31 janeiro 2012

Retrospectiva de Janeiro e Perspectivas para Fevereiro

Inspirada no pessoal do Desafio Literário e em algumas blogueiras YA, farei uma retrospectiva/perspectiva todo último dia do mês.
Retrospectiva de Janeiro
Foi um mês bom, literariamente falando. Não li tanto quanto eu deveria durante o tédio que assola os dias de férias, mas, ainda assim, cumpri a maior parte das minhas metas.
Número de livros lidos – Onze
Melhor livro – Essa é bem difícil... Li muitos livros bons este mês. Contudo, acho que o prêmio vai para Em Chamas, segundo livro da trilogia Jogos Vorazes e meu preferido da série.
Pior livro – Engraçado isso: o melhor e o pior indo para a mesma série. Contudo, eu tenho que dizer A Esperança, da série Jogos Vorazes. Não sei se é porque esperava grandes coisas pro final da série, mas é difícil contentar-me com um desenvolvimento podre e um final água com açúcar. Também não gostei muito da coletânea de contos Amores Infernais.
Surpresa do mês – Na verdade, foram dois: Anna e o beijo francês, de Stephanie Perkins – que provavelmente é o melhor, senão um dos, livros adolescentes que já li – e A breve segunda vida de Bree Tanner, de Stephanie Meyer, que me surpreendeu por ser da criadora dos vampiros nada assustadores de Crepúsculo.
Desafio literário – Os igualmente maravilhosos Como água para Chocolate e Escola dos Sabores. Muito obrigada aos organizadores do desafio pela maravilhosa escolha de tema, foi muito bom conhecer este gênero, deparando-me logo de cara com dois livros muito bons!
Clássico – Acho que Pergunte ao pó, de Jonh Fante, deve contar, mesmo sendo um clássico americano e moderno. O mesmo para Como água para chocolate.
Perspectivas para Fevereiro
Acabei estabelecendo o mesmo número de livros para Fevereiro. Mesmo com a escola, sinto que a maresia das férias me faz ler menos - a indisposição causada por ficar o dia todo desocupada é tanta que até fazer algo que nos dá prazer é difícil.
Desafio Literário – O tema é “nome próprio”, ou seja, livros que tenham em seu título o nome de seu personagem.
Emma, de Jane Austen – afinal, Jane Austen sempre é bom, né? Adoro os romances de costumes feitos pela escritora inglesa, que ao mesmo tempo falam de amor e das tradições cheias de escrúpulos dos ingleses no século dezenove.
Olga, de Fernando Morais – assisti ao filme-biografia, e estou doida para ler o livro :D
Baudolino, de Umberto Eco – este livro é bastante especial para mim, porque foi o que minha avó estava lendo antes do derrame que levou à sua morte. Antes eu acreditava que Umberto Eco era provavelmente um pouco complicado demais para mim, mas dei uma folheada no livro e creio que possa lê-lo sem maiores problemas.
Drácula, de Bram Stoker.
Outros – Comecei a ler ontem A naúsea, de Sartre, e provavelmente só terminarei mês que vem haha. Já que lerei Emma, de Jane Austen, pretendo ler também outros livros da autora, tais quais Razão e Sensibilidade e Mansfield Park. Também pretendo ler o clássico de Dostoievski, Crime e Castigo; o brasileiro Cidade de Deus ; o de não-ficção (aliás, nova meta minha: um livro de não-ficção por mês) As veias abertas da América Latina e A sociedade do Anel (o primeiro livro da série O senhor dos anéis).

30 janeiro 2012

L12 - A breve segunda vida de Bree Tanner


Eu poderia pagar de pseudo-cult e dizer que detestei Crepúsculo desde a primeira vez que li, mas isso seria faltar com a verdade. Já suspirei com a série de Stephanie Meyer durante algum tempo, usei uma camisa escrito “I <3 Twilight” para a estréia do primeiro filme e gritei JACOB DELÍCIA no segundo. Contudo, com o passar do tempo, comecei a ver Edward como um imbecil obsessivo; Bela como uma criatura sem sal ou opiniões e vida própria e Jacob como a única criatura com um pingo de juízo em todo esse bolo – e olha que, em termos de obsessão, ele por pouquinho não se emparelha com Edward.
Mas, há duas semanas, lá passo eu nas Lojas Americanas e vejo A breve segunda vida de Bree Tanner por cinco reais. Meus caros, com cinco reais, você no máximo faz um lanche e, de qualquer jeito, esse livro é bastante procurado no site de trocas LivraLivro – qualquer coisa, era só eu trocar por algo melhor.
A breve segunda vida de Bree Tanner é uma história de Eclipse: a fim de matar Bela (que é a mocinha da saga, namorada do vampiro perseguidor obsessivo Edward Cullen e melhor amiga do lobisomem Jacob – é, saquem só como a garota leva uma vida comum) Victoria (cujo companheiro foi morto pelos Cullen) cria Riley, e lhe dá uma missão: fazer um exército de vampiros. Sua última criação é Bree (que tem três meses de idade quando a história é contada), uma garota que fugiu de casa por causa dos abusos físicos do pai e se torna nossa narradora.
Um dos grandes problemas que vi com Stephanie Meyer é que os vampiros dela não me parecem saídos de um conto de terror, e sim de um conto de fadas. Pois bem, isso não se aplica aos recém criados de A breve segunda vida de Bree Tanner: eles são violentos, tanto com os humanos – muitos deles os torturam antes de tomar seu sangue – quanto entre si.
Bree é extremamente carismática e retrata muito bem a fúria dos recém-criados e seu possível par romântico, Diego, é bastante inteligente. Também é bastante interessante ver vampiros com um modo de vida “tradicional” na obra de Stephanie Meyer. Não chega a ser um livro estilo “oh, que livro genial e legal”, mas é bastante diferente da saga que lhe deu origem.
Nota: 3/5

