14 janeiro 2015

Trocada (livro)

Assim como os nacionais Eduardo Spohr e Raphael Draccon, a minha atenção inicial por Amanda Hocking não se deveu ao conteúdo de seus livros – e sim a sua trajetória no mundo literário.

A jovem de seus vinte e poucos anos foi manchete em sites de notícias no mundo inteiro por ter sido uma das primeiras “milionárias do Kindle”, depois de vender milhares de seus eBooks publicados de forma independente pela Amazon. A ex-lavadora de pratos era uma escritora frenética, virando noites (seu único tempo livre graças ao trabalho) acompanhadas de Redbull a fim de escrever. Ouviu, como qualquer autor, incontáveis nãos de editoras, mas não deixou de criar histórias por causa disso: quando começou a publicar independentemente, já possuía cerca de uma dezena de manuscritos na manga.

Trocada, primeiro livro da trilogia Trylle (fear not, meus amigos fãs de livros de papel: aqui ele foi publicado pela Rocco) foi um desses livros, e apresenta um mundo de fantasia deveras interessante: ao invés de vampiros, lobisomens, fadas ou bruxas, temos aqui trolls. Mas não os trolls tradicionais, enormes e feios, e sim de aparência bem similar a dos humanos, uma conexão especial com a terra (que os impede de comer carne, por exemplo) e alguns poderes especiais, que preferem a palavra “trylle” graças ao estigma de seus nomes originais.

Wendy sempre soube que era diferente de alguma maneira – além de uma rebeldia incontestável, a garota nascida em berço de ouro sofreu uma tentativa de assassinato por parte de sua mãe aos cinco anos, com a mulher afirmando que ela não era a sua filha de verdade, e sim algum tipo de criatura monstruosa. Com o pai morto e a mãe no hospício, ela foi criada pelo irmão e pela tia, que lhe dispensavam inúmeros cuidados, mas nunca o suficiente para domar o instinto atrai-confusão da menina.

Tudo isso fica explicado quando um rapaz atraente (é, tem que ter um desses) chamado Finn entra na sua vida: ela é uma Trylle, e das importantes. Como todos de sua raça, sofreu “changeling”, prática antiga dos Trylle de trocar seus bebês por bebês humanos de famílias ricas, garantindo assim fundos fiduciários sem fim necessários para a manutenção do estilo de vida confortável de todos eles em Forening, uma espécie de condomínio de luxo gigantesco isolado para a proteção dos Trylle. Isso explica tudo para Wendy e lhe enche com um certo alívio – ainda que ela esteja relutante em deixar o irmão e a tia, anseia por um lugar que sinta que pertença.

Mesmo com todos esses nomes curiosos e conceitos que o leitor desconhece, Trocada é bastante interessante. Com aquele gostinho de livro inicial de uma trilogia, ocupa-se principalmente em mostrar os costumes e história dos nossos inovadores trolls, mas Amanda Hocking felizmente não deixa para introduzir o conflito só no final: ele vai escalando aos poucos.

Infelizmente, como muitos autores de Young Adult, a jovem americana não conseguiu não cair nos clichês, com algumas linhas de diálogos saídas de filmes da Sessão da Tarde e referências fora de lugar. O romance, ao contrário do esperado, não me irritou tanto – não é tão meloso, e não rouba a cena do que deve ser o foco da história: a adaptação de Wendy em sua nova casa, com seus novos deveres.


A surpresa não foi tão boa como a dos supracitados autores brasileiros, mas os milhões de Amanda Hocking no Kindle foram conquistado bem justamente: Trocada é uma joia da literatura de entretenimento.

1 comentários:

  1. Não faz muito meu estilo de leitura, mas fico feliz que tenha gostado =)
    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias

    ResponderExcluir