Neil Gaiman disse: “se
você esperar inspiração para escrever, poderá até ser um poeta
decente, mas nunca será um romancista”.
E isso me parece ter um
fundo bem grande de verdade. Ao passo que romances são feitos de
sangue, suor e lágrimas do autor, a poesia tem de ser inspirada e
sair de dentro. Suponho que Drummond não cumprisse prazos de
editores – e nem deveria: submeter sua criatividade poética ao
tempo tiraria um pouquinho de sua grandeza.
Amy, porém, apesar do
fato de ter estudado a sua vida inteira para ser uma poeta, parece
ter esquecido disso. A matéria-prima da arte – viver – lhe
falta, e ao se formar na faculdade, ela se vê desempregada e sem
nenhuma publicação no currículo. Na verdade, é um pouquinho pior:
ela foi rejeitada por todas as revistas e coletâneas para as quais
mandou a sua poesia, gastando em inscrições de concursos literários
parte dos seus empréstimos estudantis.
Sem mais fundos de seus
pais e convidada a sair da sua própria casa, Amy arruma um emprego
como vendedora numa sex shop e procura refúgio em uma nova amiga,
uma artista perfomática chamada Rubia. Rubia insiste que Amy consiga
um mentor, alguém que lhe ajude com contatos e melhora de poesia –
e depois de alguma insistência, seu poeta favorito – Rat Billings,
que não produz nada aclamado desde a adolescência – a aceita como
protegida.
A todo jovem artista
uma pergunta é constante: eu sou bom o suficiente? Particularmente,
me pergunto isso diariamente, enquanto navego pelas páginas de uma
revisão que parece que nunca vai terminar, ou tenho dificuldades
enormes em preencher falhas no enredo.
O erro de Amy talvez
seja não duvidar de si mesmo literalmente nunca – a garota é
ingênua e pretensiosa demais, achando que a grandeza, para um poeta,
só pode ser alcançada até os vinte e dois – afinal, qual a graça
de ser publicado se você não é um jovem prodígio?
Vida de adulto é
uma comédia leve, que no estilo de Pequena Miss Sunshine, nos
mostra que finais felizes não podem e não devem ser unânimes no
cinema.