F10: Os homens que não amavam as mulheres

Sou uma grande fã da trilogia Millenium. É bem complicado se ver um livro ou filme feminista, e ao contrário de algumas blogueiras americanas
, acredito que Millenium mereça tal rótulo. Gosto do jeito com que Stieg Larsson mostra a violência contra a mulher: onipresente (mesmo em sociedades em que a igualdade deveria estar perto de ser concretizada, feito a Suécia, de onde ele era e onde Millenium se passa) e terrível.
Infelizmente, ainda não assisti a versão sueca do filme - que, pelo que dizem, é bem mais fiel - mas fui na sexta conferir a versão americana. Como com Sherlock Holmes, meus sentimentos quanto a mesma foram contraditórios.
O jornalista Mikael Blomkvist está em apuros: depois de cair em uma armadilha, é condenado por difamação por denunciar sem grandes provas o milionário Wennestrom. Graças a isto, suas economias estão acabadas e sua carreira como editor de uma revista independente - a Millenium - está em ruínas. No meio desta confusão, o industrial Henrik Vanger lhe oferece um emprego que, além de melhorar sua situação financeira, pode lhe dar a cabeça de Wennestrom (que começou a carreira no grupo Vanger): descobrir quem foi o assassino de Harriet Vanger, sobrinha de Henrik. Conforme Mikael vai avançando na investigação, descobre mais e mais mistérios que cercam a morte de Harriet, e começa a precisar de ajuda. Por isso, associa-se a anti-social, habilidosa e feminista não auto-declarada Lisbeth Salander.
Só assisti duas adaptações realmente boas - As vinhas da Ira e Jane Eyre - mas sempre espero muito de adaptações de livros bons. Com Millenium, contudo, foi diferente: de antemão, eu já sabia que o filme dificilmente faria jus à obra original, pelo livro ser bem longo e possuir um ritmo lento que não combina com filmes cujo ator principal já viveu James Bond. Como já esperava este defeito, não foi a evolução rápida das coisas que me irritou, e sim outro aspecto que justifica este texto: os aspectos feministas do livro se perderam quase que completamente. O diretor omitiu as falhas de Mikael, e não fez Lisbeth Salander ou Erika Berger (uma das donas e editora-chefe da Millenium) serem tão fortes quanto Stieg Larsson as pinta.
Daniel Craig também não me agradou: não consegui vê-lo como o mesmo Mikael dos livros - na maior parte do tempo, faltou a coragem e a humildade deste personagem, e lhe sobrou o aspecto heróico que, em geral, é conferido a sua parceira. Já Rooney Mara me convenceu como Lisbeth Salander: ela realmente me pareceu a mesma moça anti-social e brilhante dos livros.
Outra coisa que detestei foi a mudança no final: mesmo leve, fiquei com aquela coceirinha de fã por causa disso. A inserção de aspectos do segundo livro no filme também não fica atrás: fiquei me perguntando como o roteirista fará para inserir determinadas cenas caso haja uma continuação do filme.
Apesar de tudo, ainda se vê muito das qualidades da obra de Stieg Larsson no filme. Quem é fã - como sempre - provavelmente se decepcionará, mas, ainda assim, o indico.
Nota: 3/5

28 janeiro 2012

L11 - Como água para chocolate


Numa aula de espanhol, eu já havia assistido ao filme de Como água para chocolate – e gostado bastante. Como é tendência, o livro mostrou-se muito melhor.
Tita de La Garza cresceu na cozinha: por sua mãe, a temível Mamá Elena, não ter leite para dar a sua filha caçula, sua alimentação – além de qualquer vínculo emocional com o resto do mundo – ficou por conta de Nacha, empregada da família. Talvez seja por isto que Tita se tornou uma maravilhosa cozinheira, e também a razão pela qual os capítulos do livro sejam estruturados em torno de uma receita: a autora soube bem intercalar a forma de preparo de diversos quitutes com acontecimentos significativos pro enredo.
Por causa de uma velha tradição familiar – a de que a filha caçula deveria cuidar da mãe até que a mesma morresse – Tita é privada de casar-se com Pedro, a quem ama bastante. Pedro, a fim de ficar perto de sua amada, casa-se com sua irmã, Rousaura, iniciando-se assim uma série de intrigas na família de La Garza. Essas intrigas são literalmente alimentadas pelas reações causadas pela comida preparada por Tita, que carrega todas as emoções que a mesma sentiu durante o seu preparo.
Para alguém desacostumado – feito eu – o gênero realismo literário, ao qual o livro pertence, pode soar estúpido e infantil. Contudo, depois que me acostumei, dei boas risadas com os “exageros” presentes neste tipo de obra.
Os personagens são um ponto que divergiu minha opinião: enquanto adorei Tita, a heroína, por sua força e coragem, detestei Pedro por ele ser completamente diferente de sua amada. Mamãe Elena foi uma vilã maravilhosa: Laura Esquivel conseguiu fazê-la detestável, mas ao mesmo tempo humana.
Mais um ótimo livro para o Desafio Literário 2012. Que venham muitos mais nos próximos onze meses!
Nota: 4/5

26 janeiro 2012

F9: Sherlock Holmes: O jogo das sombras



Mesmo mais de uma semana depois (aliás, me desculpem pela ausência, estava na praia e o 3G da Tim é uma porcaria por lá) de ter assistido Sherlock Holmes: O jogo das sombras no cinema, ainda não me decidi sobre a minha opinião quanto ao mesmo.
Em Sherlock Holmes: O jogo das Sombras, Watson, companheiro inseparável de Holmes, está prestes a se casar. Holmes, contudo, tem outros planos para os dois, pois está envolvido no maior caso de sua carreira: pegar o professor Moriarty, brilhante intelectual e assassino que pretende deflagrar uma guerra na Europa.
Li alguns dos livros da série do famoso detetive e simplesmente não conseguia enxergar o Sherlock das telas como o mesmo do livro. O Sherlock que imaginei ao ler era inteligente, arrogante, viciado em cocaína e não tão bonito como Robert Downey Jr. – embora as duas primeiras características que citei lhe conferissem um tiquinho de charme às vezes. Vi somente alguns lampejos disto no ator escolhido: em algumas cenas, o ar de extrema esperteza parecia genuíno, mas no resto, ele continuava com uma aura intangível do Stark de O homem de Ferro.
Porém, quando eu consegui afastar-me do olhar de fan girl, acabei gostando muito do filme: é uma mistura de um roteiro inteligente com cenas de ação bem feitas. Ponto (como sempre, hihi) para Jude Law, que fez o dr.Watson: ele realmente me convenceu, não só como parte daquele filme em especial, mas também como o mesmo personagem que narra os livros.

