02 janeiro 2014

Diário da revisão, parte I



Depois de muito bravamente cuspir um texto de sessenta mil palavras em um mês e meio (mais detalhes sobre aqui), a saga de Desconectada, o meu livro, continuou: eu precisava partir para a revisão.

O problema é que nunca revisei e não tinha muita ideia do que fazer – eu sabia que era burro começar por “line editing”, ou seja, o processo de polir a linguagem, em um livro que com certeza seria mais cortado e remendado do que uma celebridade de Holywood. Depois de uma leitura frustrada, fui à web procurar alguma solução, esbarrando com o razoavelmente célebre curso de revisão de Holly Lisle.

Tive que passar sem pringles e biscoitinhos pelo mês para pagar a primeira taxa, mas valeu a pena – o curso tirou um pouquinho do peso de revisar pela primeira vez um de seus manuscritos dos ombros. Não posso reproduzir literalmente nada do curso aqui por motivos de copyright, mas eis o que ando fazendo e aprendendo:

Começar pelo macro, não pelo micro.



Disso eu já sabia – é óbvio que um livro (seja ele um vômito de NaNoWriMo como no meu caso ou um trabalho cuidadoso de anos e anos) vai ter os chamados problemas macro, ou seja, aqueles que exigirão enormes cortes e acréscimos. Porque então começar por corrigir aqueles probleminhas de português se aquela frase mal-escrita poderá nem mesmo existir em versão futura? Desconectada tem mais problemas macro do que eu possa contar, felizmente ligados mais à novos trechos e subplots do que à deletar encheção de linguiça, mas seguimos caminhando. E isso me leva a segunda coisa...

Se você não odeia seu primeiro rascunho, você está fazendo isso errado.
Hoje escutei o podcast Iradex com Eduardo Spohr, onde o autor diz ter reescrito a sua última obra, Anjos da Morte (continuação da trilogia Filhos do Éden, cujo primeiro foi resenhado aqui), cerca de dez vezes. John Green é um editor compulsivo, e até mesmo os chamados “gênios” da ficção literária tradicional não deixam de revisar vezes e mais vezes a sua obra.

Porque isso? Amigo, não importa o quão bom você seja: o seu primeiro rascunho VAI ser um lixo. Essa é uma das verdades universais, ainda que Charles Bukowski gostasse de dizer o contrário. Internalizei isso durante as minhas participações no NaNoWriMo, mas se dar conta de que o seu filho além de feio, é burro e mal-feito é um pouco chocante. A vontade é, claro, atear Desconectada em fogo e deletar todos os meus milhares de backups, mas respiro fundo e digo que ele tem jeito ainda.

Ou eu pelo menos acho.



Imprima o seu manuscrito.

Eu, pobre crédula, acreditava que a tal da impressão do manuscrito só precisava ser feita na época de revisão linha por linha. Holly, porém, é categórica em ordenar que os “alunos” de seu curso online o façam, e me vi com um calhamaço de papel de fazer ativista ecológico chorar.
Mas de fato, a minha “professora” estava certissima – ainda que eu tenha me habituado a ler no Kindle nos últimos meses e lesse bastante ebooks ilegais no computador antes da era Submarino (ops), o sentimento de ter um bloco de papel e tinta nas mãos é único e irrecriável. Ajuda sim, a perceber os erros, mesmo os grandes, que na tela se escondem nos pixels.

E depois de imprimir, leia, leia e leia, procurando pelos erros.


Saiu do blog da Veronica Roth, autora de Divergente - e acho que ela saca das coisas.


Se você tem qualquer respeito por sua condição de aspirante à escritor,você lê bastante – o que pode não significar cem livros por ano para muita gente, mas pelo menos ter a leitura como parte de seus cotidiano.
Portanto, como um bom leitor, você deve saber identificar os erros no seu manuscrito – onde ele está fraco, onde ele pode ser polido, o que você deve jogar nas profundezas do tártaro para sempre. No curso de Holly Lisle, a coisa que mais fiz nas últimas seis semanas foi ler meu manuscrito, e o tanto de erros que não percebi de primeira é impressionante. Procurei por divergências entre o que eu queria escrever e realmente escrevi; personagens e itens criados mas abandonados no meio do caminho; coincidências pouco críveis; personagens quebrados; roteiro fraco e por aí vai. Tudo repetitivo e levemente estressante, mas irremediavelmente divertido – afinal, é por isso que eu escrevo.


4 comentários:

  1. Oie Isabel
    que show esse post. Eu preciso dizer que nem sei a sinopse do seu livro, mas já estou eufórica master para ler. Amo o seu estilo de escrever aqui no blog, e tenho certeza que seu livro será um sucesso. Gente, dá muito trabalho escrever um livro, só de ler o passo a passo para revisar e etc, cansei rs eu queria muito escrever uma distopia que já tenho na mente, mas certamente se começasse iria me frustar com a falta de tempo, e também desanimar com tantos acertos que teriam que ser feitos no manuscrito. Nha, prefiro ler histórias maravilhosas, e um dia quem sabe eu consiga pelo menos colocar no papel minhas ideias, só para fazer meus filhos lerem rs
    Sucesso ai na revisão \o
    bjos
    www.mybooklit.com

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  2. Acho que boa parte das pessoas acha que o escritor um dia acordou, disse VOU ESCREVER UM LIVRO GENIAL e escreve de uma vez e pronto. Confesso que só de pensar na parte da edição já acabo com um motivo pra escrita não ir pra frente, mas ando tentando dar um jeito nisso!

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    1. hahah Dói na alma só de pensar na revisão! Hoje finalmente (depois de reler o manuscrito quinhentas vezes) fiz o primeiro esquema das mudanças principais e ai... Vai dar trabalho, vai ser estressante, mas é divertido - é o que vale, né?

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  3. Uau. E essa é só a parte 1, né?
    Nunca imaginei que fosse assim tão trabalhoso o processo de revisão de um livro, te confesso, mas já posso imaginar a obra prima que seu livro vai ficar, Isabel. Já te acho uma guerreira por conseguir escrever um livro pelo NaNoWriMo. Eu consegui acompanhar de um modo legal nos três primeiros dias, depois puft! Acabou a inspiração e eu comecei a achar tudo o que eu escrevia uma verdadeira porcaria, então desisti. :P
    Mas enfim, te desejo sorte nessa nova etapa que, meu Deus, exige muita dedicação e paciência. Hahahaha!

    Beijinhos! www.primeiro-livro.com

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