27 julho 2013

Sábado + livro = < 3: Sob o céu do nunca



Dentre as coisas que mais me irritam na internet estão os conceitos de “poser” e “modinha”. O primeiro é assunto para páginas e páginas de Word, mas vamos tratar um pouquinho do segundo, já que ele se relaciona profundamente com o livro que vou resenhar hoje.

É sempre assim: basta um determinado assunto fazer sucesso que já se seguem toneladas e toneladas de obras com assuntos semelhantes. A maior parte das pessoas relaciona isso ao oportunismo dos autores, mas eu não vou tão longe: é uma mera questão editorial.

Depois do sucesso de Cinquenta tons, por exemplo, é evidente que vale mais a pena para as editoras o investimento em livros do mesmo gênero (e, de preferência, com capa semelhante) – vários e vários leitores ocasionais sedentos por algo que mate a saudade de sua amada série com certeza compensarão o investimento financeiro.


Irreal demais é pensar que um autor, em um período ridiculamente curto de meses, conseguiria escrever um livro de qualidade razoável só porque o livro X fez sucesso. É claro que isso existe, mas é mais o caso de oportunismo descarado, como paródias e manuais. Mais distopias não foram escritas por causa de Jogos Vorazes (distopia é um gênero antigo e divertidíssimo de escrever), mais distopias foram publicadas por causa de Jogos Vorazes – isso é bastante diferente.

Mas existe a exceção que prova a regra, e não consegui evitar sentir que Sob o céu do nunca é uma dessas.

Aria é uma cantora de dezessete anos que vive em Reverie, uma espécie de domo que abriga e salva uma parte do restante da humanidade das tempestades de Aether, rajadas de fogo lindas, coloridas e mortais. Para evitar o tédio, os cientistas dos domos no mundo inteiro criaram os Reinos, ambientes virtuais onde se sente, cheira e vê o que quiser, sem esforço, frustração e riscos.

A mãe de Aria, uma cientista, está em outro domo há semanas, sem dar notícias – aparentemente, as comunicações foram cortadas. Depois de um terrível incidente envolvendo a garota e Soren, filho de um dos homens mais poderosos do domo, ela é jogada para o lado de fora, apelidado carinhosamente de “a loja da morte”.



Acreditando que vai morrer em breve de alguma doença ou até mesmo das tempestades se não voltar para o domo e morrendo de saudades da mãe, Aria se vê completamente indefesa até encontrar Peregrine – um “selvagem”, irmão do líder de sua tribo, cujo sobrinho foi seqüestrado pelo povo de Aria. Confesso que torci o nariz quando vi a situação que se formava – cara forte e cheio de conhecimento, menininha indefesa – mas isso é bem trabalhado por Veronica Rossi, não chegando a ser um problema. Eu só queria que ela tivesse tentado reverter os estereótipos, mas não podemos pedir tudo sempre, não é mesmo?

De qualquer maneira, as semelhanças com Jogos Vorazes começam a ser grandes demais para ser coincidência: assim como Katniss, Aria canta muito bem; Peregrine é maravilhoso com o arco e flecha e até mesmo uma situação icônica é reproduzida, com Aria tentando ajudar pegando frutinhas que, na verdade, são venenosas.

É.

Não consegui deixar de me irritar bastante com isso, confesso: coincidências acontecem, mas em alguns níveis são demais. De qualquer maneira, gostei da distopia criada pela autora, que brinca um pouco com a nossa atual tendência de não nos voltarmos ao real, que pode ser sentido e, consequentemente, machucar. Ela adicionou alguns toques de ficção científica com diversas habilidades adquiridas dos Selvagens, geralmente associadas aos sentidos, permitindo que todos sobrevivam de forma mais fácil.

Já o óbvio romance entre Aria e Peregrine me irritou um pouquinho: eu sinceramente gostaria de um livro Young Adult sem eles. De forma geral, Sob o céu do nunca não passa de razoável, mas sua construção de mundo provavelmente me fará ler os dois próximos livros da série.


Uma dica: comprei a versão em inglês porque era a única disponível na livraria no dia, mas a capa do brasileiro é muito mais linda – suas cores me lembram bastante o por do sol do meu sertão...

3 comentários:

  1. Nossa.. Que postagem!
    Confesso que a li e reli para compreender melhor a sua intenção.
    E concordo com você, aliás, que postagem inteligente.
    É exatamente isto. O comércio aproveita dos momentos para publicar gêneros que bombam no momento. Faz parte do capitalismo, não é mesmo?

    Eu não li Jogos Vorazes, logo, estou a mercê de tudo isto, mas quero muito ler ambos.

    Beijos, Lu ❤
    http://luizando.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Adorei o post, mas não gostei de saber que é tão influenciado por Jogos Vorazes. Me incomoda um pouco o exagero.

    Beijos,
    Carissa
    www.carissavieira.com

    ResponderExcluir