No auge da fama de A
culpa é das estrelas, muito se falou sobre a tal da sick-lit,
literatura que, teoricamente, utilizaria personagens com doenças
terminais sem muito pudor. Fora algumas tentativas de leituras de
romances melosos, tive a sorte de cair em um círculo de “sick-lits”
boas, que ao contrário do esperado, não definem os seus personagens
doentes por sua doença. A menina que semeava não quebrou
esse círculo.
Chris tem uma relação
complicada com sua filha Becky, de catorze anos – mas ao contrário
do esperado, o problema não é a rebeldia da menina ou ausência do
pai, e sim a comparação (injusta) com o passado. Apenas quatro anos
antes, Chris ainda era casado com a mãe de Becky, todos eles moravam
na mesma casa e pai e filha viajavam diariamente para Tamarisk.
Paciente de um caso de
leucemia em remissão, Becky encontrou com o pai esta maravilhosa
maneira de aliviar um pouco seu sofrimento. O mundo de faz de conta
ganhou fauna e flora próprias, personagens e histórias fantásticas.
Esquecido por quatro anos, Tamarisk é relembrado por Becky quando
seu câncer volta a aparecer. E, assim como ela, o mundo de suas
histórias está morrendo.
Desde o início de A
menina que semeava, Tamarisk não me convenceu muito. O mundo de
fantasia é bem desenvolvido e tem bastante lógica, espelhando as
expectativas e vida de uma garota como Becky, mas não me tocou ou me
deu vontade de viajar para lá. Acho que foi uma particularidade
minha, porém: Lou Arnica descreve o planeta de folhas azuis e
animais fantásticos muito bem.
Além disso, as
analogias para a vida de Becky encontradas em Tamarisk são muitas,
mas não óbvias o suficiente para duvidar da inteligência do
leitor. A única que fica evidente desde o começo é o problema da
terra de faz de conta com o qual Becky se depara: Tamarisk, um lugar
cuja economia se baseia na agricultura, está infectado por uma
praga, assim como o corpo da menina. Cabe a ela e mais tarde ao pai,
um biólogo e geneticista, ajudar a rainha Miea a lidar com aquilo.
Mas acho que tudo fica
em segundo plano quando consideramos a história de fato do livro: a
relação entre pai e filha. Já ralhei inúmeras vezes aqui no blog
pedindo por histórias escritas para jovens que narrassem
relacionamentos não-românticos – na maior parte dos casos,
família e amigos ficam de lado – e A menina que semeava
atende a esse pedido. Chris viveu sua vida pela filha e faria tudo
por ela (um laço tão forte que ironicamente contribuiu para o fim
de seu casamento) e não aceita muito bem a distância imposta pelo
divórcio da mãe da garota e pelo natural crescimento dela. Com a
volta da doença e a descoberta da possibilidade de viagens à
Tamarisk, os laços se estreitam de novo, de uma forma bela e real o
suficiente para arrancar de mim algumas lágrimas.
Com tudo isso dito,
faltaram somente alguns pontos para A menina que semeava ser
excelente. Preocupado com o desenvolvimento da confusão mental de
Chris, o autor deixa Becky de lado, tratando-a somente como uma
adolescente comum e chata na primeira parte – erro fatal em livros
desse gênero e que foi compensado na segunda metade, mas ainda me
irritou bastante. Além disso, como eu já disse, Tamarisk não me
convenceu: estando acostumada a visitar mundos de fantasia eu mesma,
preciso de algo mais substancial e inovador.
Não posso deixar de
mencionar o descuido da editora: a tradução é um pouco preguiçosa
e os últimos capítulos têm mais erros de digitação, pontuação
e até mesmo de gramática do que eu posso contar. Isso não tira os
méritos de A menina que semeava, uma bela história de
narrativa ágil.
Não sabia que esse livro era sick-lit! :O
ResponderExcluirE tanto tempo tbm q n vejo ngm falar dele...
Acho a capa linda, e gosto de livros que retratam relações familiares!
Bjs
http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com
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