16 fevereiro 2015

Tiny furniture (filme)


Para os não habituados, o estilo da atriz e criadora de Girls, Lena Dunham, pode ser um pouco chocante. Além de não corresponder nem de longe aos padrões estéticos televisivos, Lena não tem muito apreço pelas convenções sociais e adora um bom oversharing – ou seja, compartilhar com os outros detalhes da sua vida considerados desnecessários pela maioria. E é isso que a faz fantástica.
Gosto muito da série Girls: embora algumas situações (como, por exemplo, a suposta falta de dinheiro das personagens ser magicamente resolvida de um episódio para o outro) sejam ireais, esse tom extremamente pessoal de Lena me agrada. Tiny furniture, o filme indie que a lançou para o sucesso, não é muito diferente – embora me faça crer o oversharing é o único truque que Lena Dunham tem na manga.

Recém formada, Aura, como muitos jovens americanos, não tem nenhuma expectativa de emprego na sua área – especificamente, cinema. Ela volta, então, para a casa de sua mãe (uma famosa fotógrafa) em Nova Iorque, sem muitas expectativas para o futuro.


Em um filme indie comum, espera-se um roteiro um pouco semelhante com a sessão da tarde, mas mais cru e real: Aura provavelmente encontraria novos amigos meio loucos, perderia todo o seu dinheiro e sairia em uma road trip pelo país inteiro, culminando em um emprego perfeito e bem pago. Mas no bom estilo de Lena Dunham, tudo que ocorre passa só um pouco da linha do mediocre. Aura tem problemas de adaptação com a mãe e a irmã prodígio; reencontra uma velha amiga de escola e fica afim de um cara que só quer ter um lugar para ficar de graça em Nova Iorque. O final não traz todas as respostas, e sim mais uma dúzia de perguntas que se juntam no balaio com as dúvidas e erros antigos.


Mas para quem assiste Girls as reflexões e inovações trazidas pelo filme não serão grande coisa. Sim, é claro que duas obras feitas e estreladas pela mesma criadora irão apresentar semelhanças, mas a obsessão de Lena Dunham com situações auto-biográficas tem seu preço. Aura e Hannah, a protagonista de Girls, tem personalidades extremamente semelhantes, assim como os personagens secundários. Gosto dessa coragem que Lena tem de se expor, de mostrar seus problemas presentes e passados e mostrar suas feridas – mas uma variação um pouco maior seria bem vinda e esperada antes de que esse oversharing seja confundido com egocentrismo.


Os diálogos inteligentes e as situações tragicômicas, porém, transformam Tiny Furniture em uma peça de humor inteligente, que celebra a chatice do dia a dia e dá tapinhas nas costas do espectador, como quem diz “é, amigo, é difícil ter vinte e poucos anos e não saber o que fazer da vida”.  

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