Boas intenções não adiantam: sempre existem opiniões diferentes
que nos deixam desconfortáveis.
Não falo de preconceitos (desde os declarados até os mais
enrustidos e aceitáveis socialmente) e sim de opiniões de facto,
posicionamentos pessoais que, como questão privada, devem ser respeitados – mas
isso não evita a coceirinha na orelha e o sorrisinho amarelo.
Para mim, em especial, uma dessas opiniões desconfortáveis
(que bate forte as vezes) é o hábito dos brasileiros em detestar o Brasil, sua própria gente e costumes. De querer importa
tudo por mais ilógico que algumas dessas importações seja. Não que eu ache que
a minha terra não tenha defeitos, só discordo que ela é completamente
imprestável e de que o que vem de fora é necessariamente melhor.
Por isso, eu sorria que nem uma boba durante a leitura d’A arma escarlate. Mesmo usando uma espécie
de importação (as semelhanças com Harry
Potter são óbvias e não negadas pela autora) é tão brasileiro e tão crítico
ao tal “espírito de vira lata” do qual a maior parte dos meus compatriotas
padece.
Comecemos pelo protagonista: Hugo Escarlate é um retrato do
Brasil, um menino de 13 anos, filho de uma mãe solteira (evangélica) e morador
da favela carioca Dona Marta. No morro pré-pacificação, é claro: o ano é 1998,
com a violência atingindo o seu ápice.
Cansado da pobreza e do container infernal onde mora (uma
das medidas provisórias de realojamento do governo que de provisória não tem
nada) Hugo, como muitos, entra para o tráfico. Infelizmente (ou felizmente, vai
saber) o garoto arruma o chefe do morro como inimigo – e a salvação vem via um
pombo correio urbano sujo: uma carta de convocação para uma escola de magia
escondida no Corcovado.
Sem grandes opções, o garoto resolve acreditar naquela
historinha toda, mentindo para mãe e fugindo o mais rápido possível.
Extremamente arisco e calejado pela vida dura, Hugo desconfia de tudo e de
todos ao chegar na escola, sem amolecer muito, mas deixando-se descobrir coisas
novas.
Porque há muito, muito mesmo o que descobrir. Confesso que,
mesmo já sabendo de antemão que Renata Ventura havia feito um livro com vários
aspectos brasileiros, não achava que ela havia renovado completamente a
mitologia criada por JK Rowling. Enorme engano: começando pelos feitiços (que
só podem ser ditos em línguas dos povos que formaram a nossa terra) até as
criaturas (como, por exemplo, os axés), tudo é tão fantástico e tão lindamente NOSSO! Desde A guerra dos tronos eu não havia me animado tanto com um universo
ficcional, e a complexidade do criado pela autora é de dar inveja a qualquer
escritor.
Aliás, por falar em complexidade... Ninguém pode acusar A arma escarlate de carecer desse tão
poderoso veneno, que pode arruinar ou melhorar completamente qualquer livro. A
maior parte dos escritores de infanto-juvenis prefere, por razões óbvias,
trabalhar com poucos personagens secundários – os “amigos do protagonista”,
digamos assim. Seguindo a tendência que é mais comum nos jovens brasileiros,
porém, Hugo tem vários amigos e conhecidos, e é impressionante o sucesso em
delinear a personalidade de cada um deles. Abarcando todo o sudeste, a sua
escola também tem vários (e lindos) sotaques, retratados, na minha singela
opinião de quem não viu tanto quanto queria do país onde vive, muito bem.
Em termos de personalidade, Hugo é um dos personagens mais
ambíguos que eu já li – além de sua desconfiança de tudo e de todos, o bruxinho
mostra-se, em muitos pontos, egoísta e um pouco inconseqüente. Na verdade, há
pouco o que se gostar – mas ainda assim, é complicado não adorar a alguém tão
humano.
Tão brasileiro quanto o samba, A arma escarlate já está na minha lista de favoritos.
Indicadissimo.
Concordo totalmente contigo nesse ponto, essa coisa de achar que só o que vem de fora é bom já deveria ter acabado a muito tempo, pelo menos no mundo literário tem muita coisa boa pipocando por ai, é só procurar e se interessar, mas as pessoas torcem o nariz antes mesmo de saber do que se trata, apenas por ser brasileiro já julgam como não bom...
ResponderExcluirE quanto ao livro, fiquei bem curiosa, quero ler!
Oi Isabel!
ResponderExcluirEu só tinha observado a capa em alguns blogs, mas nunca tinha parado para saber do que ele realmente se tratava, pra falar a verdade pra você, nem no nome da autora eu tinha reparado. :O
Curti muito saber que a autora colocou coisas que são NOSSAS no livro, bem da cultura brasileira. É incrível a quantidade de autores que acham que só se colocarem coisas de outros folclores vão conseguir se sair bem.
Gostei da indicação.
