar. eu pelo menos nem tento. acho que todo mundo tem um, por pior que seja essa realidade, a diferença está em como lida com ele. só porque eu acho que meninas de roupas curtas são piriguetes isso não quer dizer que eu vá trata-las mal. não sei se isso faz algum sentido. nem sei direito aonde estou querendo chegar. só sei que o pior (pra mim) não está em ter preconceito, mas em agir de forma preconceituosa.

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