Quando se fala de filmes, livros, música, seriados, a linha
que separa o “adorei!” da adoração é mais tênue do que se possa pensar. Black
Mirror a cruzou.
Fazer algo bom não é fácil, mas existem sete bilhões de
pessoas no mundo com talento e suor suficientes para mais coisas maravilhosas
do que jamais poderemos usufruir de. Já algo que desperte adoração deve ser
milimetricamente calculado e ao mesmo tempo espontâneo. Algo genuíno, belo,
maravilhoso. Black Mirror é tudo isso, e arrisco a dizer que a série curtinha
de três episódios por temporada (cada um representando uma história isolada)
não sai da minha cabeça desde que a assisti pela primeira vez.
Geralmente quando se fala do poder exercido pela mídia sob
nós não se sai muito do “a mídia aliena”. Particularmente detesto o termo “alienação”
e todos os seus derivados – mesmo que eu esqueça momentaneamente (o que não
ocorre) o seu uso em geral elitista, é complicado não aplicá-lo de forma
arrogante. Ora, então você realmente sabe qual é a verdade e agora quer
iluminar a todos nós?
Black Mirror não teria ganho a minha adoração se não fosse
muito mais fundo no tema – seus três episódios são três nuances da nossa
relação com o quarto poder, e qualquer um que o assistir com atenção o
suficiente verá seu comportamento representado, hora ou outra, nos personagens.
No piloto, The National
Anthem, o primeiro ministro britânico Michael Callow é acordado por seus assessores
graças a uma vídeo ameaça. A vítima não poderia ser (politicamente para Callow,
ao menos) pior: a princesa Susanne, popular com seus súditos por ter uma forte
presença no Facebook.
Raramente a segurança de nações poderosas deixa tais
brechas, mas de qualquer maneira, uma princesa seqüestrada por um terrorista
não é nada de extraordinário, certo? Espere até ouvir a barganha: em troca da
vida de Susanne, o primeiro ministro deverá fazer sexo com um porco,
transmitindo o ato em rede nacional. Rapidamente o vídeo da ameaça ganha a
internet, e especulações são feitas.
A dúvida se o ato ocorrerá ou não permeia o episódio, mas
não é isso o mais fascinante, e sim a espetacularização de uma situação
completamente absurda, coroada com um final pouquíssimo previsível e fantasticamente real.
O universo do segundo episódio me deu uma invejinha
criativa: como eu queria ter sido seu criador! Nele, a única ocupação para
jovens fisicamente aptos é pedalar em bicicletas para a geração de energia, o
dia inteiro acompanhados por programas e joguinhos – que são, aliás, a única
forma de entretenimento deste planeta. Cada pedalada gera um determinado nível
de créditos, utilizável para as coisas comuns, como comida, até outras como o
direito de secar as mãos no banheiro.
Mesmo com mais de quinze milhões de créditos em sua conta, Bing
não liga muito para isso – as distrações que o sistema oferece não são muito
interessantes para ele. Até que ele arruma um jeito de gastar essa bolada: ao
ouvir a voz de anjo de Abi, uma menina bastante doce que acaba de começar a
trabalhar, Bing se oferece para pagar a participação da garota no O popular, cruel show de talentos que é
a única forma de ascensão social.
15 milhões de méritos
critica a nossa sede insaciável por entretenimento, perpassando pela
idiotização do mesmo – os jovens que engordam ou desenvolvem problemas de
coração, por exemplo, viram faxineiros, ridicularizados por programas de TV e
humilhados por seus pares. Além disso, o episódio mostra de forma quase cruel o
ciclo vicioso em que nossa sociedade está fadada a viver, com trabalho
incansável para comprar as mesmas porcarias que nos darão um prazer raso e
passageiro, constantemente renovado para que não haja um só momento de
reflexão. Melhor do que muito livro de filosofia.
Todo mundo que já discutiu pelo MSN ou Facebook sabe: não é
boa coisa ter registros desse tipo de situação. Como desculpas seriam válidas
se as palavras estão escritas em algo quase tão duradouro como pedra? No
terceiro episódio de Black Mirror, The
Entire Story of you, esse probleminha ocasional da geração Z é elevado a um
nível extremo.
Liam é um advogado desempregado, com histórico de ciúmes,
portador (como quase todos de seu mundo) do Grão, dispositivo que guarda todas
as memórias do indivíduo em vídeo, em uma inteligente linha do tempo. Útil para
resolução de crimes, um desastre para as relações interpessoais.
