21 janeiro 2015

Belleville (livro)


Qual o seu preconceito literário?

Não negue, eu sei que você tem. Todo mundo tem – nacionais, fantasia, horror, chick-lit... A lista é interminável e geralmente, bestsellers e literatura de entretenimento de forma geral são os alvos preferidos. Eu particularmente não gosto muito de livros de romance. O meu preconceito é fundamentado num princípio muito simples: a literatura costuma superestimar os relacionamentos românticos, colocando-os como os mais importantes na vida do protagonista – quando, na verdade, existem outros tipos de relacionamentos que também são essenciais. Família é muito bom, e quem vive sem amigos?

Um romance, porém, me foi designado pela minha infame TBR Jar, potinho de livros para ler que decide meu futuro leitor através da sorte. Este romance foi Belleville, que me surpreendeu – e me fez perder um pouco do preconceito com o gênero.

Lucius é um cara bastante comum. Um dos poucos defeitos de Belleville – e já vou avisando desde já – foi a tentativa de pintá-lo como um ser extraordinário, mas em tempos de John Green, nerds loucos por matemática e com poucas habilidades sociais dificilmente me convencem como personagens únicos. Sim, ele é bastante comum – e isso não é ruim.

Ele se muda de sua cidade – onde mora somente com o pai, que cria orquídeas e as vende em sua floricultura – para a belíssima Campos do Jordão, a fim de cursar licenciatura em matemática. Estranhamente, ele consegue um ótimo negócio no aluguel: um contrato para ocupar, pelos cinco anos de seu curso, um casarão, há muito tempo abandonado.

Em um pequeno passeio pela propriedade, Lucius encontra algo bastante peculiar: um início de montanha russa. Não os monstros de metal dos parques, mas sim uma montanha russa de madeira, cujos projetos estão trancados em um galpão do quintal. Mais ainda: por acaso ele encontra também uma caixa, com uma carta datada de 1964, na qual a antiga moradora – uma bela jovem chamada Anabelle pede que o estranho do futuro termine a montanha russa, o sonho de seu pai que acabara de falecer e que fora batizada de Belleville.

Sem recursos para continuar o projeto, Lucius deixa então outra carta para outro futuro morador, pedindo-lhe que realize o sonho da menina. A carta – de alguma maneira inexplicável e misteriosa – viaja no tempo, encontrando Annabelle e iniciando uma série de correspondências sobre a montanha russa e as vidas solitárias dos dois.

Belleville me ganhou por não ser só uma história de romance – cheia de mudanças e complicações no caminho dos dois, que se unem graças a construção da montanha russa. Apesar de errar em tentar pintar Lucius como um excluído qualquer – um rótulo bastante genérico e usado vezes demais para ser criativo – o autor consegue desenvolver bem sua personalidade de verdade ao longo da história, assim como a de Annabelle e dos personagens secundários.


Felipe Colbert também se mostrou um ótimo desenvolvedor de histórias, adicionando detalhes importantes e fazendo com que cada cena contasse.O que é muito bom: há uma tendência em livros, sobretudo os Young Adult, de encher a obra de cenas inúteis que nada mostram nem contribuem a história. Belleville foi uma ótima ajuda para a quebra do meu preconceito literário.

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