De longe, Shameless
foi a minha melhor descoberta “televisiva” dos últimos tempos.
Duas semanas depois de ler um post sobre o seriado e incontáveis
episódios passados, eu estava completamente apaixonada pelas
desventuras da família Gallagher.
Fiona Gallagher mal
passa dos vinte, mas já tem uma grande responsabilidade nas costas:
cuidar sozinha dos seus cinco irmãos, cujas idades variam dos dois
aos dezesseis. Com uma mãe fugida e um pai alcoolotra (que só
aparece para pedir dinheiro emprestado quando não consegue custear o
seu alcool com fraudes na previdência social) a vida dos Gallaghers
é obviamente desprovida de luxos.
Mais do que isso: com
Fiona sobrevivendo de vários empregos temporários e os irmãos na
maior parte do tempo na escola (contribuindo financeiramente com
bicos e empregos temporários, mas de forma limitada) os Gallaghers
são o mais pobres que se pode ser nos Estados Unidos sem se estar na
rua. Eles trabalham duro, roubam um pouco e fazem todos os bicos
possíveis e imagináveis, mas não raro vemos os personagens
contando moedinhas para a comida.
O fato de Frank sempre
se meter em confusões (como desaparecer por dias e acordar em
lugares estranhos ou se enrolar com uma trapaça para conseguir
dinheiro para alcool e drogas) não ajuda muito, e os filhos da
família Gallagher se viram muitas vezes na ameaça de irem para
foster care – um sistema de famílias adotivas temporárias muito
usado nos Estados Unidos para aqueles com pais “incapazes” de
criarem sua prole. Mas eles preferem uma vida de dificuldades a
viverem separados, fazendo o impossível para ficarem juntos. É uma
das partes mais legais de Shameless – não digo só por todo
o belo conceito emocional de uma família que passa pelas
dificuldades unida, mas pela visão de um tema complicado (sobretudo
para esse tipo de público, em sua maioria de classe média) que é a
pobreza. Falei aqui na minha resenha de Em busca de um final feliz
sobre o tal “fascínio do lixo”, o que leva turistas gringos a
embarcarem em tours por favelas; e não é necessária muita
explicação sobre o olhar de pena e superioridade tão comum na
sociedade brasileira – Shameless não caí em nenhum dos
dois. Assim como A culpa é das estrelas é um romance sobre
crianças que por acaso têm câncer, sem a doença definí-los,
Shameless é um seriado sobre uma família que por acaso é
pobre – obviamente suas vidas são extremamente alteradas por isso,
mas nunca de uma forma preconceituosa ou irreal.
Além da corajosa e
trabalhadora Fiona, temos o pequeno Liam, que estranhamente não se
parece com ninguém da família. Logo depois há Carl, que tem gostos
bastante perigosos como armas, pequenos incêndios e brigas no
colégio, seguido por Debs, uma pré-adolescente que aos poucos vai
crescendo (e se tornando irritante no processo).
Ian e Lip, os dois mais
velhos, tem mais destaque. Ian é um aluno razoável, faz parte do
JROTC (uma espécie de treinamento do exército para alunos do ensino
médio) e trabalha num mercado depois das aulas, mas esconde um
segredo que crê que irá mudar a percepção da família e do
pessoal de seu bairro quanto a ele – sua homossexualidade.
Já Lip me irrita
bastante – ele é o maior crítico de Fiona, e em muitos momentos
parece não apreciar nada todo o esforço que ele faz para criá-lo.
Um aluno excelente na escola, ganha dinheiro fazendo trabalhos e
testes pelos outros estudantes, mas quer desperdiçar as suas boas
notas ao nem sequer pensar em ir para a faculdade.
Outros personagens
secundários vão e voltam, mas dois são recorrentes: Vee e Kev, os
vizinhos dos Gallagher. Sempre ajudando e festejando com os
Gallaghers, eles tem um relacionamento normal na maior parte do
tempo, mas que adiciona um tom de comédia tradicional a série –
não o “vamos-rir-para-não-chorar” da maior parte das situações
com os Gallagher. E sim, a série é “rir para não chorar” na
maior parte do tempo – mas mesmo para os mais durões, é
impossível evitar as lágrimas em alguns momentos.
Agora estou na quarta
temporada de Shameless, e embora as configurações da família
Gallagher mudem bastante (o que é natural e essencial para manter o
seriado interessante) a essência continua a mesma. E spoiler: fica
cada vez melhor.
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Eu não conhecia a série, mas adorei sua descrição. Vou logo anotar pra ver logo, logo!
ResponderExcluirBeijinhos,
May :*
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