24 dezembro 2014

Especial de natal de Black Mirror: White christmas


Especiais de natal de seriados não me atraem muito. É muito difícil gostar de uma coisa tão distante de mim – sem rabanada, com neve e maratonas de compras. É diferente dos filmes, porém – esses tem um gosto irremediável de infância.

Mas mesmo que especiais de natal não sejam minha praia, Black Mirror é. A série britânica – que só peca pela mínima quantidade de episódios por temporada, cada um contando uma história diferente – é provavelmente a minha preferida, e quase sai correndo pela sala ao descobrir o lançamento de White Christmas, o especial de natal que precede a tão aguardada terceira temporada.


Mas é bom lembrar que estamos falando de Black Mirror – ou seja, aqui não há nada de corridas desesperadas ao supermercado em busca da ceia ou aventuras sessão da tarde por de presentes. Para aqueles que não estão familiarizados, Black Mirror é, no melhor estilo Twilight Zone, uma série de fábulas, mas que ao invés de alertar sobre a moral e os bons costumes, tece alarmantes previsões sobre a tecnologia.

O mais fantástico sobre a série é (com a notável exceção do segundo episódio da primeira temporada) o jeito com que o pequeno mundo de cada episódio é construído: longe das megalomaníacas e organizadas distopias, os autores simplesmente inserem uma tecnologia ou duas diferentes (e que provavelmente estarão disponíveis num futuro próximo) no nosso mundo de hoje, tornando tudo extremamente crível. No caso de White Christmas, estamos falando do Z-Eye – uma tela de computador, só que vista através de seus olhos, uma versão um pouco mais avançada do Google Glass. Além das óbvias vantagens – a eliminação de celulares, por exemplo – o Z-Eye permite ao usuário o bloqueio de pessoas na vida real: não se pode ver nem ouvir quem está bloqueado. Muito útil para desconhecidos chatos. Enlouquecedor caso um ente querido.


Nesse cenário temos nossos dois protagonistas: Joe e Matt. Trabalhando em algum lugar remoto e cheio de neve, os dois passam um desanimado natal juntos, no qual Matt improvisa um jantar com umas garrafas de vinho e pergunta a Joe sua história – afinal, para estar ali, sem o Z-Eye, ele provavelmente fez algo bem ruim.

A partir daí White Christmas se desdobra em diversos questionamentos sobre ética e privacidade. Matt, por exemplo, tinha como hobby ajudar vários caras em um grupo a ficar com mulheres – uma espécie de Julien Blanc menos agressivo, mas com total acesso ao que o rapaz da vez vê através do Z-Eye, passando-lhe conselhos através de um ponto eletrônico.


Não posso falar muito mais sem entregar partes significativas do enredo, mas White Christmas é, até agora, meu especial de natal favorito – embora não ganhe o posto de número um se considerarmos os outros episódios da série. Com um final bem construído e surpreendente, ele não falha no estilo Black Mirror de deixar o espectador boquiaberto.


Tem neve? Sim. Mas de qualquer maneira é fácil de se identificar com os questionamentos feitos por White Christmas – que não é, de maneira alguma, seu especial de natal comum.

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