O Japão é um país estranho. E não estranho do tipo
“fascinante”, estranho do tipo estranho mesmo.
Pode soar um pouco xenofóbico, mas juro de pés juntos que
não tenho nada contra japoneses – é só que seus hábitos, disposições e tiques
me parecem muito mais distantes do que outras culturas menos divulgadas. O
Japão não é só sushi, chá e animes. Há algo de sombrio e dramático em toda obra
japonesa que já vi,que sinto que nunca chegarei a compreender por não
compreender o povo japonês em si.
Yuko Moriguchi é uma professora do ensino fundamental II que
não é levada em alta conta por seus alunos: quando ela diz que se retirará da
carreira no final do mês, um ruído de comemoração é ouvido por toda a sala. Na
verdade, aquele dali é o único momento em que a sala de pestinhas para de
conversar, pregar peças uns nos outros e fazer brincadeiras – o estereótipos de
alunos japoneses disciplinados e bem comportados com toda a certeza não foi
aplicado aqui.
Sem se abalar muito pelo mau comportamento geral, Yuko
começa a narrar uma pequena anedota, a anedota que diz mais respeito a ela do
que qualquer outra – a da morte de sua filha Manami. Que (ela confessa diante
de uma classe chocada) foi um assassinato (e não acidente como declarado pela
polícia) assassinato este cometido por dois de seus alunos. Por seus colegas.
Que agora sofrem da vingança cruel que só uma mãe ferida pode desempenhar.
No Japão, a lei proíbe que menores de catorze anos sejam
condenados a pena capital. Sou contra a pena capital em qualquer circunstância (sublinhado e em negrito para que
minha opinião fique muito clara sobre o assunto) mas não condeno (moralmente; a
lei é outra coisa) pessoas que assim como Yuko, se vingam de alguém que lhe
deferiu um grande mal. É bem simples: provavelmente eu faria a mesma coisa.
Mas Confissões
questiona até onde essa tal vingança pode ir, até onde a vida do algoz e da
vítima podem ser destruídas em prol de alguma estranha justiça. São cinco
confissões, sendo a da professora a primeira, a qual terminei com um ódio
supremo dos assassinos, aquele sentimento de que eu mesma poderia vingar Manami
no lugar de Yuko. Nas confissões dos assassinos e de duas pessoas próximas aos
mesmos, porém, essa impressão se desfaz (a impressão, não a culpa) e o ângulo
vai mudando.
Pontos de vista. Tornando o mundo mais relativo e complicado
desde o primeiro Homo Sapiens.
É óbvio que a vingança da professora altera profundamente a
todos em sua classe, que continuam com suas vidas, mas congelam toda vez que a
antiga sensei é mencionada. Dos dois assassinos, somente um (o mais cruel)
volta para a escola, sofrendo uma campanha de hostilização por parte dos
colegas, encarada como inveja pelo novo professor.
Iniciei esse texto declarando a minha ignorância quanto a
cultura japonesa (a parte mais profunda dela, não o que eles mostram ao mundo)
porque ela pode ter desempenhado um grande papel na minha opinião sobre Confissões. A maior parte dos diálogos
me soaram artificiais e dramáticos demais, uma mistura de revelações de vilã
arrependida e momento emoção de filme B. Na verdade, me lembraram um anime,
gênero de desenho animado que mesmo tendo enredos bem interessantes, não me agrada
justamente por isso – a sua artificialidade na hora dos diálogos.
O filme foi feito daquela maneira genial que me faz
acreditar que ele só funciona assim: na primeira confissão, já temos a grande revelação
do enredo, e nas outras vamos descobrindo os pormenores, os detalhes. A
fotografia é perfeita, e Confissões é
cheio de episódios em câmera lenta, detalhes significativos e explosões visuais
que fixam sua mensagem na cabeça do espectador.
Confesso que Confissões
provavelmente não teve o efeito desejado pelo diretor em mim –recentemente
assisti uma obra semelhante que fala sobre vingança com uma maestria
ligeiramente superior (o segundo
episódio da segunda temporada de Black Mirror) e comparações são inevitáveis.
Ainda assim, não consegui deixar de ficar pensando em Yuko e sua Manami.
Não sei o que há comigo, mas me interesso sempre em histórias com vinganças pessoais '-' rs Mas enfim, sobre o Japão: É um país estranho também pra mim que não me desperta quase nenhum interesse. E sobre o filme: Fiquei super curiosa em assisti-lo com seu post, por mais que não o tenha descrito como algo super recomendável para assistir e tudo mais.
ResponderExcluirBeijos ><
Meu outro lado
Você já deve saber minha opinião sobre o Japão: nada que venha de lá me soa estranho, praticamente já acostumei. Juro. Sim, eu sei como lá é estranho porque convivo o tempo todo com pessoas que não conhecem direito a cultura de lá, mas depois que você passa a entender e compreender, as coisas ficam mais claras. Eu já ouvi falar desse filme, mas nunca assisti. Fiquei com muita vontade de ver porque amoooo filmes/séries de vingança. Outra coisa, sobre os animes, eu assisto justamente porque não acho os diálogos superficiais, na verdade, acho muito mais profundo e complexos que qualquer série/filme americano. Sempre vai ter aquele momento filosofia no anime que vale mais do que todos os diálogos de algum filme hollywoodiano.
ResponderExcluirNossa, que resenha! Eu acabei me interessando, apesar de partilhar a mesma opinião sobre o Japão que você, haha. Eu acho mesmo que há algo bem mórbido nessa cultura toda, enfim...
ResponderExcluirQuero ver, sim, mas do jeito que ando pra filmes, verei daqui um mês (ou mais :/)
Bom fim de semana!
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