Qual o seu preconceito
literário?
Não negue, eu sei que
você tem. Todo mundo tem – nacionais, fantasia, horror,
chick-lit... A lista é interminável e geralmente, bestsellers e
literatura de entretenimento de forma geral são os alvos preferidos.
Eu particularmente não gosto muito de livros de romance. O meu
preconceito é fundamentado num princípio muito simples: a
literatura costuma superestimar os relacionamentos românticos,
colocando-os como os mais importantes na vida do protagonista –
quando, na verdade, existem outros tipos de relacionamentos que
também são essenciais. Família é muito bom, e quem vive sem
amigos?
Um romance, porém, me
foi designado pela minha infame TBR Jar, potinho de livros para ler
que decide meu futuro leitor através da sorte. Este romance foi
Belleville, que me surpreendeu – e me fez perder um pouco do
preconceito com o gênero.
Lucius é um cara
bastante comum. Um dos poucos defeitos de Belleville – e já
vou avisando desde já – foi a tentativa de pintá-lo como um ser
extraordinário, mas em tempos de John Green, nerds loucos por
matemática e com poucas habilidades sociais dificilmente me
convencem como personagens únicos. Sim, ele é bastante comum – e
isso não é ruim.
Ele se muda de sua
cidade – onde mora somente com o pai, que cria orquídeas e as
vende em sua floricultura – para a belíssima Campos do Jordão, a
fim de cursar licenciatura em matemática. Estranhamente, ele
consegue um ótimo negócio no aluguel: um contrato para ocupar,
pelos cinco anos de seu curso, um casarão, há muito tempo
abandonado.
Em um pequeno passeio
pela propriedade, Lucius encontra algo bastante peculiar: um início
de montanha russa. Não os monstros de metal dos parques, mas sim uma
montanha russa de madeira, cujos projetos estão trancados em um
galpão do quintal. Mais ainda: por acaso ele encontra também uma
caixa, com uma carta datada de 1964, na qual a antiga moradora –
uma bela jovem chamada Anabelle pede que o estranho do futuro termine
a montanha russa, o sonho de seu pai que acabara de falecer e que
fora batizada de Belleville.
Sem recursos para
continuar o projeto, Lucius deixa então outra carta para outro
futuro morador, pedindo-lhe que realize o sonho da menina. A carta –
de alguma maneira inexplicável e misteriosa – viaja no tempo,
encontrando Annabelle e iniciando uma série de correspondências
sobre a montanha russa e as vidas solitárias dos dois.
Belleville me ganhou
por não ser só uma história de romance – cheia de mudanças e
complicações no caminho dos dois, que se unem graças a construção
da montanha russa. Apesar de errar em tentar pintar Lucius como um
excluído qualquer – um rótulo bastante genérico e usado vezes
demais para ser criativo – o autor consegue desenvolver bem sua
personalidade de verdade ao longo da história, assim como a de
Annabelle e dos personagens secundários.
Felipe Colbert também
se mostrou um ótimo desenvolvedor de histórias, adicionando
detalhes importantes e fazendo com que cada cena contasse.O que é
muito bom: há uma tendência em livros, sobretudo os Young Adult, de
encher a obra de cenas inúteis que nada mostram nem contribuem a
história. Belleville foi uma ótima ajuda para a quebra do
meu preconceito literário.