
"Sensibilizados" (ou não) com a falta de perspectivas reservadas a maioria dos jovens americanos, a ScoreCorporation se prontifica a mudar isso - mas de uma maneira bem custosa e peculiar: o sistema por eles criado vai além das notas na hora de medir o desempenho de um estudante, atribuindo uma nota (ou score) para cada pequena ação do mesmo. Seus amigos, seu foco, seu comportamento e cada palavrinha que
você fala – tudo é essencial e
registrado pelas eyeballs, câmeras cruéis espalhadas por toda a cidade que
registram e processam cada uma de suas ações, calculando o seu score. Lojas,
hospitais e até mesmo o exército passam a adotar o score como maneira de fazer
novas contratações, mas o almejado pela maioria dos estudantes é outra coisa: conseguindo um score acima de oitenta
pontos, a ScoreCorp pagará todas as suas taxas para qualquer faculdade estadual.
Como sempre, nem todos estão felizes com esse sistema: parte
dos estudantes da Somerton High, na cidade de Somerton, Massashusets – uma das
cidades-teste para o Score – se recusam a
terem suas vidas vigiadas pelas eyeballs. A associação com os chamados unscored
é punível com a perda consecutiva de vários pontos.
Essa perda de pontos por associação é levada ao extremo: em
Somerton High, todos os alunos somente fazem amizade com aqueles de Scores
semelhantes – por isso, as panelinhas são refeitas
todos os meses, e aqueles que eram outrora inseparáveis agem como se nunca houvessem se conhecido. Imani LeMonde, contudo, graças a uma promessa feita há muitos
anos atrás, não abandona a amizade de Cady – mesmo que Imani possua 92 pontos e
Cady somente 67.
Um dia, esta amizade deixa Imani em apuros: Cady começa a
namorar um unscored – resultando na perda de pontos não só para ela, mas também
para Imani. Com um score abaixo do necessário para sequer conseguir um bom
emprego – o que dirá uma bolsa – Imani procura o impossível e acha: uma maneira
de ganhar mais de vinte pontos em um mês, voltando para o topo e realizando seu sonho de estudar biologia marinha.
Se associando com Diego McLune para um trabalho – o filho
rico de uma advogada anti-score – ela espera conseguir informações boas o
suficiente para que a ScoreCorp recompense a sua lealdade com uma quantidade estúpida de pontos e, consequentemente, uma bolsa de
estudos. Contudo, a convivência com Diego – que tem idéias próprias e
peculiares sobre o real objetivo do Score – faz com que Imani repense se a "meritocracia" proposta pela ScoreCorp é realmente benéfica.
A ideia de Scored é brilhante: em algumas sociedades ou grupos sociais, a pressão colocada em cima dos adolescentes para "andar na linha" é enorme. Embora ir para a universidade ainda esteja fora de cogitação para uma grande parte da população brasileira, a tensão é palpável em terceiros anos e cursinhos pelo país inteiro. Em alguns países, isto é levado ao extremo: na China e na Coreía do Sul não são incomuns colapsos nervosos e suicídios graças ao ambiente acadêmico. Lauren McLaughin tentou elevar
isso a um outro nível, a um nível onde a vigilância é completa, impessoal e
constante. O exagero, característica da maioria das distopias, está bastante
presente em Scored, embora o mundo em que ele está inserido seja completamente
reconhecível e parecido com o nosso.
O problema foi a execução: não é exatamente mal-escrito, mas
sim mal-desenvolvido. Scored é ótimo até a metade, mas, a partir daí, a autora entra em uma corrida desenfreada para terminar o livro em poucas páginas, não desenvolvendo
mil e uma situações possíveis e inserindo algumas inúteis. O aspecto psicológico
dos adolescentes scored – o que eu ansiei para ler sobre – é praticamente
ignorado, se limitando a breves descrições por parte de Imani de como é difícil
ser vigiada 24/7.
Não gosto muito de distopias explicativas, o que Scored é.
Gosto de refletir sobre determinados aspectos por mim mesma, ler nas entrelinhas - o que é exatamente o contrário que Scored faz, dando todas as reflexões possíveis através de diálogos entre Imani e Diego. As entrelinhas, em um livro de ficção distópica, são preciosas: em geral, quem lê este tipo de coisa gosta de chegar a suas próprias conclusões, não encontrar as de outrém inseridas no objeto de reflexão.
Ainda assim, dou três pontinhos a Lauren McLaughing por sua
ideia brilhante – mas uma para a interminável lista das que eu gostaria de ter
tido.
Nota: 3/5