Não vá esperando uma boa adaptação da obra de Conan Doyle: quanto mais fã você for, mais estupefato ficará. Contudo, para aqueles que querem simplesmente um filme hollywoodiano razoável, o filme cumpre muito bem esta proposta.
Nota: 3/5

20 janeiro 2012

L10: Escola dos sabores (Desafio Literário 2012)


Não adianta: sou uma das do time que escolhe livro pela capa e pelo nome. Por isso que não hesitei em pedir Escola dos Sabores, de Erica Bauerminster, de presente em um amigo secreto – me iniciando assim no até então desconhecido gênero da literatura gastronômica e cumprindo o primeiro mês do Desafio literário 2012
.
Não, literatura gastronômica não é livro de receita, e sim uma estória onde a comida e o ato de cozinhar são atores importantes no enredo, feito Escola dos Sabores que conta, através de lembranças despertadas por uma aula de culinária, a trajetória dos participantes da mesma.
Há Lillian, a professora e renomada chef, que curou a catatonia da sua mãe através de pratos preparados com muito amor e sensibilidade; Claire, a jovem mulher que perdeu sua própria identidade e noção de individualidade depois de ter filhos; Isabelle, cujas lembranças estão se perdendo com o passar da idade; Chloe, garçonete cujo relacionamento está em crise; Carl e Helen, casal aparentemente feliz, mas com um problema que os incomoda há anos; Ian, engenheiro de software que procura estabilidade; Tom, que quer recuperar o prazer pelo ato de comer depois da morte de sua mulher, que era chef de cozinha e finalmente Antonia, imigrante italiana que veio arriscar-se como decoradora do outro lado do oceano.
Sou suspeita para falar de qualquer coisa relacionada a comida: amo cozinhar e mais ainda comer. Mas o jeito que Erica Bauerminster escreve há de cativar até mesmo aqueles não tão fascinados por essas duas artes: ela descreve as sensações produzidas pela comida de uma forma maravilhosa e liga as trajetórias pessoais dos personagens a mesma muito bem. Apesar de conhecer muito bem a emoção de estar diante de um prato bem preparado,fiquei com uma certa inveja da capacidade de “metaforizar” as coisas e dos sentidos aguçados da autora: no conforto de um prato de purê bem feito ou na explosão de sabores de um taco. As descrições e comparações, aliás, são o ponto alto do livro: o enredo é meio mulherzinha, mas as imagens criadas durante todo o livro são tão fantásticas que valem a pena. Adorei, um ótimo começo para o Desafio Literário 2012.

18 janeiro 2012

F8: Je suis né d’une cigogne



Otto está desempregado e vive uma existência sem grandes alegrias junto a sua mãe. Louna é uma imigrante alemã que está às voltas entre seu treinamento em um salão de beleza e o despejo do quarto que aluga. Ali é argelino e não sabe se adapta aos costumes franceses ou continua com os seus hábitos árabes, não perdendo assim a cultura de seu povo e sua própria identidade.
Um belo dia, esse três jovens literalmente piram, saindo pela França com somente uma arma como ajuda. Os motivos, no começo, podem parecer ideológicos – Otto, Louna Ali são bastante politizados – mas não passam de cansaço: cansaço do desemprego, da xenofobia e de ter que lidar com mais responsabilidades que os vinte e poucos anos deveriam ter.
No meio do caminho – logo quando eu comecei achar que não há um propósito de verdade na viagem dos três protagonistas e sim somente a vontade de “dar o troco” por seus problemas – eles encontram uma cegonha. Essa cegonha acaba-se revelando um imigrante argelino chamado Mohammed, que desertou do exército do seu país e quer encontrar na Alemanha emprego e uma vida sem guerra.
Algumas partes são meio sem sentido, mas o resto do filme acaba compensando. Principalmente porque insere uma discussão que ainda é muito atual (mesmo que Je suis né d’une cigogne seja de treze anos atrás): como incorporar imigrantes e refugiados sem que os mesmos sejam aculturados? Como evitar que os mesmos sejam perseguidos por grupos de extrema direita? Como ditar um limite para a imigração, evitando que os sistemas de saúde e educação sejam sobrecarregados?Se eu soubesse responder essas perguntas, eu ganharia o prêmio Nobel da Paz, mas infelizmente não é o caso. Contudo, são ótimas questões para se pensar e discutir – até porque, já é realidade no Brasil: milhares de haitianos, fugindo do caos que está seu país pós-terremoto, estão vindo (por vezes ilegalmente) para o nosso país. Além disso, a crise em alguns países da Europa aumentou ainda mais a perseguição aos imigrantes, e é necessário cuidado para que os atentados xenofóbicos como o ocorrido na Noruega não se repitam.
Essa tal de “aculturação” é exemplificada nas cenas em que o pai de Ali tenta – com a melhor das intenções, afinal, eles não queriam ser mandados de volta à Argélia, onde a guerra estava em seu pior momento – fazer com que os filhos e a mulher se adaptem aos costumes franceses: tudo, desde os nomes, comida, religião, música escutada e forma de criação dos filhos teve de ser modificado, perdendo parte da sua identidade. Isso é a razão da revolta de Ali que, inspirado por vários filósofos – cujos livros ele devora durante a viagem – acredita na igualdade entre os povos, não em uma cultura sendo subjugada por outra.
De modo geral, adorei o filme: não é maçante como muitos filmes “alternativos” costumam ser e levanta muitas discussões nas entrelinhas. Recomendo bastante :D
“Tempos melhores virão. Com as vigas carbonizadas, com a terra e o sangue, vamos reconstruir, sem portões nem fronteiras, e nunca mais viveremos só de esperança.”
[trecho do filme]
Nota: 5/5

