Depois de muito bravamente cuspir um
texto de sessenta mil palavras em um mês e meio (mais detalhes sobre
aqui), a saga de Desconectada, o meu livro, continuou: eu
precisava partir para a revisão.
O problema é que nunca revisei e não
tinha muita ideia do que fazer – eu sabia que era burro começar
por “line editing”, ou seja, o processo de polir a linguagem, em
um livro que com certeza seria mais cortado e remendado do que uma
celebridade de Holywood. Depois de uma leitura frustrada, fui à web
procurar alguma solução, esbarrando com o razoavelmente célebre
curso de revisão de Holly Lisle.
Tive que passar sem pringles e
biscoitinhos pelo mês para pagar a primeira taxa, mas valeu a pena –
o curso tirou um pouquinho do peso de revisar pela primeira vez um de
seus manuscritos dos ombros. Não posso reproduzir literalmente nada
do curso aqui por motivos de copyright, mas eis o que ando fazendo e
aprendendo:
Disso eu já sabia – é óbvio que um
livro (seja ele um vômito de NaNoWriMo como no meu caso ou um
trabalho cuidadoso de anos e anos) vai ter os chamados problemas
macro, ou seja, aqueles que exigirão enormes cortes e acréscimos.
Porque então começar por corrigir aqueles probleminhas de português
se aquela frase mal-escrita poderá nem mesmo existir em versão
futura? Desconectada tem mais problemas macro do que eu possa
contar, felizmente ligados mais à novos trechos e subplots do que à
deletar encheção de linguiça, mas seguimos caminhando. E isso me
leva a segunda coisa...
Se você não odeia seu primeiro
rascunho, você está fazendo isso errado.
Hoje escutei o podcast Iradex com
Eduardo Spohr, onde o autor diz ter reescrito a sua última obra,
Anjos da Morte (continuação da trilogia Filhos do Éden,
cujo primeiro foi resenhado aqui), cerca de dez vezes. John Green é
um editor compulsivo, e até mesmo os chamados “gênios” da
ficção literária tradicional não deixam de revisar vezes e mais
vezes a sua obra.
Porque isso? Amigo, não importa o quão
bom você seja: o seu primeiro rascunho VAI ser um lixo. Essa é uma
das verdades universais, ainda que Charles Bukowski gostasse de dizer
o contrário. Internalizei isso durante as minhas participações no
NaNoWriMo, mas se dar conta de que o seu filho além de feio, é
burro e mal-feito é um pouco chocante. A vontade é, claro, atear
Desconectada em fogo e deletar todos os meus milhares de
backups, mas respiro fundo e digo que ele tem jeito ainda.
Ou eu pelo menos acho.
Imprima o seu manuscrito.
Eu, pobre crédula, acreditava que a
tal da impressão do manuscrito só precisava ser feita na época de
revisão linha por linha. Holly, porém, é categórica em ordenar
que os “alunos” de seu curso online o façam, e me vi com um
calhamaço de papel de fazer ativista ecológico chorar.
Mas de fato, a minha “professora”
estava certissima – ainda que eu tenha me habituado a ler no Kindle
nos últimos meses e lesse bastante ebooks ilegais no computador
antes da era Submarino (ops), o sentimento de ter um bloco de papel e
tinta nas mãos é único e irrecriável. Ajuda sim, a perceber os
erros, mesmo os grandes, que na tela se escondem nos pixels.
E depois de imprimir, leia, leia e
leia, procurando pelos erros.
Saiu do blog da Veronica Roth, autora de Divergente - e acho que ela saca das coisas. |
Se você tem qualquer respeito por sua
condição de aspirante à escritor,você lê bastante – o que pode
não significar cem livros por ano para muita gente, mas pelo menos
ter a leitura como parte de seus cotidiano.
Portanto, como um bom leitor, você
deve saber identificar os erros no seu manuscrito – onde ele está
fraco, onde ele pode ser polido, o que você deve jogar nas
profundezas do tártaro para sempre. No curso de Holly Lisle, a coisa
que mais fiz nas últimas seis semanas foi ler meu manuscrito, e o
tanto de erros que não percebi de primeira é impressionante.
Procurei por divergências entre o que eu queria escrever e realmente
escrevi; personagens e itens criados mas abandonados no meio do
caminho; coincidências pouco críveis; personagens quebrados;
roteiro fraco e por aí vai. Tudo repetitivo e levemente estressante,
mas irremediavelmente divertido – afinal, é por isso que eu
escrevo.
Oie Isabel
ResponderExcluirque show esse post. Eu preciso dizer que nem sei a sinopse do seu livro, mas já estou eufórica master para ler. Amo o seu estilo de escrever aqui no blog, e tenho certeza que seu livro será um sucesso. Gente, dá muito trabalho escrever um livro, só de ler o passo a passo para revisar e etc, cansei rs eu queria muito escrever uma distopia que já tenho na mente, mas certamente se começasse iria me frustar com a falta de tempo, e também desanimar com tantos acertos que teriam que ser feitos no manuscrito. Nha, prefiro ler histórias maravilhosas, e um dia quem sabe eu consiga pelo menos colocar no papel minhas ideias, só para fazer meus filhos lerem rs
Sucesso ai na revisão \o
bjos
www.mybooklit.com
Acho que boa parte das pessoas acha que o escritor um dia acordou, disse VOU ESCREVER UM LIVRO GENIAL e escreve de uma vez e pronto. Confesso que só de pensar na parte da edição já acabo com um motivo pra escrita não ir pra frente, mas ando tentando dar um jeito nisso!
ResponderExcluirhahah Dói na alma só de pensar na revisão! Hoje finalmente (depois de reler o manuscrito quinhentas vezes) fiz o primeiro esquema das mudanças principais e ai... Vai dar trabalho, vai ser estressante, mas é divertido - é o que vale, né?
ExcluirUau. E essa é só a parte 1, né?
ResponderExcluirNunca imaginei que fosse assim tão trabalhoso o processo de revisão de um livro, te confesso, mas já posso imaginar a obra prima que seu livro vai ficar, Isabel. Já te acho uma guerreira por conseguir escrever um livro pelo NaNoWriMo. Eu consegui acompanhar de um modo legal nos três primeiros dias, depois puft! Acabou a inspiração e eu comecei a achar tudo o que eu escrevia uma verdadeira porcaria, então desisti. :P
Mas enfim, te desejo sorte nessa nova etapa que, meu Deus, exige muita dedicação e paciência. Hahahaha!
Beijinhos! www.primeiro-livro.com