09 janeiro 2015

Shameless (US)


De longe, Shameless foi a minha melhor descoberta “televisiva” dos últimos tempos. Duas semanas depois de ler um post sobre o seriado e incontáveis episódios passados, eu estava completamente apaixonada pelas desventuras da família Gallagher.

Fiona Gallagher mal passa dos vinte, mas já tem uma grande responsabilidade nas costas: cuidar sozinha dos seus cinco irmãos, cujas idades variam dos dois aos dezesseis. Com uma mãe fugida e um pai alcoolotra (que só aparece para pedir dinheiro emprestado quando não consegue custear o seu alcool com fraudes na previdência social) a vida dos Gallaghers é obviamente desprovida de luxos.

Mais do que isso: com Fiona sobrevivendo de vários empregos temporários e os irmãos na maior parte do tempo na escola (contribuindo financeiramente com bicos e empregos temporários, mas de forma limitada) os Gallaghers são o mais pobres que se pode ser nos Estados Unidos sem se estar na rua. Eles trabalham duro, roubam um pouco e fazem todos os bicos possíveis e imagináveis, mas não raro vemos os personagens contando moedinhas para a comida.


O fato de Frank sempre se meter em confusões (como desaparecer por dias e acordar em lugares estranhos ou se enrolar com uma trapaça para conseguir dinheiro para alcool e drogas) não ajuda muito, e os filhos da família Gallagher se viram muitas vezes na ameaça de irem para foster care – um sistema de famílias adotivas temporárias muito usado nos Estados Unidos para aqueles com pais “incapazes” de criarem sua prole. Mas eles preferem uma vida de dificuldades a viverem separados, fazendo o impossível para ficarem juntos. É uma das partes mais legais de Shameless – não digo só por todo o belo conceito emocional de uma família que passa pelas dificuldades unida, mas pela visão de um tema complicado (sobretudo para esse tipo de público, em sua maioria de classe média) que é a pobreza. Falei aqui na minha resenha de Em busca de um final feliz sobre o tal “fascínio do lixo”, o que leva turistas gringos a embarcarem em tours por favelas; e não é necessária muita explicação sobre o olhar de pena e superioridade tão comum na sociedade brasileira – Shameless não caí em nenhum dos dois. Assim como A culpa é das estrelas é um romance sobre crianças que por acaso têm câncer, sem a doença definí-los, Shameless é um seriado sobre uma família que por acaso é pobre – obviamente suas vidas são extremamente alteradas por isso, mas nunca de uma forma preconceituosa ou irreal.


Além da corajosa e trabalhadora Fiona, temos o pequeno Liam, que estranhamente não se parece com ninguém da família. Logo depois há Carl, que tem gostos bastante perigosos como armas, pequenos incêndios e brigas no colégio, seguido por Debs, uma pré-adolescente que aos poucos vai crescendo (e se tornando irritante no processo).

Ian e Lip, os dois mais velhos, tem mais destaque. Ian é um aluno razoável, faz parte do JROTC (uma espécie de treinamento do exército para alunos do ensino médio) e trabalha num mercado depois das aulas, mas esconde um segredo que crê que irá mudar a percepção da família e do pessoal de seu bairro quanto a ele – sua homossexualidade.


Já Lip me irrita bastante – ele é o maior crítico de Fiona, e em muitos momentos parece não apreciar nada todo o esforço que ele faz para criá-lo. Um aluno excelente na escola, ganha dinheiro fazendo trabalhos e testes pelos outros estudantes, mas quer desperdiçar as suas boas notas ao nem sequer pensar em ir para a faculdade.


Outros personagens secundários vão e voltam, mas dois são recorrentes: Vee e Kev, os vizinhos dos Gallagher. Sempre ajudando e festejando com os Gallaghers, eles tem um relacionamento normal na maior parte do tempo, mas que adiciona um tom de comédia tradicional a série – não o “vamos-rir-para-não-chorar” da maior parte das situações com os Gallagher. E sim, a série é “rir para não chorar” na maior parte do tempo – mas mesmo para os mais durões, é impossível evitar as lágrimas em alguns momentos.


Agora estou na quarta temporada de Shameless, e embora as configurações da família Gallagher mudem bastante (o que é natural e essencial para manter o seriado interessante) a essência continua a mesma. E spoiler: fica cada vez melhor.

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1 comentários:

  1. Eu não conhecia a série, mas adorei sua descrição. Vou logo anotar pra ver logo, logo!

    Beijinhos,
    May :*
    {tagarelando.net}

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