17 janeiro 2012

L9: Amores infernais


Aprecio muito coletâneas de contos: gosto do jeito como bons autores conseguem fazer uma boa estória em poucas páginas. Eu já havia lido Formaturas Infernais quando o segundo livro dessa “série” (de coletâneas de contos de um só tema, feitos por vários autores relativamente famosos quando se trata de YA) caiu nas minhas mãos.
Mas aí é que tá: enquanto em Formaturas Infernais a maior parte dos contos me agradou, não gostei muito de Amores Infernais. Um único conto realmente me agradou – Abominável mundo perfeito, de Scott Westerfeld – e minhas impressões sobre os outros variavam de “dá pra ler” a “detestável”.
Impressões sobre os contos:
1 – Dormindo com o espírito
Apesar da premissa ser interessante – uma garota que se apaixona pelo espírito que assombra sua casa por ter morado e morrido nela anos atrás – o conto não foi muito bem desenvolvido. Não acredito nem que seja culpa do número de páginas, já que a autora meio que “encheu lingüiça” em alguns pontos.
2 – Abominável mundo perfeito
Do autor da série Feios, o livro retrata um mundo onde as pessoas não passam por vários incômodos diários – doenças, dormir, hormônios na adolescência, deslocamento lento e etc. Contudo, para uma aula, todos têm que abrir mão de alguma coisa, e voltar para a antiguidade – ou seja, o nosso tempo.
Gostei muito do conto, pois meio que lançou (ainda que nas entrelinhas) uma discussão sobre o quanto a tecnologia pode “desumanizar o homem”.
3 – Mais ralo que água
Gostei um pouquinho desse conto, que conta a história de uma garota em uma aldeia que, apesar de ser dos dias de hoje, ainda parece estar presa na idade média: todos fazem tudo como há cem, duzentos anos atrás. A estória é envolvente – mistura mitologia, um cenário pitoresco e uma personagem interessante – mas a escritora é mediana, o que dificultou o desenvolvimento da trama.
4 – Fan fic
Não gostei muito: o romance entre os dois personagens principais era muito parecido com Crepúsculo, inclusive na parte sobrenatural, e a trama se arrasta – o que não é legal de se acontecer em um conto desse tamanho.
5 – Perdido de amor
Outro com premissa interessante: usa a mitologia de um determinado local para dar o toquezinho de sobrenatural no conto. Contudo, infelizmente, o relacionamento do casal-tema é meio estranho, e a personagem principal é desagradável – não uma chata de galocha feito Mia de O diário da princesa ou egocêntrica feito Tally de Feios, só desagradável mesmo.

No geral, os contos não são bons: me decepcionei um pouco por esperar a qualidade parecida com Formaturas Infernais. Ainda assim, quero ler o próximo, recém lançado por aqui: Beijos Infernais - cuja capa brasileira é linda! Alguem já leu?

Nota: 2/5

16 janeiro 2012

L8: Pergunte ao pó


Mesmo o detestando, eu mandaria flores para o enterro de Arturo Bandini, personagem principal do livro Pergunte ao pó. Estas flores, porém, não seriam condolências, e sim uma doce ironia quanto às suas negadas origens. Explico: o talzinho insultava a sua amada latina, Camilla, por suas raízes, mesmo que suas duas únicas caracteristicas em comum fossem sua nacionalidade e imigração recente de seus antepassados.
Portanto, assim como os gangsteres italianos, eu mandaria flores para o enterro de Arturo Bandini, mesmo sabendo que se um dia nos encontrássemos, a inimizade seria despertada a primeira vista. Bandini é odioso: é daquele tipinho de artista (no caso, escritor) que não entende como o mundo ainda não se curvou perante a sua obra (mesmo que ela se resuma a um só conto) e ao invés de praticar, lamenta-se pelos cantos as injustiças e obstáculos que as musas, seu editor e quase inexistentes leitores estão lhe impondo. Pior: Bandini é um gastalhão, e não guarda um só centavo dos seus pagamentos pelas suas poucas publicações, gastando-os com futilidade e com a certeza de que, futuramente, aqueles trocados de direitos autorais serão substituidos por milhares e milhares de dólares graças a sua genialidade literária.
Eu poderia ter jogado o livro pela janela se Jonh Fante, autor do livro, não fosse tão bom. Por algumas horas, eu FUI Bandini, e assim como ele, vaguei confusa por debaixo do sol da Califórnia, martelei inutilmente uma máquina de escrever e desenvolvi uma relação de amor e ódio com uma garçonete latina. Na arte de fazer com que o leitor se sentisse no lugar do personagem Fante era mestre, e os sentimentos contraditórios de Bandini me acertavam repetidamente como vagões de um trem em alta velocidade. Não havia espaço para respirar: quando eu imaginava que Bandini havia se cansado de todo o seu drama, uma âncora de alguma de suas ações estúpidas me puxava para baixo, fazendo com que eu me afogasse de novo no mar da angústia desse tão estranho personagem. Desde as primeiras páginas, um enredo ou até mesmo o começo meio e fim do livro parece inexistente, mas isto acaba se revertendo em virtude: tive a sensação de que tudo estava ocorrendo enquanto eu estava lendo, tornando o livro muito mais real.
Não conhecia a obra de Jonh Fante, e nunca me interessei muito pelos escritos da Geração Beatnik, que foi inspirada por ele - a escrita sem fôlego de Jack Kerouac (o mais famoso escritor beat) me fez desistir de Os Vagabundos Iluminados na quinta página. Contudo, Pergunte ao pó é tão bom que resolvi parar de ignorar, em termos literários, o século XX.
Nota: 5/5

15 janeiro 2012

O clube da luta (filme)


Como descrever “O clube da luta”? Acho que genial seria bem apropriado aqui. 
Junte meia dúzia de personagens fascinantemente estranhos e seus conflitos existências: você já teria um filme extremamente bom. A história central, contudo, vale tanto quanto aqueles que participam dela.
O personagem principal – cujo nome não é citado convenientemente – tem uma vida comum (hã, fora o fato de que ele freqüenta grupo de apoio a pessoas com doenças terminais a fim de chorar, se sentir melhor e conseguir se livrar da insônia, mas enfim) e um emprego comum até conhecer Tyler, que é, como diria minha mãe, “uma figura”: sobrevive de pequenos bicos (dentre eles: vender sabão a ricaças feito de gordura humana retiradas de clínicas de lipoaspiração; ser garçom no restaurante de um hotel, “temperando” a comida de uma forma, hm, bem especial e sendo projecionista de um cinema, trocando os rolos de filme quando os mesmos acabam e, “acidentalmente”, incluindo uma ou duas cenas de filmes pornô que duram milisegundos em filmes para crianças) e vive em uma casa caindo aos pedaços.
Depois de um incêndio em seu apartamento, o personagem sem nome vai morar com Tyler, e, depois de uma briga no estacionamento de um bar, ele percebe o quão vivo ele se sentia após brigar. Ele não era o único: vários homens se juntaram a ele e Tyler, fundando assim o Clube da Luta.
A coisa sai completamente do controle, transformando o clube da luta no ‘projeto destruição’, que, segundo Tyler, irá destruir tudo aquilo que prende e deixa as pessoas infelizes.
E, é sobre isso que achei que ‘Clube da Luta’ fosse: pessoas infelizes, cujas personalidades não se adaptam ao modelo ditado pela sociedade*. O personagem principal é o maior exemplo disso: ele tem um bom apartamento, um bom emprego e saúde, mas a infelicidade – representada sob a forma de insônia – ainda bate a sua porta. E ele, como todos os membros do Clube da Luta, encontra na dor sentida ao apanhar bastante uma maneira de fuga.


