Para os não
habituados, o estilo da atriz e criadora de Girls, Lena
Dunham, pode ser um pouco chocante. Além de não corresponder nem de
longe aos padrões estéticos televisivos, Lena não tem muito apreço
pelas convenções sociais e adora um bom oversharing – ou seja,
compartilhar com os outros detalhes da sua vida considerados
desnecessários pela maioria. E é isso que a faz fantástica.
Gosto muito da série
Girls: embora algumas situações (como, por exemplo, a
suposta falta de dinheiro das personagens ser magicamente resolvida
de um episódio para o outro) sejam ireais, esse tom extremamente
pessoal de Lena me agrada. Tiny furniture, o filme indie que a
lançou para o sucesso, não é muito diferente – embora me faça
crer o oversharing é o único truque que Lena Dunham tem na manga.
Recém formada, Aura,
como muitos jovens americanos, não tem nenhuma expectativa de
emprego na sua área – especificamente, cinema. Ela volta, então,
para a casa de sua mãe (uma famosa fotógrafa) em Nova Iorque, sem
muitas expectativas para o futuro.
Em um filme indie
comum, espera-se um roteiro um pouco semelhante com a sessão da
tarde, mas mais cru e real: Aura provavelmente encontraria novos
amigos meio loucos, perderia todo o seu dinheiro e sairia em uma road
trip pelo país inteiro, culminando em um emprego perfeito e bem
pago. Mas no bom estilo de Lena Dunham, tudo que ocorre passa só um
pouco da linha do mediocre. Aura tem problemas de adaptação com a
mãe e a irmã prodígio; reencontra uma velha amiga de escola e fica
afim de um cara que só quer ter um lugar para ficar de graça em
Nova Iorque. O final não traz todas as respostas, e sim mais uma
dúzia de perguntas que se juntam no balaio com as dúvidas e erros
antigos.
Mas para quem assiste
Girls as reflexões e inovações trazidas pelo filme não
serão grande coisa. Sim, é claro que duas obras feitas e estreladas
pela mesma criadora irão apresentar semelhanças, mas a obsessão de
Lena Dunham com situações auto-biográficas tem seu preço. Aura e
Hannah, a protagonista de Girls, tem personalidades
extremamente semelhantes, assim como os personagens secundários.
Gosto dessa coragem que Lena tem de se expor, de mostrar seus
problemas presentes e passados e mostrar suas feridas – mas uma
variação um pouco maior seria bem vinda e esperada antes de que
esse oversharing seja confundido com egocentrismo.
Os diálogos
inteligentes e as situações tragicômicas, porém, transformam Tiny
Furniture em uma peça de humor inteligente, que celebra a
chatice do dia a dia e dá tapinhas nas costas do espectador, como
quem diz “é, amigo, é difícil ter vinte e poucos anos e não
saber o que fazer da vida”.