16 janeiro 2012
L8: Pergunte ao pó
Mesmo o detestando, eu mandaria flores para o enterro de Arturo Bandini, personagem principal do livro Pergunte ao pó. Estas flores, porém, não seriam condolências, e sim uma doce ironia quanto às suas negadas origens. Explico: o talzinho insultava a sua amada latina, Camilla, por suas raízes, mesmo que suas duas únicas caracteristicas em comum fossem sua nacionalidade e imigração recente de seus antepassados.
Portanto, assim como os gangsteres italianos, eu mandaria flores para o enterro de Arturo Bandini, mesmo sabendo que se um dia nos encontrássemos, a inimizade seria despertada a primeira vista. Bandini é odioso: é daquele tipinho de artista (no caso, escritor) que não entende como o mundo ainda não se curvou perante a sua obra (mesmo que ela se resuma a um só conto) e ao invés de praticar, lamenta-se pelos cantos as injustiças e obstáculos que as musas, seu editor e quase inexistentes leitores estão lhe impondo. Pior: Bandini é um gastalhão, e não guarda um só centavo dos seus pagamentos pelas suas poucas publicações, gastando-os com futilidade e com a certeza de que, futuramente, aqueles trocados de direitos autorais serão substituidos por milhares e milhares de dólares graças a sua genialidade literária.
Eu poderia ter jogado o livro pela janela se Jonh Fante, autor do livro, não fosse tão bom. Por algumas horas, eu FUI Bandini, e assim como ele, vaguei confusa por debaixo do sol da Califórnia, martelei inutilmente uma máquina de escrever e desenvolvi uma relação de amor e ódio com uma garçonete latina. Na arte de fazer com que o leitor se sentisse no lugar do personagem Fante era mestre, e os sentimentos contraditórios de Bandini me acertavam repetidamente como vagões de um trem em alta velocidade. Não havia espaço para respirar: quando eu imaginava que Bandini havia se cansado de todo o seu drama, uma âncora de alguma de suas ações estúpidas me puxava para baixo, fazendo com que eu me afogasse de novo no mar da angústia desse tão estranho personagem. Desde as primeiras páginas, um enredo ou até mesmo o começo meio e fim do livro parece inexistente, mas isto acaba se revertendo em virtude: tive a sensação de que tudo estava ocorrendo enquanto eu estava lendo, tornando o livro muito mais real.
Não conhecia a obra de Jonh Fante, e nunca me interessei muito pelos escritos da Geração Beatnik, que foi inspirada por ele - a escrita sem fôlego de Jack Kerouac (o mais famoso escritor beat) me fez desistir de Os Vagabundos Iluminados na quinta página. Contudo, Pergunte ao pó é tão bom que resolvi parar de ignorar, em termos literários, o século XX.
Nota: 5/5
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Que interessante *O*
ResponderExcluirParece ser ótimo, que bela dica, vou tentar ler. hehe
Adorei (;
Sucesso SEMPRE diva, beeijão ;*
Ewerton Lenildo - Academia de Leitura
papeldeumlivro.blogspot.com
@Papeldeumlivro
Oi Isabel!
ResponderExcluirADOREI sua resenha, ficou, tipo, wow! Muito boa!
Não conhecia esse autor muito menos a geração que vc mencionou na resenha, vou pesquisar mais sobre ela!
Ótima dica, bem diferente do que eu costumo ler, mas me interessei!
Beijos!
Oi!
ResponderExcluirAdorei a sua resenha e fiquei super interessada em ler!
Obrigada pela visita lá no blog.
Seguindo aqui.
Beijos.
http://booksedesenhos.blogspot.com