*Não gosto – na verdade odeio – usar o termo sociedade como uma instituição invisível, onipresente e controladora. Acho extremamente cretino – afinal, eu também faço parte dela. Qualquer crítica feita a sociedade é uma crítica direta feita a mim mesma e a quem me lê. Mas, infelizmente, é o único termo que se encaixa as vezes.

14 janeiro 2012

L7: Anna e o beijo francês


Confesso ter certo preconceito com livros YA que não têm o que chamo de “algo a mais” – falo de distopias, situações pós apocalípticas ou um toque de sobrenatural ou fantasia. Digo isso porque a probabilidade do tal livro (quando se mistura a faixa etária do público alvo e a falta do toquezinho de irrealidade) ser um romance açucarado, com uma protagonista dramática demais ou obcecada (alerta para clichê americano!) pela tal da popularidade é grande.
Mas Anna e o beijo francês estava dando bobeira, muita gente na blogosfera YA falou bem e eu estava entediada: isso, somada a qualidade e leveza do livro, me fez lê-lo de uma noite.
Anna, a protagonista, é obrigada por seus pais a ir estudar em um internato em Paris. A primeira vista, não entendi do que ela tanto reclamava (pô, Paris ainda é Paris!), mas só aí vi o quão complicado era: em Atlanta, sua cidade natal, ela estava em sua zona de conforto, com amigos, uma escola que ela aprendera a suportar e um emprego que, além de oferecê-la o próprio dinheiro, oferecia também a visão de um colega gato.
Contudo, a mudança para a cidade luz era inevitável, e lá foi ela, que começou com sorte: logo fez uma amiga, Meredith, e esbarrou com o lindo Étienne St. Clair, que rapidamente se torna objeto de seus sonhos. Mas é claro que haveria uma complicação: Étienne namora há mais de um ano com Ellie, estudante de fotografia e amiga de todo o grupinho pelo qual Anna foi adotada.
Mesmo começando com uma ideia um pouco batida, Anna e o beijo francês surpreende: é uma delícia conhecer Paris junto com Anna e Étienne, que usando como desculpa falta de habilidade linguística dela, a acompanha em vários dos monumentos que tornam a cidade dos apaixonados especial.
Além disso, Anna não é uma protagonista chata e Étienne não é um mocinho perfeito: ambos possuem seus momentos. Anna é divertida, não é bonita ou inteligente de forma forçada, tem outras razões para viver que não garotos (sim, estou falando de algumas mocinhas de Meg Cabot) e manias que, dependendo da ocasião, podem ser fofas ou irritantes. Já Étienne St.Clair, apesar de ser um pouquinho legal demais no começo – acho meio utópico existir um cara bonito, super inteligente, culto, amigo de todos e com um sotaque legal – acaba mostrando seus defeitos nos primeiros capítulos.
É esse tipo de YA que sinto um pouco de falta no mercado: um livro que (mesmo com a leveza e temas típicos de “jovens adultos”) não me faça querer jogar o livro num canto e ir ler algo mais real.
Nota: 4/5

13 janeiro 2012

L6: Especiais


ALERTA: pode conter spoiler dos dois primeiros livros da série Feios.
Eu sempre quis saber como seria o mundo caso não existisse a noção de beleza. Não digo a beleza da arte, porque assim como os rapazes de A Sociedade dos Poetas Mortos, não acho que exista vida (ao menos uma vida completa) sem a mesma. Estou me referindo a beleza física, aquela que em todas as classes sociais e lugares do mundo é almejada, desejada e clamada por uma parcela significativa da população. O mundo é prometido em troca do peso ideal, a alma é vendida para atingi-lo. Nessa odisséia, todas as outras qualidades que poderiam existir - se é que beleza física é mesmo qualidade - são postas de lado, a saúde é esquecida e a vida, por vezes também.
A série Feios se tornou uma das minhas preferidas por extremar essa obsessão pelo belo: no mundo de Tally Youngblood, todos com mais de dezesseis anos ganham uma cirurgia que os deixa fisicamente "perfeitos". Contudo, há um pequeno incômodo que vem com a tal cirurgia: lesões no cérebro, que tornam todos os perfeitos conformados, bobocas e felizes.
Mas não Tally e Shay. Como falado no final do livro anterior, Perfeitos, ambas se tornam Especiais, a força de segurança da cidade. Mais do que isso: elas são Cortadoras, jovens Especiais que além da força, crueldade e velocidade são programados para viver na natureza.
Os enfumaçados - grupo de pessoas que se opõem a operação - contudo, estão tornando o trabalho de Tally e Shay mais difícil, distribuindo pílulas que curam as lesões e aumentando cada vez mais seu número de membros. Pílulas, aliás, que trouxeram um grande problema para Tally: seu namorado, Zane, tomou-as de forma incorreta em Perfeitos, o que o deixou em coma. Quando Zane acorda deste coma, contudo, tudo se complica ainda mais para Tally: ele não passa de um perfeito ou um medíocre, como os Cortadores costumam se referir a todos ao seu redor. Menos do que isso: graças as pílulas malucas dos Enfumaçados, Zane está menos sagaz do que antes, com conseqüências físicas desagradáveis.
Após decidir que não conseguiria conviver com a tremedeira nas mãos de Zane, Tally bola um plano arriscado: para provar que Zane é bom o suficiente para ser um Cortador, ela se dispõe a ajudá-lo a fugir para a Nova Fumaça, matando assim, dois coelhos de uma cajadada só.
Irritante é como eu descreveria Tally nesse livro. Adorei Scott Westerfeld ter escolhido, em Feios, a personagem alienada e não a consciente para ser a narradora: assim, o leitor e Tally entram em processo de conscientização juntos. Contudo, como Especial, Tally ultrapassa as fronteiras da arrogância, descrevendo tudo a sua volta de forma meio abatida.
De maneira geral, gostei do livro, mas não o senti como um bom encerramento. A série, planejada para ser uma trilogia, acabou ganhando mais um livro, que espero ansiosamente para ler. Em Especiais, é finalmente quebrada uma barreira: assim como em Admirável Mundo Novo, o mundo distópico de Feios parecia perfeito demais. Todos eram felizes, não existia fome, guerra ou doença... O único defeito de verdade era a ausência da liberdade, a ausência do verdadeiro alimento da alma. Renunciar a um mundo basicamente perfeito pela mesma é arriscado, arriscado demais, mas gostei da forma que o autor abordou o assunto, colocando a liberdade como um direito inalienável e insubstituível. Espero que em Extras, o quarto livro, estes conceitos sejam melhor trabalhados :)
Nota: 3/5 (sim, eu dou notas agora)

