09 fevereiro 2015

Vida de adulto (filme)


Neil Gaiman disse: “se você esperar inspiração para escrever, poderá até ser um poeta decente, mas nunca será um romancista”.

E isso me parece ter um fundo bem grande de verdade. Ao passo que romances são feitos de sangue, suor e lágrimas do autor, a poesia tem de ser inspirada e sair de dentro. Suponho que Drummond não cumprisse prazos de editores – e nem deveria: submeter sua criatividade poética ao tempo tiraria um pouquinho de sua grandeza.

Amy, porém, apesar do fato de ter estudado a sua vida inteira para ser uma poeta, parece ter esquecido disso. A matéria-prima da arte – viver – lhe falta, e ao se formar na faculdade, ela se vê desempregada e sem nenhuma publicação no currículo. Na verdade, é um pouquinho pior: ela foi rejeitada por todas as revistas e coletâneas para as quais mandou a sua poesia, gastando em inscrições de concursos literários parte dos seus empréstimos estudantis.


Sem mais fundos de seus pais e convidada a sair da sua própria casa, Amy arruma um emprego como vendedora numa sex shop e procura refúgio em uma nova amiga, uma artista perfomática chamada Rubia. Rubia insiste que Amy consiga um mentor, alguém que lhe ajude com contatos e melhora de poesia – e depois de alguma insistência, seu poeta favorito – Rat Billings, que não produz nada aclamado desde a adolescência – a aceita como protegida.

A todo jovem artista uma pergunta é constante: eu sou bom o suficiente? Particularmente, me pergunto isso diariamente, enquanto navego pelas páginas de uma revisão que parece que nunca vai terminar, ou tenho dificuldades enormes em preencher falhas no enredo.


O erro de Amy talvez seja não duvidar de si mesmo literalmente nunca – a garota é ingênua e pretensiosa demais, achando que a grandeza, para um poeta, só pode ser alcançada até os vinte e dois – afinal, qual a graça de ser publicado se você não é um jovem prodígio?


Vida de adulto é uma comédia leve, que no estilo de Pequena Miss Sunshine, nos mostra que finais felizes não podem e não devem ser unânimes no cinema.

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