Garota Exemplar (livro)

Garota Exemplar foi um aqueles livros que causou um burburinho na blogosfera literária à época de seu lançamento – a mistura de qualidade da obra em si com a sempre ótima divulgação da Intrínseca tornam isso um caminho óbvio.

Demorei um pouquinho, mas finalmente li o livro de que tanto falaram – um suspense policial com pitadas de drama familiar que vale muito a pena.

Começamos com Amy e Nick, um casal americano que poderia estar em uma série moderninha qualquer em Nova Iorque – ambos jornalistas, mantém um estilo de vida bastante high society graças aos pais de Amy, autores de uma série de livros infantis de muito sucesso chamada Amy Exemplar.

Ou poderiam todos os verbos no paragrafo acima estar no passado? Porque quando o livro começa, Amy Exemplar não vende mais tão bem assim, o casal perdeu seus empregos na cidade e agora vivem na pequena terra natal de Nick, onde até um pouco de tempo antes ele cuidava da mãe adoentada. Com um estilo de vida mediocre comparado o que estão acostumados e as comuns rupturas que surgem em um casamento, o relacionamento dos dois está em decadência – até que algo chacoalha e muda a tediosa vida de Nick na cidadezinha: o desaparecimento de Amy.

Muitos livros – sobretudo os Young Adults – apostam em narrações alternadas, não raro de dois lados de um relacionamento romântico. Isso não necessariamente me irrita ou agrada – geralmente sou bem indiferente – mas Garota Exemplar é um exemplo maravilhoso de como isso pode ser usado a favor do escritor.

A partir da data de desaparecimento de Amy temos a narração de Nick, com alguns flashbacks mostrando a sua opinião sobre o relacionamento dos dois. Após cada um desses capítulos, porém, temos também entradas de diário de Amy, que espalham-se através dos anos em que ela conheceu o seu marido. Cada um deles mostra uma luz completamente diferente sob a vida conjugal, e me vi alternando entre apoio a Nick e a Amy, entre acreditar em cada uma das suas verdades.

Amy exerce o fascínio usual da riqueza, da inteligência, de uma vida tão desprovida de preocupações materiais que sim, é impossível não ter inveja. Dizem por aí que a comparação é inimiga da felicidade, e Nick – que sabia que nunca chegaria a ter a bagagem de sua esposa – internalizava isso; fazendo com que o leitor se identifique, se lembre daquela pessoa que faz algo melhor do que você (e sempre fará), sentindo na boca o gosto agridoce da inveja ressentida, que não pode ser mudada, apenas aceitada, como um fato tão imutável no universo como a gravidade.

É desesperador: em quem acreditar? Porque Amy desapareceu? A contrução de personagens é tão perfeita e tão crível, com uma crueza e sinceridades maravilhosa dos narradores que é difícil acreditar que aquela não é uma história real e o livro, registros do que aconteceram à época.

Porque sim, como se espera de um desaparecimento destes, a história de Amy ganha notoriedade, e o leitor torna-se parte do público contido no livro, que acompanham as buscas como aqueles que assistiam bruxas na fogueira, ansiosos por que alguém seja condenado e responsabilizado. No final, tudo é mais banal e ao mesmo tempo maior que se esperava, uma crônica do dia a dia com algo que nos recusamos a aceitar que possa ser a história de nossos vizinhos.

Garota Exemplar é um dos melhores suspenses que já li na minha vida, e qualquer palavra mais sobre o enredo poderia entregar algum spoiler importante e estragar a leitura de alguém que pretenda lê-lo. Prepare-se para dor no pescoço e vista cansada – dificilmente você conseguirá parar de ler até descobrir o destino de Amy, a garota exemplar.