28 julho 2013

Domingo preguiçoso: Feminist Frequency

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O Feminist Frequency é um programa online criado por Anita Sarkieesan que explora de forma linda as representações da mulher na cultura pop. Como escritora, leitora assídua e ser humano, confesso que muitas das representações expostas por Anita me escapavam nas minhas leituras, filmes e seriados, mas tudo que ela fala é tão embasado que nunca consigo desligar o meu alerta contra Manic Pixie Dream Girls ou fazer mentalmente o teste de Bechdel.
Anita Sarkeesian at Rusty Quarters
Se você gosta de qualquer coisa de ficção – sejam games, livros, séries ou filmes – sugiro que assista os três vídeos abaixo, os meus preferidos (e, na minha opinião, essenciais) da série de Anita. Não dá para ver a ficção da mesma maneira depois disso.

[Clique em CC embaixo do vídeo para selecionar as legendas em português.]

1. Manic Pixie Dream Girl


Na minha opinião esse daqui é o mais importante não só por ser um arquétipo extremamente comum na ficção, mas também por causa da nossa tendência cultural enquanto mulheres de queremos ser a Manic Pixie Dream Girl de alguém. É como disse uma personagem do fascinante Meu amor, meu bem, meu querido:
“É assim tão fácil, não é? – disse Miz June. – Olho para os meus netos e ainda reconheço isso. Espera-se que os meninos façam, que realizem algo, procurem aventura. Claro que agora as meninas tem uma carreira, mas o que ela esperam encontrar? Os meninos querem conquistar as montanhas, as meninas, os garotos.(...)
- As meninas podem conquistar as montanhas, se elas quiserem. – eu disse. – Sabemos disso, embora seja uma bobagem.
- Quer você goste, quer não, acontece a toda hora. (...) A identidade masculina está toda na ação; a feminina, quando ela tem um homem. Identidade através dele. Caímos do salto alto para a fenda estreita do que significa o feminino. Deixe-me esclarecer, você se apaixona e então pensa qe se encontrou. Mas quase sempere você está se procurando dentro dele. Isso é um fato. Há somente um lugar que você pode se encontrar. – Ela bateu no peito.”

2. Sobre Katniss Everdeen


Sempre citada quando estamos em busca das raras personagens femininas inteligentes e fortes, a protagonista de Jogos Vorazes realmente dá o que falar. Não concordo inteiramente com Anita quando ela fala sobre a regressão de personalidade de Katniss em Em chamas e A esperança, e com um ou outro detalhe do vídeo, mas para vocês que já assistiram o filme e/ou leram o primeiro livro este vídeo vale bastante a pena.

3. Os oscars e o teste Bechdel



O teste Bechdel, criado por uma mulher de mesmo nome, é utilizado para medir a participação mínima feminina em um filme. Os requisitos são bastante simples: o filme ter duAs personagens que falam uma com a outra sobre um assunto outro que não um homem. Básico, não? E é impressionante ver quantos filmes falham até nisso...

4. O princípio Smurfette


Eu disse três? Opa...

O princípio Smurfette é algo assustador por se relacionar tão bem com algo da realidade cotidiana – sabe o velho “prefiro ter amigos homens”? Pois é. Amiga, você não prefere ter amigos homens.  Desculpe te decepcionar, mas a sua cultura (machista) te ensinou que homens são amigos melhores, mais inteligentes e fiéis do que mulheres. Sabia que isso é mentira, tipo o papai Noel?

Como a Iris do Literalmente Falando escreveu nesse ótimo texto dela sobre o assunto:

“Amizade é um jogo de risco, assim como qualquer relacionamento. Ela é construída à base da confiança e entregar sua confiança para alguém – seja homem ou mulher – é tornar-se vulnerável. A pessoa conhece suas fraquezas e, por querer ou não, pode acabar te magoando no meio do caminho. Na maior parte das vezes, essa decepção sequer é proposital. Se for proposital, mau-caratismo não vê gênero.
Problemas aparecem em qualquer amizade. Boas amizades dependem exclusivamente do caráter de quem é seu amigo, não se ele é homem ou mulher. Me incomoda muito ver meninas baterem no peito para dizer: “sou mais amigas de homem do que de mulheres. Amigos homens são muito mais legais, eles não traem a gente e nem são falsos”. Sério que é tão simples assim? O que muita gente nem percebe é que, ao dizer isso, está ofendendo a si mesma: não vê que dizer essa frase a torna uma amiga muito pior apenas por ser mulher. E onde ficam todas as outras características de uma real amizade? Ofuscadas pelo sexo?
Um bom amigo é aquele que ama. E o amor se manifesta através do ombro, do abraço, das boas palavras, do ouvido, da mão que se estende quando o outro precisa, da risada sonora em momentos de alegria, de sofrer lado a lado e da euforia quando o outro recebe uma boa notícia, tão boa que parece que é você que ganhou o presente. Uma boa amizade entrega sem esperar nada em troca, mas ela recebe de volta porque é assim que amizades funcionam. Amigos estão presentes em todo momento, magoam em outros, mas unidos passam por cima. Uma boa amizade não tem a ver com órgão sexual, mas com coração. Homens e mulheres podem ser excelentes amigos.”


É isso. E acabou que esse Domingo Preguiçoso não ficou tão preguiçoso assim. Até a próxima, pessoal!

4 comentários:

  1. Caraca, essa deve ter sido uma das melhores indicações que você fez! Fiquei muito feliz de ter compartilhado esse canal que parece ser fantástico. Vou começar a assistir :D

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  2. Tenho uma preguiça fenomenal de ver vídeos do youtube que não sejam de música ou de gatinhos, mas esse canal <3 ao mesmo tempo em que é ótimo, dá vontade de arrancar os cabelos de raiva "COMO EU NUNCA REPAREI NISSO ANTES???" O Manic Pixie Dream Girl acaba me incomodando menos do que deveria em literatura, mas o teste de Bechdel me dá vontade de colocar a cabeça na privada e dar descarga, principalmente quando a gente começa a aplicar isso a um monte de filmes e pensa "oh, shit..."

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    1. Dá mesmo, cara! Pra mim o mais chocante foi o da Manic Pixie Dream Girl, pq percebi isso do nosso comportamento as vezes SER de Manic Pixie Dream Girls :/

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