18 janeiro 2012

F8: Je suis né d’une cigogne



Otto está desempregado e vive uma existência sem grandes alegrias junto a sua mãe. Louna é uma imigrante alemã que está às voltas entre seu treinamento em um salão de beleza e o despejo do quarto que aluga. Ali é argelino e não sabe se adapta aos costumes franceses ou continua com os seus hábitos árabes, não perdendo assim a cultura de seu povo e sua própria identidade.
Um belo dia, esse três jovens literalmente piram, saindo pela França com somente uma arma como ajuda. Os motivos, no começo, podem parecer ideológicos – Otto, Louna Ali são bastante politizados – mas não passam de cansaço: cansaço do desemprego, da xenofobia e de ter que lidar com mais responsabilidades que os vinte e poucos anos deveriam ter.
No meio do caminho – logo quando eu comecei achar que não há um propósito de verdade na viagem dos três protagonistas e sim somente a vontade de “dar o troco” por seus problemas – eles encontram uma cegonha. Essa cegonha acaba-se revelando um imigrante argelino chamado Mohammed, que desertou do exército do seu país e quer encontrar na Alemanha emprego e uma vida sem guerra.
Algumas partes são meio sem sentido, mas o resto do filme acaba compensando. Principalmente porque insere uma discussão que ainda é muito atual (mesmo que Je suis né d’une cigogne seja de treze anos atrás): como incorporar imigrantes e refugiados sem que os mesmos sejam aculturados? Como evitar que os mesmos sejam perseguidos por grupos de extrema direita? Como ditar um limite para a imigração, evitando que os sistemas de saúde e educação sejam sobrecarregados?Se eu soubesse responder essas perguntas, eu ganharia o prêmio Nobel da Paz, mas infelizmente não é o caso. Contudo, são ótimas questões para se pensar e discutir – até porque, já é realidade no Brasil: milhares de haitianos, fugindo do caos que está seu país pós-terremoto, estão vindo (por vezes ilegalmente) para o nosso país. Além disso, a crise em alguns países da Europa aumentou ainda mais a perseguição aos imigrantes, e é necessário cuidado para que os atentados xenofóbicos como o ocorrido na Noruega não se repitam.
Essa tal de “aculturação” é exemplificada nas cenas em que o pai de Ali tenta – com a melhor das intenções, afinal, eles não queriam ser mandados de volta à Argélia, onde a guerra estava em seu pior momento – fazer com que os filhos e a mulher se adaptem aos costumes franceses: tudo, desde os nomes, comida, religião, música escutada e forma de criação dos filhos teve de ser modificado, perdendo parte da sua identidade. Isso é a razão da revolta de Ali que, inspirado por vários filósofos – cujos livros ele devora durante a viagem – acredita na igualdade entre os povos, não em uma cultura sendo subjugada por outra.
De modo geral, adorei o filme: não é maçante como muitos filmes “alternativos” costumam ser e levanta muitas discussões nas entrelinhas. Recomendo bastante :D
“Tempos melhores virão. Com as vigas carbonizadas, com a terra e o sangue, vamos reconstruir, sem portões nem fronteiras, e nunca mais viveremos só de esperança.”
[trecho do filme]
Nota: 5/5

2 comentários:

  1. Oie retribuindo a visita, amei o blog e estou seguindo
    bjo

    Jack
    www.mybooklit.blogspot.com

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  2. Obrigada pela visita lá no meu blog, espero que volte mais e mais vezes *-*
    Sempre que puder venho comentar aqui <3
    Ótima quarta p/ vc :)

    Beijos,
    http://bnascimentooo.net.tc

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