Às
vezes parece que todo mundo tem depressão hoje em dia.
Não
me entenda mal: não estou diminuindo a importância do chamado “mal do século
XXI”, nem subestimando a gravidade da doença para os que realmente a possuem. O
problema é que aparentemente há diagnóstico em excesso, onde qualquer tristeza
um pouquinho mais duradoura ou problema mais complicada deve ser tratado com
uma ajudinha química. Sim, a ciência supostamente deve tornar as nossas vidas
melhores, mas obstáculos são algo constante na vida e devem ser enfrentados em
estado natural. Se você não tem transtorno de déficit de atenção, não deve
tomar Ritalina só porque quer um empurrãozinho para passar no vestibular.
Esse
excesso de diagnóstico fica logo claro nos primeiros minutos do filme americano
Terapia de risco: quase todos ao
redor da protagonista Emily parecem ter tomado alguma medicação para depressão
nos últimos tempos. De marcas que exibem suas propagandas em todo lugar,
tratando a doença como um fenômeno geral e dando a entender que as pílulas anti
depressivas são tão simples como aspirinas ou sabonetes contra acne.
Mas
Emily realmente precisa delas. Seu marido, Martin, acaba de sair de uma
temporada na prisão, e ainda que sua volta traga uma imensa felicidade, a faz
relembrar a época terrível em que ele foi preso quatro anos atrás.
Após
uma tentativa de suicídio, seu caminho se cruza então com o do psiquiatra Jon
Banks, um inglês para quem tudo vai de forma muito tranquila – ele tem vários
turnos no Hospital, pacientes em uma clínica particular e ganhará 50 mil
dólares para participar da pesquisa de uma nova medicação para depressão. Que
não é a mesma, aliás, que ele receita para Emily: a da jovem mulher, apesar de
se provar efetiva depois de algumas semanas, lhe dá como efeito colateral o
sonambulismo.
Em
estado de dormência, Emily um dia comete um assassinato. Mesmo não sendo
incriminado judicialmente, a carreira e o casamento de Jon vão por água abaixo
pelo destaque dado ao ocorrido, e o médico se afunda em dívidas. Sua nova
obsessão se torna, naturalmente, ir ao fundo do crime cometido por Emily e
encontrar os reais efeitos dos anti depressivos para a ocorrência do mesmo.
Terapia de risco é assustador e fantástico. Minhas
expectativas para o filme eram bastante altas – eu o vi divulgado em vários
veículos de comunicação e li uma ou duas críticas – mas enquanto eu esperava um
longuíssimo (mas legal) chá de cadeira sobre os efeitos da depressão na vida de
um indivíduo, ganhei um thriller viciante. O filme se usa do recurso da
incerteza sobre o que influenciou o ato de Emily, instigando o espectador.
Confesso
que fiquei um pouquinho decepcionada com Terapia
de risco no início: acreditava piamente que ele faria fortes críticas ao
sistema existente entre médicos e fabricantes de medicamentos. Me espantei,
portanto, ao encontrar o tal mistério. Depois de refletir um pouco, contudo,
conclui que isso foi só um recurso para falar justamente do que eu esperava –
as conexões complicadas entre gigantes farmacêuticas (que se utilizam de “bonificações”
a médicos, programas de TV e revistas e da boa e velha propaganda) e pacientes.
Sim,
existe um certo auxílio de psiquiatras e da cultura de forma geral para que nós
estejamos, no mundo ocidental, cada vez mais falsamente depressivos. Como tudo
na sociedade, porém, passa por nossa permissão (voluntária ou não) para
acontecer – e, nesse caso, da vontade que todos temos de uma ajudinha química
(legal e socialmente aceita) para fugir de nossos próprios problemas...
Gente, o filme parece ser incrível.
ResponderExcluirE eu concordo com você, acho que virou moda ter depressão. Logico que quem realmente tem deve tomar os medicamentos e ir ao medico, mas não são todos.
Beijos
Pepper Lipstick
Siim, acho que terapia é necessário para praticamente qualquer um que esteja passando por um momento complicado, mas essa ultra medicação é um pouco complicada...
ExcluirConcordo com você, acho que ter depressão hoje em dia virou algo muito comum, e não entendo o porquê, afinal nós temos tudo que precisamos para ser felizes, só que muitos ainda não descobriram isso!
ResponderExcluirAchei super interessante seu ponto de vista sobre o filme, e acho que eu concordo, me deu a maior vontade de ver, apesar de não ser muito meu estilo, sempre me pego pensando sobre essa relação das farmacêuticas com os pacientes, afinal, ao meu ver, é totalmente fria.
Beijos,
peoples-says.blogspot.com
O meu problema não é especificamente com a frieza da relação - não espraria nada de diferente, já que é, afinal, uma relação comercial - e sim com a falta de responsabilidade e de mecanismos reguladores pra isso, sabe?
ExcluirAdorei a dica de filme! ele parece bem interessante! O que mais achei legal foi que você soube fazer comentários bem espertos sobre o filme. fiquei bem curiosa pra assistir!
ResponderExcluirTRASH ROCK