11 janeiro 2012

F7: Salve Geral


























Não sei se é de percepção geral, mas pessoalmente percebo que os filmes brasileiros possuem uma qualidade mais uniforme do que aqueles hollywoodianos, por exemplo. São poucos os filmes geniais que assisti que foram feitos no meu país, contudo, os besteirois completos também são raros (talvez os orçamentos apertados e a valorização parca cause isto, mas não posso ter certeza).
Salve Geral veio aumentar esta percepção. Não é daqueles filmes que me deixam atônita por sua qualidade, mas o narrado é bem envolvente - talvez por ser baseado em fatos reais que sou um pouco nova para lembrar (OK, talvez não pra lembrar, mas eu provavelmente não ligava na época), mas não deixam de ser próximos a mim.

Depois de perder o marido, Lúcia (personagem de Andrea Beltrão, que atuou magnificamente) é atingida por outro desastre: seu filho único, Rafael, é preso, depois de matar uma garota durante uma briga. Aqui o velho conto do mauricinho revoltado se repete: chateado pela grande queda no seu padrão de vida, Rafael se vê no direito de fazer o que é obviamente errado a torto e a direito, culminando com a morte acidental da garota.
Nas visitas a seu filho, Lúcia (bacharel em direito, mas que atuava como professora de piano) conhece Ruiva, advogada e membro do PCC. A empatia é imediata: logo Ruiva começa a dar "serviços" relacionados ao PCC para Lúcia, que, precisando de dinheiro, aceita. No meio de tudo, ela acaba se envolvendo com o Professor, um dos líderes do PCC,e se torna membro da facção. Além disso, graças as pequenas regalias que membros do PCC recebem na cadeia, Rafael acaba se envolvendo com o grupo também.
Salve Geral é um ótimo filme, relatando de forma bem crua os acontecimentos de 2006 com um final água com açucar. O que achei mais interessante em tudo não foi exatamente a parte história: adorei mesmo o retrato dos membros do PCC. Sei que algo feito por trás de lentes nem sempre pode ser fiel, mas é interessante ver como conceitos básicos do que é certo ou errado são relativizados perante circunstâncias adversas, ou a crença de que esse mal será revertido em algo bom no futuro. Só vi isso retratado fielmente em Paradise Now, filme que retrata as últimas horas de dois mártires mulçumanos. Depois de assistir Salve Geral, me ocorreu que talvez tenhamos nossos mártires também, que, decepcionados com a pouca voz que a classe trabalhadora tem na política, vejam na criminalidade a única forma de serem ouvidos...

09 janeiro 2012

L5: A menina que brincava com fogo

Demorei um pouco para ler "A menina que brincava com fogo": ganhei-o de presente em um amigo secreto de 2010, e agora me arrependo de ter feito a leitura somente semana passada. Apesar de preferir "Os homens que não amavam as mulheres" o primeiro livro da série Millenium, escrita pelo sueco Stieg Larsson, o segundo volume também possui seus méritos. Aspectos positivos, tais quais os personagens interessantes e estória envolvente são mantidos, mas a linguagem por demais direta (ou também podemos dizer jornalística, profissão de Larsson) também prossegue.
Mas esta é uma das poucas críticas que posso fazer ao livro. Depois de ter sua vida salva por Lisbeth Salander, o jornalista Mikael Blomksvit tem a chance de retribuir: a perigosa hacker de nível internacional é indiciada por triplo assassinato. Uma de suas suposta vítimas é um velho conhecido: seu tutor, que a estupra no primeiro livro e, depois de cair em uma armadilha, é obrigado a obedecer as exigências feitas por Lisbeth. Os outros são figurinhas novas: um casal composto por uma criminologista, que pesquisa a prostituição na Suécia, e um jornalista, colaborador da Millenium, revista de Mikael.
Quando Lisbeth é apontada como principal suspeita e começa a ser procurada (em vão, já que a habilidosa hacker é cheia de truques) uma crítica ao sensacionalismo midiático é feita pelo autor: mesmo sem a certeza de que Lisbeth seria culpada, os detalhes mais íntimos da sua vida são expostos e manipulados, pintando-a como uma psicopata assasina. Neste meio, cabe a Mikael achar culpados alternativos, salvando então sua amiga da prisão.
Lisbeth Salander é, talvez, uma das minhas personagens preferidas de ficção: gosto de sua moral torta, sua inteligência e suas habilidades investigativas. Larsson consegue fazer com que a moça anti-social pareça uma heroína, uma heroína ligeiramente torta, mas uma heroína. Além disso, é uma delícia a história ser ambientada em Estocolmo: é bom fugir do eixão de grandes cidades/cidadezinhas americanas.
O feminismo contido em Millenium é um capítulo a parte. Algumas feministas criticaram a personagem Lisbeth Salander, contudo, creio que isso só se aplique ao filme.: ambos os livros que possuem personagens femininas fortes (Lisbeth e Erica Berger, diretora geral da Millenium e amante de Mikael) e criticam incessantemente a violência contra a mulher.. Mia Bergman, uma das supostas vítimas de Lisbeth, pretendia denunciar vários homens pelo uso de prostitutas (o que é crime na Suécia) inclusive policiais. Mikael, munido desta informação, começa a procurar culpados dentre os clientes sexuais, inserindo assim a discussão sobre a violência contra prostitutas. Na Suécia, onde todas as suas cidadãs têm garantidas as condições mínimas de vida, as prostitutas são, em sua maioria, adolescentes estrangeiras, que são atraídas por falsas promessas de emprego e vida melhor e acabam sendo exploradas e levando seqüelas (tais quais traumas e vícios) para toda a vida. Outro ponto aqui é creditado a Larsson: ele não só mostra os males e a organização da prostituição, mostra também as diferentes reações de membros da sociedade, muitas quais coniventes ou até mesmo favoráveis a exploração sexual de estrangeiras.
Ainda não assisti a versão sueca do filme do primeiro livro, mas procurarei logo que voltar à minha cidade. A versão americana me pareceu, pelos trailers, um pouco, hã, americanizada, mas não deixarei de assisti-la também.
O plano inicial de Larsson eram cinco livros, contudo, ele morreu após entregar o terceiro ao seu editor. É uma pena: Millenium é aquele tipo de saga que, pela amplitude do seu tema, poderia sempre se renovar.

