Por algum tempo, séries de época para mim se resumiam naquelas
que mostravam a ociosa (mas não entediante) vida das elites da época vitoriana.
Ainda bem que o novelão Downton
Abbey desmistificou isso na minha cabecinha, abrindo meus horizontes para
produções que retratam épocas mais recentes e a classe operária – mas que não
perdem a magia e sotaque bonito.
Confesso que as adaptações de Jane Austen (com
sua leve e quase imperceptível ironia) ainda ocupam o lugar número um no
coração, mas o charme também é presente naquelas que retratam não as relações
sociais da elite inglesa, e sim as mudanças – protagonizadas por gente de todo
tipo e origem.
As lojas de departamento fizeram parte da consolidação da
cultura de consumo em praticamente todo o lugar, alterando a tradição e minando
muitos pequenos comerciantes e seus exclusivos (mas de qualidade) produtos. Eu
já havia começado a assistir Mr.Selfridge’s,
que conta a história da abertura da primeira loja de departamentos em Londres
(que existe até hoje) mas o andamento da série e seus personagens não me
agradaram muito para passar do terceiro episódio. Aí achei The Paradise que, apesar de alguns defeitos, superou minhas
expectativas.
Denise Lovett é uma garota do interior da Inglaterra que
cansa do tédio de sua cidade natal e vai para a cidade grande esperando
trabalhar com seu tio, um talentoso alfaiate. O Sr.Lovett, porém, não pode
acolhe-la: graças a loja de departamentos vizinha, The Paradise, os negócios
vão mal – os preços e variedade do estabelecimento do selfmade man John Moray
parecem atender mais a demanda dos clientes do que sua exclusividade e
tradição.
Não querendo voltar para casa, Denise vai atrás de emprego
justamente na loja do “inimigo”, decisão que deixa seu tio triste por um
período, mas não por muito tempo: ele percebe que a sua cidade de origem era,
de fato, pequena demais para sua sobrinha. Denise logo se mostra uma vendedora
habilidosa e cheia de idéias, com uma criatividade tão viva que atraí inveja de
Clara, sua moderna e cheia de segredos colega de trabalho e até mesmo da
Srta.Audrey, sua chefe de departamento organizada e dedicada, mas sem muita imaginação.
Ela obviamente também não passa despercebida ao Sr.Moray,
que logo percebe o seu potencial e inteligência. Um romance entre os dois é o
óbvio e vai se desenvolvendo ao curso da série, mas fiquei bastante feliz em
constatar que o assunto não toma, em nenhum momento, a cena do que acontece em The Paradise.
Porque, obviamente, um romance patrão-empregada é muito pequeno
se comparado a inovação louca e os problemas que aquele novo modelo de consumo
traz: a elite resistente a mudanças é representada por Katherine Glendenning, a
grande dama local, cortejada (e enrolada) por Moray há meses. Em uma atitude
superior típica, Katherine se recusa a “apadrinhar” a loja (algo essencial para
a conquista de clientes nas altas rodas) temerosa de que comprar ao lado da
filha do açougueiro estrague sua imagem.
Mas não só isso. Logo a órfã de mãe da alta sociedade
percebe que pode usar a sua presença em The Paradise como um ardil para
conquistar Moray de uma vez. E mais: com um imóvel alugado e quase sem
possibilidade de expansão, Moray depende do banco do Sr.Glendenning para tornar
The Paradise a grande loja para a qual tem potencial.
Cada episódio apresenta um pequeno conflito a ser resolvido
em The Paradise, além de seguir a linha comum da história. Os personagens
secundários, outros funcionários da loja, são maneirissimos, bem construídos e
com personalidade própria. Alguns seguem os arquétipos básicos, como Pauline, a
moça engraçadinha e Sam, um rapaz charmoso que vive flertando com Denise, mas
isso não chega a incomodar. Destaco aqui o Sr.Jonas, um funcionário da administração,
que começa somente como uma figura macabra para os vendedores mas acaba crescendo
em importância. Os mistérios de sua origem e dos seus métodos (ele defende The
Paradise a todo custo) vão crescendo, um ótimo gancho que me faz querer
assistir a segunda temporada.
A luz de tais personagens secundários ofuscou, até mais ou
menos o episódio cinco, o que eu não conseguia detectar como defeito da série:
a falta de defeitos do casal principal, Denise e Moray. Sim, os dois pisam na
bola com freqüência – afinal, assim não haveria nenhum tipo de conflito decente
na série, certo? – mas sim por errinhos de percurso, não falhas de
personalidade. Isso fez bastante falta quando o meu sentimento por Katherine
Glendenning passou da pena à raiva, pois eu não conseguia equilibrar ela e seu
vítima-algoz, Moray. É estranho, já que The Paradise é baseada em um romance de
um famoso escritor que nunca li (mas com certeza acreditava nos tais tons de
cinza ao invés de no preto-e-branco), Émile Zola.
De qualquer maneira, fica aí a sinalização no meu calendário
para a segunda temporada: quem diria que liquidações, fornecedores e preços
poderiam render boas histórias?
Eu adorei esse post, principalmente porque amo histórias antigas. Amo Jane Austen, amo essas épocas...
ResponderExcluirEu vou procurar essa série, fiquei realmente interessada *-*
Beijão, flor
http://penny-lane-blog.blogspot.com.br/
Essa é um pouco posterior, mas ainda assim vale a pena :)
ExcluirHum, acho que uma nova série acabou de entrar na minha lista... Eu amo adaptações de Jane Austen, assim como você, mas também filmes que se passam na Inglaterra nessa época.
ResponderExcluir@mmundodetinta
maravilhosomundodetinta.blogspot.com.br
Oie Isabel =D
ResponderExcluirAiw *----* Eu tenho qe assistir essa série. Adoro histórias que se passam em outras épocas.
Amei a dica! Mais uma para minha lista!
beijos;***
Ane Reis.
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