Um beijo,
Luara - Estante Vertical
Isabel,
ResponderExcluirEsse livro da Renata me chama a atenção há um bom tempo, gosto de fantasia, então ler uma situada em nosso país é muito bom. Acho o fim do mundo quem renega nossa cultura, pregando que o bom é o que vem de fora, enquanto esse pensamento persistir o mercado continuará o mesmo. Esse "favorito" me animou mais uma vez a lê-lo, taí uma bela indicação.
Sim! Poxa, fico tão chateada vendo os proprios autores "se avacalhando", sabe? Não é óbvio que por livro com cenário estrangeiro só atrapalha?
ExcluirGostei da ideia da autora que é quase parte idealizada pelo movimento antropofágico, perfeito para cativar um bom público. Beijos ;*
ResponderExcluirOi Isabel!
ResponderExcluirNossa, a história do livro é totalmente diferente do que eu tinha imaginado quando vi a capa! Achei que era algo meio Rei Arthur, sei lá.
Muito legal, gostei da dica!
E sobre literatura nacional, acho que o importante é a gente ler livros que a gente goste, independente do país de onde eles vieram. Eu confesso que compro muito mais livros internacionais (traduzidos ou não) porque são mais baratos...
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Eu só vi UMA vez essa capa. E mesmo assim nem mesmo parei para saber mais sobre. Mas nossa, agora quero ler, mesmo. Autora brasileira... SUPER! E a história parece ótima=D
ResponderExcluirBeijão, Lari.♥
Vitamina de Pimenta
@laricrazy_
Que coisa boa essa resenha. Eu, particularmente, adoro autores brasileiros, e tenho que dizer que como meu gênero de leitura preferido é o chick-lit, eu tô bem servida de obras desse tipo naicionais, ainda bem. Adorei a proposta do livro, e mesmo não gostando muito de HP, não me mate, eu fiquei com vontade de descobrir essa escola de magia tupiniquim!
ResponderExcluirBeijão
Michelle Boyd
Little Things
Bel, você começou a resenha de modo brilhante. Acho péssimo esse hábito que as pessoas tem de criticar o seu próprio lugar de origem, quando não fazemn nada para mudar, no mínimo, certas situações lamentáveis que enfrentamos/presenciamos (falando no geral). Mas temos tantas coisas boas; tantas coisas que precisam ser descobertas... os autores brasileiros com certeza se enquadram nisso. Seus comentários foram ótimos... prova do quanto um enredo criado em nossa terra pode surpreender. Porque no fim das contas quem faz a terra são seus habitantes.
ResponderExcluirUm abraço!
http://universoliterario.blogspot.com.br/
Nossa!
ResponderExcluirNunca imaginei que esse livro era tão bom assim!
Fiquei com vontade de ler!
Beijos
Rizia - Livroterapias
Fiquei com muita vontade de ler, realmente tem semelhança com Harry Potter (muita), mas não podia ser mais brasileiro! Também acho ridículo os próprios brasileiros não darem valor ao Brasil Amei a resenha.
ResponderExcluirBeijo,
peoples-says.blogspot.com
Após ter lido Harry Potter, fiquei com vontade de ler Arma Escarlate. Mas não posso. Sei que devo. Mas não posso mais comprar livros. A estante tá cheia - e eu sei que cabe mais alguns - e terei que deixar para comprar este livro mês que vem... ou no outro... ou no depois ):
ResponderExcluirAbraços!
Fiquei bem curiosa pra ler esse livro, ainda mais por ter aspectos da nossa cultura.
ResponderExcluirPensando seriamente em comprar o e-book, já que o livro físico é um pouco caro pra mim.
Ótima indicação! :)
Estou LOUCA para ler esse livro. Confesso que no começo não achava aquelas coisas, mas depois de ver tanta resenha falando bem e depois de conhecer melhor a história, quero muito lê-lo. Fico feliz de saber que apesar de ser um tema importado, ela conseguiu transformá-lo em algo tão brasileiro. Acho que isso que sinto falta. Hoje em dia muitos escritores brasileiros só ficam escrevendo histórias que se passam nos Estados Unidos.
ResponderExcluirse eu fosse vc parava de vez com essa falsidade e dissesse a verdade, pois eu perdôo gente que se engana mas mentiroso não! O vc devia ter dito é que gosta de AAE simplesmente porque foi só o 1º livro nacional fanfic de HP, nada mais e nada menos, e isso é pq vc sente muita saudade de HP e não vê mais opções ao seu redor, e se tem são todos péssimos livros. Eu queria ver se caso aparecesse outro livro fanfic de HP nacional que fizesse uma fama capaz de aparecer em jornais e reportagens se vc não iria mudar de idéia ou caísse na real sobre o que tu disse anteriormente e quem sabe reescrevesse sua resenha e colocasse menos uma ou duas estrelas.
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