08 janeiro 2012

L4: O hobbit



Há um ano atrás, ganhei todos os livros da coleção O senhor dos Anéis (O silmarillion, O hobbit, A sociedade do Anel, As duas torres e o retorno do rei) mais as crônicas de Nárnia como presente de natal - os boxes promocionais do Submarino são o que há. Infelizmente (ao contrário do que aconteceu com As crônicas de Nárnia, que adorei) não simpatizei com nem A sociedade do Anel nem O silmarillion: achei-os chatos, enrolões e repetitivos. Por isso, acabei abandonando a leitura da coleção, para, um ano depois, recomeçá-la acertadamente por O hobbit, prelúdio de A sociedade do Anel.

Pergunta: se você fosse um hobbit que gosta do seu conforto, da sua comida e da sua toca, o que você faria se doze anões e um mago batessem a sua porta, solicitando que você se junte a uma expedição cujo objetivo final é tomar o tesouro das mãos de um dragão sanguinário? Bilbo Bolseiro - tio de Froddo, personagem principal nos outros três livros - ao contrário do que se esperava dele, respondeu a esta pergunta estapafúrdia com um sim, iniciando, desta maneira, a sua primeira aventura de verdade.
Juntamente com a trupe de anões - e a ajuda ocasional do mago Gandalf - Bilbo parte para o covil do dragão Smaug, arrebatando, no caminho, o anel que dá nome à saga.

É bastante interessante ver o mundo que Tolkien genialmente criou, com todas as suas criaturas, músicas épicas e perigos, antes dos acontecimentos de O senhor dos Anéis. O hobbit, por não enrolar como A sociedade do Anel, é de leitura bem mais fácil e viciante que o mesmo: neste livro, Tolkien não sentiu a necessidade de contar todas as partes da viagem - mesmo as mais tediosas - em detalhes. Gostei muito da leitura, e espero ansiosamente pelo filme.

06 janeiro 2012

F6: Dr. Jivago


Adoro filmes e livros que retratem guerras e/ou revoluções. Não a parte sanguinária delas a política talvez, mas acima de tudo gosto de filmes e livros que retratem como as pessoas comuns, os zés ninguém da vida reagiram a toda a privação que uma situação como essa impõe.
Doutor Jivago destaca-se neste âmbito: é um romance - não daqueles açucarados, ou impossíveis ou perfeitos demais ou que o amor de ambos os personagens parece injustificado: somente um romance - ambientado em parte durante a primeira guerra e durante a revolução russa. Os insights históricos, por assim se dizer, são mínimos, mas o retrato do desespero do povo russo diante da destruição de uma guerra seguida por uma revolução - no qual tanto exercito revolucionário como o contra revolucionário eram destituídos de inocência - não chega a ser ruim. O filme se inicia com o enterro da mãe de Jivago (que então era apenas uma criança) e adorei a mensagem que o diretor quis passar nesta cena: o pequeno Jivago olha para cima duas vezes, e ambas as vezes somente encontra o vento, como se este fosse seu único companheiro e acalanto no mundo. A sensação de solidão passada pela cena - além da inegável esperteza do diretor de conduzi-la desta maneira - me fez ter vontade de assistir mais de um filme que, em geral, eu passaria reto por um motivo ou outro.
E não me arrependi. Apesar da duração incomum - o filme tem cerca de três horas - não foi cansativo: cada minuto pareceu essencial para contar a história de Jivago e Lara. Jivago que depois da morte da mãe foi criado por pais adotivos e, na juventude, torna-se médico e poeta, além de ter um romance com sua irmã de criação. Não era ativo politicamente, mas parece ser consciente o bastante para entender a beleza e utilidade de uma manifestação que passou em frente a sua casa - e deixou diversos feridos.
Manifestação comandada pelo namorado de Lara, mulher que constitui um personagem interessante, mas não muito: seu sonho era conseguir uma bolsa de estudos na França, centro político e cultural da época, mas seus rumos mudaram graças a um abuso na adolescência por parte de um "amigo da família" com um alto status social. Quando sua mãe descobre, tenta suicídio, fazendo com que seu caminho e o de Jivago se cruzem pela primeira vez quando ele - então médico assistente - vai cuidar da mesma.
Depois de outro estupro, Lara se cansa, pegando uma arma e atirando no seu algoz durante uma festa. Feliz ou infelizmente - depende do seu ponto de vista - ela atinge somente a sua mão, que é rapidamente remendada por Jivago, também presente na festa que recebeu o evento. Meu lado de esquerda deu risadinhas ao ver o que se seguiu: um rapaz vestido de operário - Pavel, namorado de Lara - entra no recinto, retirando-a de lá e deixando todos os presentes (na sua maioria burgueses alheios a miséria em que toda a Rússia se encontrava) de boca aberta.
Este namorado é Pavel, revolucionário comprometidissimo e o melhor personagem do filme: na minha opinião, ele é o retrato da pessoa comum. Ama Lara, e passaria a vida inteira com ela, contudo, reconhece que há mais coisas entre o céu e a terra do que sua amada. Gosto desse tipo de personagem, porque é mais real, mais palpável: mesmo que tenha havido paixão - daquela em que as noites de sono são substituídas por vigílias cheias de devaneios, as pernas tremem e palavras bonitas nunca parecem suficientes - em um casal, ela raramente dura muito, e a felicidade se torna um misto de amor e comprometimento. Desde o início, foi isso somente que Pavel prometeu a Lara, apresentando o que é, na minha opinião, uma atitude honesta e verdadeira. [Enfim, eu realmente não acredito inteiramente nisso. Mas vá lá, esse é meu lado racional falando para variar.]
Mas aí vem a parte que me irritou no filme: as coincidências. Depois que Lara foge para uma cidadezinha com Pavel e tem uma filha, e Jivago se casa e tem um filho com sua irmã de criação, os dois têm a sorte de servir no mesmo hospital de guerra. Depois de algum tempo, quando Jivago e sua família vão fugir - já que a situação em Moscou era insustentável para um poeta "burguês" como ele - fogem exatamente para a casa de campo próxima da residência de Lara.
Bom, isto realmente me fez ficar: "ah, okay, vamos para a parte estilo novela agora", porque, afinal, a Rússia não é pequeninha e os anos que se passaram de lá para cá não a aumentaram de tamanho. Se você estiver disposto a relevar alguns pontos (tal qual o gostinho ruim que fica pelo filme ter sido feito em inglês, não em russo), é um ótimo filme. :)

