10 julho 2013

Quarta-feira aleatória: The Paradise (série)



Por algum tempo, séries de época para mim se resumiam naquelas que mostravam a ociosa (mas não entediante) vida das elites da época vitoriana.

Ainda bem que o novelão Downton Abbey desmistificou isso na minha cabecinha, abrindo meus horizontes para produções que retratam épocas mais recentes e a classe operária – mas que não perdem a magia e sotaque bonito. 
Confesso que as adaptações de Jane Austen (com sua leve e quase imperceptível ironia) ainda ocupam o lugar número um no coração, mas o charme também é presente naquelas que retratam não as relações sociais da elite inglesa, e sim as mudanças – protagonizadas por gente de todo tipo e origem.



As lojas de departamento fizeram parte da consolidação da cultura de consumo em praticamente todo o lugar, alterando a tradição e minando muitos pequenos comerciantes e seus exclusivos (mas de qualidade) produtos. Eu já havia começado a assistir Mr.Selfridge’s, que conta a história da abertura da primeira loja de departamentos em Londres (que existe até hoje) mas o andamento da série e seus personagens não me agradaram muito para passar do terceiro episódio. Aí achei The Paradise que, apesar de alguns defeitos, superou minhas expectativas.



Denise Lovett é uma garota do interior da Inglaterra que cansa do tédio de sua cidade natal e vai para a cidade grande esperando trabalhar com seu tio, um talentoso alfaiate. O Sr.Lovett, porém, não pode acolhe-la: graças a loja de departamentos vizinha, The Paradise, os negócios vão mal – os preços e variedade do estabelecimento do selfmade man John Moray parecem atender mais a demanda dos clientes do que sua exclusividade e tradição.



Não querendo voltar para casa, Denise vai atrás de emprego justamente na loja do “inimigo”, decisão que deixa seu tio triste por um período, mas não por muito tempo: ele percebe que a sua cidade de origem era, de fato, pequena demais para sua sobrinha. Denise logo se mostra uma vendedora habilidosa e cheia de idéias, com uma criatividade tão viva que atraí inveja de Clara, sua moderna e cheia de segredos colega de trabalho e até mesmo da Srta.Audrey, sua chefe de departamento organizada e dedicada, mas sem muita imaginação.



Ela obviamente também não passa despercebida ao Sr.Moray, que logo percebe o seu potencial e inteligência. Um romance entre os dois é o óbvio e vai se desenvolvendo ao curso da série, mas fiquei bastante feliz em constatar que o assunto não toma, em nenhum momento, a cena do que acontece em The Paradise.

Porque, obviamente, um romance patrão-empregada é muito pequeno se comparado a inovação louca e os problemas que aquele novo modelo de consumo traz: a elite resistente a mudanças é representada por Katherine Glendenning, a grande dama local, cortejada (e enrolada) por Moray há meses. Em uma atitude superior típica, Katherine se recusa a “apadrinhar” a loja (algo essencial para a conquista de clientes nas altas rodas) temerosa de que comprar ao lado da filha do açougueiro estrague sua imagem.


Mas não só isso. Logo a órfã de mãe da alta sociedade percebe que pode usar a sua presença em The Paradise como um ardil para conquistar Moray de uma vez. E mais: com um imóvel alugado e quase sem possibilidade de expansão, Moray depende do banco do Sr.Glendenning para tornar The Paradise a grande loja para a qual tem potencial.


Cada episódio apresenta um pequeno conflito a ser resolvido em The Paradise, além de seguir a linha comum da história. Os personagens secundários, outros funcionários da loja, são maneirissimos, bem construídos e com personalidade própria. Alguns seguem os arquétipos básicos, como Pauline, a moça engraçadinha e Sam, um rapaz charmoso que vive flertando com Denise, mas isso não chega a incomodar. Destaco aqui o Sr.Jonas, um funcionário da administração, que começa somente como uma figura macabra para os vendedores mas acaba crescendo em importância. Os mistérios de sua origem e dos seus métodos (ele defende The Paradise a todo custo) vão crescendo, um ótimo gancho que me faz querer assistir a segunda temporada.



A luz de tais personagens secundários ofuscou, até mais ou menos o episódio cinco, o que eu não conseguia detectar como defeito da série: a falta de defeitos do casal principal, Denise e Moray. Sim, os dois pisam na bola com freqüência – afinal, assim não haveria nenhum tipo de conflito decente na série, certo? – mas sim por errinhos de percurso, não falhas de personalidade. Isso fez bastante falta quando o meu sentimento por Katherine Glendenning passou da pena à raiva, pois eu não conseguia equilibrar ela e seu vítima-algoz, Moray. É estranho, já que The Paradise é baseada em um romance de um famoso escritor que nunca li (mas com certeza acreditava nos tais tons de cinza ao invés de no preto-e-branco), Émile Zola.

De qualquer maneira, fica aí a sinalização no meu calendário para a segunda temporada: quem diria que liquidações, fornecedores e preços poderiam render boas histórias?

4 comentários:

  1. Eu adorei esse post, principalmente porque amo histórias antigas. Amo Jane Austen, amo essas épocas...
    Eu vou procurar essa série, fiquei realmente interessada *-*
    Beijão, flor

    http://penny-lane-blog.blogspot.com.br/

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    1. Essa é um pouco posterior, mas ainda assim vale a pena :)

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  2. Hum, acho que uma nova série acabou de entrar na minha lista... Eu amo adaptações de Jane Austen, assim como você, mas também filmes que se passam na Inglaterra nessa época.
    @mmundodetinta
    maravilhosomundodetinta.blogspot.com.br

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  3. Oie Isabel =D

    Aiw *----* Eu tenho qe assistir essa série. Adoro histórias que se passam em outras épocas.

    Amei a dica! Mais uma para minha lista!

    beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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