18 fevereiro 2015

A menina que semeava (livro)


No auge da fama de A culpa é das estrelas, muito se falou sobre a tal da sick-lit, literatura que, teoricamente, utilizaria personagens com doenças terminais sem muito pudor. Fora algumas tentativas de leituras de romances melosos, tive a sorte de cair em um círculo de “sick-lits” boas, que ao contrário do esperado, não definem os seus personagens doentes por sua doença. A menina que semeava não quebrou esse círculo.

Chris tem uma relação complicada com sua filha Becky, de catorze anos – mas ao contrário do esperado, o problema não é a rebeldia da menina ou ausência do pai, e sim a comparação (injusta) com o passado. Apenas quatro anos antes, Chris ainda era casado com a mãe de Becky, todos eles moravam na mesma casa e pai e filha viajavam diariamente para Tamarisk.

Paciente de um caso de leucemia em remissão, Becky encontrou com o pai esta maravilhosa maneira de aliviar um pouco seu sofrimento. O mundo de faz de conta ganhou fauna e flora próprias, personagens e histórias fantásticas. Esquecido por quatro anos, Tamarisk é relembrado por Becky quando seu câncer volta a aparecer. E, assim como ela, o mundo de suas histórias está morrendo.

Desde o início de A menina que semeava, Tamarisk não me convenceu muito. O mundo de fantasia é bem desenvolvido e tem bastante lógica, espelhando as expectativas e vida de uma garota como Becky, mas não me tocou ou me deu vontade de viajar para lá. Acho que foi uma particularidade minha, porém: Lou Arnica descreve o planeta de folhas azuis e animais fantásticos muito bem.

Além disso, as analogias para a vida de Becky encontradas em Tamarisk são muitas, mas não óbvias o suficiente para duvidar da inteligência do leitor. A única que fica evidente desde o começo é o problema da terra de faz de conta com o qual Becky se depara: Tamarisk, um lugar cuja economia se baseia na agricultura, está infectado por uma praga, assim como o corpo da menina. Cabe a ela e mais tarde ao pai, um biólogo e geneticista, ajudar a rainha Miea a lidar com aquilo.

Mas acho que tudo fica em segundo plano quando consideramos a história de fato do livro: a relação entre pai e filha. Já ralhei inúmeras vezes aqui no blog pedindo por histórias escritas para jovens que narrassem relacionamentos não-românticos – na maior parte dos casos, família e amigos ficam de lado – e A menina que semeava atende a esse pedido. Chris viveu sua vida pela filha e faria tudo por ela (um laço tão forte que ironicamente contribuiu para o fim de seu casamento) e não aceita muito bem a distância imposta pelo divórcio da mãe da garota e pelo natural crescimento dela. Com a volta da doença e a descoberta da possibilidade de viagens à Tamarisk, os laços se estreitam de novo, de uma forma bela e real o suficiente para arrancar de mim algumas lágrimas.

Com tudo isso dito, faltaram somente alguns pontos para A menina que semeava ser excelente. Preocupado com o desenvolvimento da confusão mental de Chris, o autor deixa Becky de lado, tratando-a somente como uma adolescente comum e chata na primeira parte – erro fatal em livros desse gênero e que foi compensado na segunda metade, mas ainda me irritou bastante. Além disso, como eu já disse, Tamarisk não me convenceu: estando acostumada a visitar mundos de fantasia eu mesma, preciso de algo mais substancial e inovador.


Não posso deixar de mencionar o descuido da editora: a tradução é um pouco preguiçosa e os últimos capítulos têm mais erros de digitação, pontuação e até mesmo de gramática do que eu posso contar. Isso não tira os méritos de A menina que semeava, uma bela história de narrativa ágil.

2 comentários:

  1. Não sabia que esse livro era sick-lit! :O
    E tanto tempo tbm q n vejo ngm falar dele...
    Acho a capa linda, e gosto de livros que retratam relações familiares!
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

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