09 julho 2012

Garotas de vidro


Tudo começa com uma aposta: no ano novo, Lia e Cassie começam a competir – quem será a mais magra? Lia desenvolve anorexia, Cassie, bulimia. E não é só isso: bebedeiras e auto-mutilação são comuns na vida das garotas que, sem saber lidar com os problemas do dia-a-dia, buscam se anestesiar dos mesmos.
Um acidente de carro muda tudo: a doença de Lia é descoberta, e ela é enviada por sua mãe e seu pai – ambos extremamente bem sucedidos e exigentes – para uma clinica de tratamento. No seu retorno, nada é o mesmo: Cassie já não mais a apóia, e todos os seus amigos se afastaram da “garota morta”. Depois de algum tempo e mais uma temporada na clínica, Lia recebe trinta e três ligações de Cassie em uma só noite – as quais ela obviamente não atende – e no dia seguinte recebe a notícia.

Cassie morreu.

Lia não reconhece a gravidade de sua doença: mesmo que tenha consciência de que pode morrer graças a ela, a morte soa melhor do que voltar a engordar. Morando com o pai ausente, a madrasta ocupada e a meia-irmã pequena, não se torna uma tarefa muito difícil enganar a todos quanto a seu peso e a sua dieta – que, por ela ser anoréxica, deveriam estar sob controle diário. O ciclo de auto-destruição da nossa protagonista é ainda mais acelerado graças a morte de Cassie – e não é só pelo sentimento de culpa: o fantasma da sua ex-melhor amiga a persegue.

Eu tinha grandes expectativas para Garotas de Vidro: já havia lido alguns trechos em inglês e sabia que a maneira de escrever de Laurie Halse Anderson era fascinante. Minhas expectativas, porém, foram superadas: a intensidade da escrita da autora é parecidíssima com a de Estilhaça-me, de Tahereh Mafi, descrevendo o turbilhão de emoções de Lia de maneira que o leitor consiga se por no lugar da personagem, sofrer com ela e compartilhar um pouquinho de sua felicidade – mesmo que seja algo estúpido e destrutivo como comer só 500 calorias por dia. A linguagem é rica, assim como suas metáforas e comparações – tudo isso para mostrar um mundo que, aos olhos da narradora, não tem muitos atrativos.

O tema também torna o livro interessante: afinal, comida não é só combustível. Comida é tradição, prazer, coletividade. Assim como percebi em Maus hábitos, não é só o corpo de uma pessoa com anorexia que é prejudicado - a sua "alma" também sofre. Lia não tem muitas razões claras para ser tão "machucada" - mas e precisa?

Alguns trechos são enervantes: a teimosia de Lia quanto a não se recuperar é terrível – embora real, já que, segundo os médicos, o que dificulta o tratamento de pacientes com anorexia é a sua crença de não estar doente. Em prol de perder peso, Lia machuca a todos: seus pais (que embora ausentes, não merecem tanto), sua madrasta e Emma, sua dócil meio-irmã. Li em algum lugar que Laurie Halse Anderson escreve, principalmente, sobre coisas que a indignam – uma lógica maravilhosa e louvável, que torna sua escrita e seu posicionamento devastadoramente convincente.

Sendo Lia a narradora, a anorexia é muitas vezes colocado como algo difícil, porém compensador. Depois de pensar sobre a leitura, porém, percebi que é exatamente ao contrário – de uma maneira bem torta, Garotas de Vidro é um alerta.

Afinal, como a própria Lia fala, não é legal quando garotas morrem.

Nota: 5/5

7 comentários:

  1. Oi Isabel!
    Também adorei o livro. Gostei d narrativa da autora, assim como as metáforas. Essa capa é linda, adoro! Se vc leu trechos em inglês, tem um livro dela Speak, que aborda um outro tema polêmico. Eu vi o filme e gostei muito(O silêncio de Melinda) então acredito que o livro deve ser muito bom. Mas acho que o livro não foi traduzido aqui no BR.

    Ah eu te linkei lá no blog, na área de blogs baianos(lateral esquerda).

    Beijos :D

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  2. Hey
    Vishe eu acho que esse livro deveria ser indicado na escola, ein
    Pelo menos na literatura da sétima ou oitava série...

    Minha prima leu, e disse que é meio forte mesmo.! Qualquer dia desses pego com ela :D

    Ótima resenha!

    beijos e uma ótima terça
    NANA - OBSESSION VALLEY

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  3. Também acho que este livro deveria ser indicado nas escolas. Vou ver se o encontro. Como sempre, fiquei interessada nele.

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  4. Oi Isabel!
    Sua resenha está perfeita!
    Não sabia que a autora costuma escrever sobre coisas que a indignam, vou procurar outros livros dela para ler.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  5. Eu adorei sua resenha!!!
    Sério, adorei mesmo!
    Eu já queria esse livro pq achei a capa e o titulo lindos, mas não sabia sobre oq se tratava, eu acho o assunto anorexia/bulimia realmente muito interessante, acho q são doenças sérias e mais psicológicas do que físicas e de alguma maneira é um assunto que chama muito minha atenção (talvez seja minha vontade de estudar psicologia)
    Mas voltando pra resenha, Amei o fato de ser narrado em primeira pessoa, agora quero muito mais ler esse livro!

    Tem post novo lá no blog, quer ler?
    http://falleninme.blogspot.com/ Desde já obrigada!

    -PatyScarcella

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  6. Lia irrita com toda a teimosia dela de não se cuidar, de não querer comer, e é como você disse, não só o corpo de quem tem anorexia fica deteriorado, mas também a alma.

    Beijos
    Meu outro lado

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  7. Já tinha ouvido falar desse livro e li algumas resenhas, mas ele não tinha me chamado atenção, até agora. Adorei sua resenha! Na verdade, adoro grande parte das suas resenhas! Acho que finalmente achei graça nesse livro e fiquei com vontade de ler.

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