Depois da morte de sua tia (sua única parente viva nos
Estados Unidos) a orfã de dezesseis anos Tessa parte para a Inglaterra de 1878
com a esperança de uma nova e melhor vida ao lado de seu amoroso e
irresponsável irmão. A recepção que recebe, porém, não é como a esperada: ao
invés de ter Nate a esperando no sujíssimo porto britânico, Tessa é recebida
pelas Irmãs Sombrias – duas feiticeiras incumbidas de treiná-la para utilizar seu
poder (cuja existência Tessa ignorava) a preparando para se casar com alguém
desconhecido e bastante poderoso chamado apenas de Magister.
Ao ser resgatada por Will e James, dois Caçadores das
Sombras (grupo de pessoas responsável por manter a Lei, evitando choques entre
os Habitantes do Submundo e os humanos) Tessa vê que nada é como ela imaginava:
todo um mundo sobrenatural se abre a sua frente. Ela não está sozinha ou é uma
aberração, mas seu poder é único o suficiente para ser almejado por muitos.
Acolhida pela boa Charlotte, diretora do Instituto de Londres (uma espécie de
quartel general dos Caçadores das Sombras) ela começa a perceber que nunca reaverá
sua vidinha antiga de volta.
Anjo Mecânico é o primeiro livro da série As Peças Infernais,
pré-sequencia para a mundialmente famosa
Os Instrumentos Mortais. Confesso que ao começar a ler o primeiro livro desta
última série, Cidade dos Ossos, quase desmaiava de sono – por isso, Anjo
Mecânico foi uma surpresa muito boa.
A narrativa é frenética – cortes em pontos essenciais,
passando de um foco de personagens a outro, fazem com que a leitura flua melhor
e largar o livro seja uma tarefa ingrata. As referências a poemas e livros
famosos na época não torna a leitura um hipertexto desagradável (como sempre
temo ao ver muitas notas de rodapé) e sim enriquecedor.
Não entendo a fascinação que muitos parecem ter pela
Inglaterra – na verdade, acho a Terra da Rainha bastante sem graça (salvo o
sotaque) se comparada a outros lugares no mesmo continente – mas as descrições
de Cassandra Clare da Londres vitoriana são fantasticamente elaboradas, dando
um toque bastante especial ao livro. Os costumes também são abordados: Tessa
fica bastante chocada com o comportamento de Charlotte – ela usa calças, luta e
fala de igual para igual com seu marido Henry.
Faz bastante parte da evolução da protagonista, aliás: no
início, Tessa é cheia de não-me-toques, dando demasiada importância ao que era
(ou não) esperado de uma dama naquela época. Com o tempo, ela vê que tal
comportamento não é adequado a sua nova vida, não servindo ao seu propósito de
achar seu irmão.
De forma geral, os personagens são agradáveis, exceto por
Will. Sei que arrogância e humor ácido em um par romântico para a mocinha em
potencial podem ser transformados em um grande charme – mas Casssandra Clare
passou da conta com Will. Usando como justificativa o seu passado desagradável,
ele se torna irascível em alguns pontos. A insinuação de um complicadissimo
triângulo amoroso entre ele, Tessa e James (que considera Will como seu irmão e
é bem mais agradável que o mesmo) também não me agrada muito – talvez seja
trauma de Crepúsculo e seus teams. Não gosto de gritinhos de fãs ao assistir
adaptações para o cinema – mesmo que, em alguns casos, eu mesma tenha que me
controlar para não da-los.