12 dezembro 2013

Orange is the new black



Já comecei Orange is the new black com uma encrenquinha de leve com a série: a escolha de protagonista é um pouco duvidosa. Piper, a supracitada, não é exatamente uma figura que se esperaria encontrar em uma prisão – com diploma universitário e dinheiro no bolso, ela leva uma vida bastante confortável no círculo de classe média alta de Nova Iorque.

Mas mesmo não fazendo parte das estatísticas gerais, todos temos passado, e o de Piper envolve, dez anos antes, um namoro conturbado com uma traficante internacional de drogas. Graças a uma confissão de alguém do cartel, ela é condenada a quinze meses em uma prisão federal por transportar dinheiro proveniente do tráfico, sendo retirada então de seu noivo, Larry (um escritor-em-potencial esperando que o seu próximo texto estoure) e de seu próspero negócio de sabonetes artesanais.



Chegando na prisão, começa a minha óbvia encrenquinha: lá, Piper é ainda menos do que uma exceção – ela é um acidente que diversas nuances de um sistema social complexo, parcial e injusto raramente deixam acontecer. Se a proposta de Orange is the new black é mostrar o cotidiano em uma prisão, porque colocar uma figurinha tão inusitada na linha de frente? Seria o mesmo medo do preconceito que impede que autores brasileiros ponham galãs negros em nossas novelas?



Esta pergunta não posso responder, mas temi, durante o primeiro episódio de Orange is the new black, que o seriado caísse em um erro que até o grande George Martin cometeu – o complexo do grande salvador branco, onde um membro de alguma espécie de maioria social chega e “resgata” os pobres e impotentes oprimidos. Como se os mesmos não soubessem o que é melhor para si mesmos ou não tivessem a capacidade de lutar.


Esse arquétipo é tão comum e não raro passa despercebido (até mesmo para uma certa autora que teme ter escorregado com isso em seu livro, Desconectada, mas também espera que isso seja corrigível na revisão), mas a sua feliz ausência me fez respirar aliviada. Não, mesmo que Piper seja a protagonista, lá pelo terceiro episódio vemos as luzes se desviando por mais da metade do tempo do programa de sua história e dramas, explorando melhor a vida pregressa de outras detentas.



Há Red, a poderosa russa que controla a cozinha – e, portanto, boa parte da prisão; Burset, uma transsexual que enfrenta o problema da falta de hormônios necessários para a manutenção de sua mudança; Dayanara, a segunda geração de sua família naquela prisão e Claudette, companheira de cela de Chapman que mais parece um baú de segredos trancados.



Se bem contadas, as histórias de todos nós podem ser interessantes – e é justamente isso que Orange is the new black é: uma história bem contada. Embora baseado em um livro de memórias (a sua autora, homônima da protagonista, passou meses encarcerada) não tenho como saber ao certo o seu nível de veracidade. De qualquer forma, funciona: os dramas de dezenas de mulheres presas são contados de forma desesperadora; mas os dramas que as mesmas tem entre si dentro da prisão quebram o tom pesado e muitas vezes assumem como uma comédia sarcástica, a comédia daqueles que, diante da falta de opção, colocam rir como sua escolha.


Com treze episódios, Orange is the new black foi um dos primeiros seriados a ser lançado por completo, todos os seus capítulos no mesmo dia. Sim, alguém (nesse caso, a Netflix) teve a brilhante e extremamente óbvia ideia de que deixar espectadores esperando por semanas a fio não é exatamente algo bom. Segunda temporada, maratona jogada na cama e pote de sorvete, venham logo.

1 comentários:

  1. Minha irmã resolveu ver esse seriado, e disse que é muito engraçado!

    Clara
    @mmundodetinta
    maravilhosomundodetinta.blogspot.com.br

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