29 junho 2013

Paperboy


Nem todos os livros falam sobre o que parecem falar a priori. Já aprendi há muito a não confiar em sinopses, então o rótulo de “romance gótico” dado a Paperboy pela mesma felizmente não me enganou. Os primeiros capítulos sim.

Jack é um nadador expulso no seu terceiro ano da Universidade da Flórida. A situação o obriga a voltar para a casa de seu pai, o dono de um jornal de tendências liberais em uma cidadezinha no interior do estado, trabalhando para o mesmo como entregador de jornais.

O tédio da sua quase infantil ocupação é logo perturbado por seu irmão mais velho, Wade, que se dirige a terra natal junto com seu colega Yadley, ambos jornalistas – o jornal para o qual os dois trabalham em Miami recebeu uma carta de Charlotte Bless, uma quarentona estranhamente atraída por assassinos (com uma especial queda por aqueles no corredor para a cadeira elétrica) que diz que seu noivo (a quem ela nunca viu) foi injustamente condenado a morte. O noivo em questão é Hilliary Van Wetter, preso pela morte do xerife de Moat, um homem sem escrúpulos que já havia matado dezessete cidadãos (e só afastado do trabalho porque o décimo sétimo, parente de Van Wetter, era branco, contrariamente aos outros dezesseis).

Kaboom, já temos elementos para uma boa história. Yadley, como uma parte incrivelmente grande dos jornalistas, não está interessado na verdade, e sim em uma boa história. Já Wade o completa, atendo-se aos fatos o máximo possível e pesquisando os mínimos detalhes.

Mas onde entra Jack? Bom, aí que está a beleza da história – em tudo. Paperboy é o romance de formação desse inesperado protagonista, que aprende muito sobre sua família e sobre si mesmo no período em que trabalha como motorista e auxiliar para os dois jornalistas.

 Assim como outros blogueiros, estranhei um pouco a percepção ímpar de Jack sobre as coisas – sempre atento aos mínimos detalhes comportamentais daqueles a sua volta, com reflexões geniais sobre suas motivações e razões. Porém, quase me estapeei ao ver a enorme e terrível mácula dos estereótipos sob a minha percepção: porque Charlie, de As vantagens de ser invisível, podia ser assim sem demais estranhamentos e Jack não?

Não posso falar muito mais coisa sem entregar partes importantes da história, mas Paperboy é maravilhoso de se ler. A escrita é bastante crua e sem nos poupar muito, em um estilo que me lembra bastante Chuck Palahniuk (Clube da Luta e Sobrevivente) o que desenvolve uma relação leitor-personagem tão grande que mesmo que você ande distraidamente indiferente ao mundo (tipo eu) não dá para deixar de chorar em algumas partes.

Assim como George Martin e Veronica Roth, Pete Dexter entrou na minha lista de “ótimo trabalho com os personagens secundários”. Desde a louca e vaidosa Charlotte até o velho pai de Jack e Wade, todos eles são retratados de uma forma bela e complexa. Não, infelizmente não sabemos o porquê exato da maluca atração de Charlotte Bless por assassinos, mas o autor tem sucesso em descrever, através dos olhos de Jack, suas ações de forma verossímil. Já o pai dos garotos é um homem com passado, presente e futuro provável, sua dor de se ver afastado dos filhos saltando das páginas.


Não achei o romance gótico que me prometeram nem o thriller que previ, mas de um gênero ou de outro, Paperboy valeu a pena.

6 comentários:

  1. É uma leitura que eu venho desejando faz um tempinho! Estou bastante curiosa, e ler sua resenha fez eu ficar ainda mais curiosa. rsrs

    Adorei.


    Clicando Livros
    Beijos ;*

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  2. Que bom que valeu a pena! Não sabia o que esperar muito de Paperboy, confesso, mas lendo sua resenha, parece mesmo bom. Mesmo não sendo o gênero de história que me interesso de primeira, será uma leitura bem diferente do que normalmente leio, e acho isso bom o/

    Beijos ><
    Meu outro lado

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  3. Oie Isa
    tenho medo de rótulos em certos livros, especialmente aqueles que rotulam como góticos rs e eu já esperava que o rótulo deste não correspondia a verdade (acho que fui influenciada pela cara fofinha de Zac Efron na capa shausuahsu). mas ainda assim, quando bati o olho na sinopse já sabia que esta seria uma leitura maravilhosa, e sua resenha só veio confirmar isto.Já esta na pilha de leitura para julho.
    bjos

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  4. Não tinha lido nenhuma resenha de Paperboy ainda. Me interessei bastante pela trama.

    Beijos,
    http://caheoslivros.blogspot.com.br/

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  5. Oie Isabel =)

    Confesso que esse livro não me chamou muito atenção na época do seu lançamento e mesmo agora depois de ler algumas resenhas dele, eu ainda não senti aquela curiosidade.

    Fico feliz que apesar da sinopse ser meio "enganadora" no final o livro vale a pena!

    Beijos e um ótima semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  6. Fiquei bem curiosa. Gosto quando aparecem tramas entre vários personagens. Ótima resenha.
    boa semana
    ;*

    www.redbehavior.com

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