25 junho 2012

Espere a primavera, Bandini


 “Não escreva poemas de amor, evite a princípio aquelas formas que são muito usuais e muito comuns: são elas as mais difíceis, pois é necessária uma força grande e amadurecida para manifestar algo de próprio onde há uma profusão de tradições boas, algumas brilhantes. Por isso, resguarde-se dos temas gerais para acolher aqueles que se próprio cotidiano lhe oferece; descreva suas tristezas e desejos, os pensamentos passageiros e a crença em alguma beleza – descreva isso com sinceridade íntima, serena, paciente, e utilize, para se expressar, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de sua lembrança”.

Se eu fosse colocar aqui todos os trechos que considero brilhantes nessa pequena obra – uma coletânea de cartas escritas por Rainer Maria Rilke a um jovem poeta chamado Frank Kappus, que lhe pede conselhos sobre arte e vida em geral – eu a transcreveria inteira. Os conselhos dados por Rilke são geniais, são preciosos. Já abri um documento do Word milhares de vezes para tentar falar deste livro, mas minhas palavras nunca parecem honrá-lo.

Mas não estamos em outra tentativa de resenhar Cartas a um jovem poeta, e Espere a primavera, Bandini. Cronologicamente, esse é o primeiro livro de quatro da Saga de Arturo Bandini – como os livros do autor com seu mais conhecido e auto biográfico personagem ficaram conhecidos após a sua morte – relatando parte de sua infância no Colorado e o início dos conflitos de identidade que me fizeram detestá-lo em Pergunte ao pó.

Arturo Bandini é o mais velho de uma família pobre de imigrantes italianos, composta pelo pai bruto, Svevo; a mãe fanática pelo catolicismo, Maria e os dois irmãos, Federico e August. Os Bandini têm dívidas que sabem que nunca vão conseguir honrar. Svevo detesta o inverno – nessa época, é difícil conseguir trabalhos (ele é pedreiro). Maria encontra em rezar seu rosário sua única diversão e consolo. Federico alimenta a esperança de ganhar um barquinho no natal, mas sabe que esta é vã. August quer ser padre – não só pela batina em si, mas pelo conforto e pela comida. Arturo só quer roupas novas para impressionar Rosa, sua colega.

Antes que você possa dizer “mas eu já vi isso!” lhe respondo “não, não viu”. O domínio que Fante tem sob a linguagem é único. As ditas “emoções universais” são colocadas de um jeito tão próximo, tão claro, tão cru que é impossível não se envolver. Jonh Fante escreveu, em geral, romances auto-biográficos, relatando suas frustrações, desejos e paixões. Seus temas preferidos (a construção da identidade de imigrantes, a pobreza e a vida como escritor) eram todos tão profundamente pessoais que é difícil saber quem era Bandini e quem era Fante.

Ainda que inconscientemente, o autor seguiu o conselho de Rilke. E não poderia ter dado mais certo.

Nota: 5/5

8 comentários:

  1. Oi Isabel!
    Não conhecia o livro nem o autor, mas pelo que você contou este é um daqueles livros que a gente tem vontade de sair sublinhando todas as linhas. Gostei da dica.

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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  2. Eu realmente não conhecia esse livro. Não conhecia nem o autor. Mas acho fantásticas todas as dicas que você põe aqui - sejam de livros ou filmes.
    Esse aí me pareceu bem legal.

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  3. Não conhecia o livro também, achei bem interessante mesmo, além do mais, se trata sobre cartas, já me interessei de cara em ler isso ><

    Beijos
    Meu outro lado

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  4. A forma fervorosa como você explanou sobre a obra, assim como o modo que usou para indica-la, é de contagiar qualquer um. Achei interessantíssimo, e mesmo não tendo um maior conhecimento sobre o autor, senti-me instigada de verdade. Muito bom!

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br

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  5. Nunca li nada desse autor, mas o que foi colocado na resenha me deixou curiosa, confesso! rs.
    É sempre bom conhecer autores e histórias novas.
    Resenha - Amores Infernais, passa lá!
    manuscritodecabeceira.blogspot.com
    Bjs.

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  6. Gostei do nome do livro, e parece ser bom pelo que você diz. Quem me dera eu fosse uma boa leitora. :c

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  7. Hey Isa
    Não li nada do autor, apesar que já ouvi falar dele.
    Tenho curiosidade.. ele é autor do livro Pergunte ao Pó, né?
    Aquele que teve filme?
    Mas o filme não me interessou muito, não sou muito fã do Colin Farrell.

    O nome do rapaz é Svevo? Fiquei imaginando se a pronúncia é como se lê haha

    Mais uma dica ótima por aqui!

    bjs
    Nana - Obsession Valley

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  8. Oi Isabel!
    Não conhecia esse autor, mas fiquei curiosa a respeito do livro.
    E como sempre amo as suas dicas.
    Beijão.

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