Isso fica claro quando a esposa de Liam, Fion, se reencontra
com um velho caso de verão. Aí a espiral de ciúmes começa, em um círculo
doentio alimentado por velhas memórias e a sagacidade de advogado de Liam. Nada
diferente do que ocorre desde que o mundo é mundo, mas aqui as certezas são
absolutas, não há relativização e as mentiras doem mais.
Tão bom quanto o segundo episódio, este critica o nosso
hábito de viver no passado, tão presos há lembranças antigas que não há nenhum
esforço em produzir novas. Esquecer é péssimo, mas lembrar demais também. O
epitáfio de Matadouro cinco seria
bastante útil aqui: “tudo era belo e nada doía”.
Gosto de terminar posts com frases legais (que nem sempre
soam legais fora da minha cabeça, mas enfim) só que nenhuma que me ocorre é boa
o suficiente para Black Mirror. Minha
última consideração: largue o que você estiver fazendo com sua vida e vá
assistir essa fantástica série. AGORA.
Cara, eu sou apaixonada por série, mas não conhecia essa. Não sei se foi você que escreveu super bem ou se ela é boa mesmo, rs. Quero muito assistir, nem que seja o primeiro episódio só para ter um gostinho. Você possui algum link para baixar na internet? De qualquer forma, vou procurar.
ResponderExcluirOi Alice! Baixei no site omelhordatelona :) omelhordatelona.biz/series/black-mirror/3627-black-mirror.html
ExcluirOk, você acabou de me fazer baixar mais uma série. vou assistir agora.
ResponderExcluirBeijos,
Carissa
www.carissavieira.com
Isabel, eu tinha visto uma nota sobre a minissérie na internet mas de forma alguma ela dava mostras de que era tão interessante como você o fez, e por isso não tinha me interessado por ela até agora. Vou procurar assistir, séries questionadoras que fazem bem seu trabalho estão ficando raras, esta parece ser uma boa pedida.
ResponderExcluirAdoro séries, e nunca tinha ouvido falar desa...Por ser histórias diferentes a cada episodio, parece ser interessante. Fiquei bem curiosa para assistir! :D
ResponderExcluirBeijo
Adoro séries, e sim, vou falar com a minha irmã (sempre assistimos juntas) e conferir. Mas na verdade, eu admito que o segundo e o terceiro episódios não me interessaram nem metade do que o primeiro. Sou fascinada por perversidades sexuais. rs
ResponderExcluirEu AMO séries e ão conhecia essa que me parece ser bem estranha, rs.
ResponderExcluirVou pesquisar aqui para assistir. Parece.... diferente rs
Beijos, Lari.❤
Vitamina de Pimenta
Não conhecia essa série. Mas vou baixar ela agora porque me interessei. haha
ResponderExcluirbeijos
Marina Alessandra do blog Maior de Idade
@mariinaale
@maioordeidade
Olá Isabel,
ResponderExcluirSe eu tinha alguma dúvida sobre essa série, você acaba de me convencer. Sério! Vou começar a assistir hoje mesmo!
Lucas / Era uma vez...
Olá isabel, mas como eu nunca ouvi falar dessa série?
ResponderExcluirAdorei o contexto e tudo mais, quero muito conferir agora!
Beijão
Michelle Boyd
Little Things
Adoro as dicas de livros, filmes e principalmente séries que vc dá aqui.
ResponderExcluirFiquei bastante curioso pra ver essa, assim que tiver um tempinho quero baixar
Beijos.
www.lisz-tomania.blogspot.com.br
Tô baixando isso tipo AGORA!
ResponderExcluirSoube dessa série por um comentário que você fez em algum post passado, e fui pesquisar e acabei baixando. Assisti o primeiro episódio e achei muito bom! Com certeza foi um final inesperado, e que te deixa pensando nessa questão de sempre estarmos conectados.
ResponderExcluirVOCÊ. MERECE. PEDALAR. SUA. VIDA. INTEIRA.
ResponderExcluirEAUHEAUEHAUEHAUEHAUEHAUEAHEUAHEUAHEUAHEAU'
Sério, depois de me deixar infinitamente viciado nessa série você devia fazer igual no segundo episódio da primeira temporada e ficar lá pedalando eternamente, onde não poderia me viciar em nenhuma outra série!
Brincadeiras à parte...
Adorei a série, comecei a assistir graças a você e viciei! *______________* QUERO MAIS, MANDE MAIS! *O*
HDUASDHASUDAS, muuito obrigada! Fico feliz quando alguém gosta das minhas indicações :) Podexá que vou fazer o post da seugnda temporada o mais rápido possível, além de outras séries tão boas quanto :)
ExcluirSobre o mundo cibernético, ciumes e demais paranoias. Black Mirror é as vezes perturbador. Excelente seriado.
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