16 junho 2013

Sobre revistas, Línguas de Fogo e revisão



Provavelmente por causa da internet, seus blogs e milhares de fontes fabulosas de informação, não sou mais uma leitora voraz de revistas. Embora não as dispense caso a capa me interesse ou esteja entediada em um consultório médico, mensalmente raramente passo da minha assinatura de Galileu, dos gibis sagrados da Turma da Mônica e de uma folheada na Máxima.

Pode até parecer muito quando eu as listo aqui, mas não é nem de longe comparável ao feito na minha infância. A supracitada Turma da Mônica sempre foi presente na minha vida, mas durante um período, meu quarto sempre foi lotado de Recreios, Caprichos e qualquer outra publicação periódica infanto-juvenil que você possa achar no caixa do supermercado – conseguidas ora de bom grado, ora com algum choramingo (é impressionante como quatro ou cinco dessas revistas equivalem ao preço de um livro – geralmente graças a um brinquedinho de plástico que perde a graça depois de cinco minutos e repousará quebrado e empoeirado em uma caixa qualquer até a próxima faxina geral).


Uma das minhas favoritas na época era a revista WITCH, que misturava as matérias comuns sobre beleza, comportamento e moda com curiosidades Wicca e uma HQ. Embora eu adorasse coisas Wicca na época, esta última era a minha favorita, me ganhando ao contar a história de cinco garotas bruxinhas, quatro das quais “controladoras” dos elementos.



Por isso tive uma sensação de deja vú boa no início da leitura de Línguas de Fogo, primeiro volume da série As crônicas de Mýriade da autora Karen Soarele. Nem tudo são flores, porém – ao escrever acabo de perceber que um enorme e corrigível erro está se tornando padrão dentre novos autores nacionais.

Aisling é uma jovem camponesa que vive em uma área bastante remota de Vulcannus, um dos reinos mais poderosos de Mýriade. Vulcannus, através do controle do fogo, subjugou outras nações cujos habitantes controlam outros elementos menos destrutivos.

Karen Soarele não perde muito tempo com preâmbulos: Línguas de Fogo começa logo com a ação. A introdução não fez tanta falta quanto ao universo da série, mas talvez tenha sido a razão pela qual não consegui sentir nada pela personagem de Aisling – o livro é tão faltoso em descrever a sua personalidade que não há inspiração de ódio ou amor. Seu melhor amigo, Dharon, é o guerreiro local, e em sua missão de proteger a aldeia, é ferido por uma Salamandra de Fogo, criatura de veneno mortal. Aí entra a tal missão da garota: achar o antídoto para Dharon no reino inimigo.

É uma crença comum a de que a revisão de um livro perpassa somente pelos aspectos mais básicos da escrita: gramática e estrutura frasal. Ah, quem dera! Situações devem ser mudadas e melhoradas, personagens cortados e acrescentados (até mesmo JK Rowling o fez) e, nos bons casos, uma parte considerável das cenas reescrita algumas vezes.



É um processo longo, cansativo e sortudo é o autor que não se incomoda com ele. Desde que comecei (graças ao blog) ler mais autores nacionais, só consigo contar três obras (A arma escarlate, Cisne e Rio 2054) cuja revisão não estivesse faltosa. Que deja vú irritante! Não falta talento, imaginação e muito menos história – falta o polimento, aquele detalhezinho que, querendo ou não, faz uma diferença tão gigantesca e estúpida que não dá para ignorar.

Voltando a Línguas de Fogo, o livro tinha tudo para ser adorável – principalmente por me lembrar bastante da minha infância e pré adolescência com toda a coisa dos quatro elementos – mas graças a situações de resoluções fáceis e inocentes, não consegui me conectar a leitura. Aisling, como já disse, não tem sua personalidade muito descrita: embora seja necessário um bocado de coragem, lealdade e amor para embarcar nessa sua tal missão (sendo ela uma menina super protegida que nunca foi mais longe do que a cidade vizinha) faltou aquela parte impalpável dos pensamentos da garota, a base fundadora de todas as suas qualidades e defeitos.



A escrita é bastante irregular – impressionantemente fluida e boa em alguns momentos, truncada em outros. Já Mýriade, o universo ficcional, é fantástico! É perceptível em cada linha o zelo em seu planejamento que, apesar de não conter nada extremamente inovador, é único e bastante adequado a um infanto-juvenil. Por favor, Kindle, chegue logo – quero ler A rainha da primavera, conto promocional no mundo de Aisling que pode ser baixado gratuitamente na internet.


Leitores mais antigos do blog, percebem a constância da reclamação? É como se eu possuísse uma forma de bolo para a maior parte dos nacionais que li nos últimos meses. Não, não possuo, e me dói ter que repetir isso – Línguas de Fogo tem um potencial fantástico, não desperdiçado (afinal, é uma série de cinco livros) mas prefiro acreditar que ainda inexplorado. Aos aspirantes a autores (inclusive a mim mesma) fica somente o apelo: REVISEM, jovens padawans! 

4 comentários:

  1. Confesso que meu interesse por ficção nacional é bem pequeno (com exceção das crônicas), mas dos poucos que li até hoje, parece mesmo que faltou talvez ler duas ou três vezes algum parágrafo.

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  2. Oi, tudo bom?
    Minha época de infância eu amava a Witch (tenho a coleção todinha *-*) Smack e Capricho.. Hoje em dia se eu compro a Lola uma vez ou outra já é muito...
    Tenho alguns problemas com revisões de livros nacionais também, sofro com cada coisa que acho. Cisne não tem esse problema e eu o adoro mais ainda por isso!
    Passando pra te avisar que meu blog, em parceria com a autora FML Pepper e outros 3 blogs, está sorteando um KINDLE!
    Vai perder?
    Beijos
    Endless Poem

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    1. Cisne é umc coisa linda! Como assim aquela bíblia de novecentas páginas não tem um erro de revisão (que eu tenha achado, pelo menos)? É muito amor <3

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  3. Oi Isabel, adorei esse texto!
    Primeiro: eu era como você :) Minhas revistinhas semanais não faltavam.
    Segundo: Acho que você descobriu o que faltava nessa equação. Acabei de resenhar um livro lá no blog também em que tive a mesma sensação: é bom, bem escrito, mas faltou algo. Talvez esse "polimento" que você tenha citado. Adoro conhecer obras dos autores da casa, mas é difícil encontrar um que seja "perfeito".
    Beijinho

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