04 janeiro 2012

ESPECIAL DE ANO NOVO: série Jogos Vorazes

OK, fui mordida pelo bichinho Suzanne Collins. Perdoem-me o trocadilho podre, mas devorei a série Jogos Vorazes vorazmente. Viagem a praia, da festa do ano novo, nada me impediu: li toda a série em pouquíssimo tempo. Isso ocorreu, principalmente, pela esperteza da autora, Suzanne Collins: tanto "Jogos Vorazes" quanto "Em chamas" acabam de uma maneira que dá aquele gosto de quero mais. Bom, passadas essas considerações, vamos as resenhas (com altíssimo risco de spoiler):
JOGOS VORAZES: começo genial Respirar o cacete: eu precisava ler Jogos Vorazes. Suzanne Collins amarra a história de um jeito tão natural e bem feito que senti que se abandonasse o livro por um mísero minuto eu perderia algo, como se o livro fosse criar pernas e sair correndo por aí, me deixando com uma curiosidade agoniante.
Somos introduzidos Katniss, que, com apenas dezesseis anos, já sustenta sua família, caçando ilegalmente na floresta junto com seu amigo Gale - que também usa os animais caçados, a coleta e a pesca para alimentar sua mãe e seus irmãos.
Esta necessidade não provém apenas da morte dos pais de ambos em um acidente: no mundo apresentado no livro, a América do Norte foi dividida em treze distritos e a Capital, criando um país chamado Panem. Enquanto os habitantes da Capital são riquíssimos e vivem na fartura e no exagero, a maior parte dos distritos é extremamente pobre, impedindo que as mães de Gale e Katniss achem emprego fixo.
Setenta e quatro anos antes do início do livro, o 13º distrito - especializado na produção de grafite e na indústria bélica - se rebelou e foi subjugado. A Capital, para garantir que isto não acontecesse de novo, reafirma o seu poder todos os anos através dos Jogos Vorazes, uma espécie de Reality Show muito semelhante ao Coliseu romano: vinte e quatro adolescentes (dois de cada distrito), denominados tributos, são postos dentro de uma arena todos os verões, para enfrentar toda sorte de perigos e lutar até que apenas um sobre.
No sorteio dos tributos do 12º distrito, um desastre acontece: a irmãzinha de Katniss, Primrose, contra todas as possibilidades (por possuir seu nome inscrito apenas uma vez, contra diversas de outras crianças menos afortunadas e mais famintas que aumentavam suas chances de ir à forca em troca de uma porção de grãos e óleo) é sorteada. Desesperada, Katniss se oferece para ir em seu lugar, tornando-se, junto com Peeta - o filho do padeiro, que salvara a Kat e sua família da inanição após a morte do pai da mesma - tributo de um dos distritos mais renegados de Panem, com um mentor bêbado e uma acompanhante que personifica toda a futilidade da Capital.
A parte introdutória do livro não é exatamente muito boa, mas te deixa com uma curiosidade boa para saber como as coisas prosseguiriam naquele mundo distópico que (apesar de ser um pouco falho em alguns pontos quando comparado a obras-primas tais quais "Admirável mundo novo" e "1984") é uma ótima releitura da Roma Antiga.
Apesar de gostar bastante da Katniss neste livro - como dito pela Fernanda, é bom ter uma personagem feminina forte, para variar - achei irritante a falta aparente de defeitos dela: a autora coloca as ações de Katniss acima de qualquer questionamento ou crítica. Mesmo aquelas mais terríveis são justificadas, de alguma forma, pelas circunstâncias. Adorei Peeta, por outro lado. Costumo detestar heróis apaixonadinhos pela heroína, e mais ainda aqueles que são sofridos por causa disto - no caso de Peeta, por não ser a escolha obvia ao lado do bonito e capaz amigo de longa data do seu objeto de afeição. Contudo, a inversão dos papeis que são delegados a homem e a mulher na maior parte dos livros o torna interessante: é Katniss que salva Peeta, não o contrário, e, fora alguns resmungos ocasionais, ele não parece possuir problemas com isto.
EM CHAMAS: O preço alto da vitória
Dos três, é o meu preferido. Algo sem precedente aconteceu: dois tributos, ao invés de um, sairam vivos da Arena, graças a atitude de Katniss que, recusando-se a matar Peeta, sugeriu que ambos se suicidassem. Graças a esta atitude, ela está em apuros: o quase suicídio foi considerado uma ridicularização a Capital, e alguns distritos mais subversivos, cansados da fome e da opressão, se revoltaram, espelhando-se em Katniss Everdeen, a garota em chamas. Essa é uma ótima oportunidade para que ela seja usada como peão pela primeira vez: tentando reverter um pouco do dano, o presidente Snow a obriga - em troca da segurança dela e de sua família - a continuar com o romance com Peeta diante das câmeras, mesmo sabendo que aquela era uma mera jogada para angariar fãs e patrocinadores.
Como só esta punição não era o suficiente, a edição especial do 75º Jogos Vorazes é bem conveniente aos interesses da Capital: ao invés dos vinte e quatro jovens comuns, os tributos seriam ex-vitoriosos, deixando a Katniss e Peeta nenhuma alternativa além de se apresentarem de novo para os Jogos.
Gosto mais deste livro por ser bastante profundo: a reflexão do ódio e da dor infligidos pela Capital se torna mais profunda a medida em que Katniss vai tomando mais conhecimento da situação em todos os distritos. Além disto, o custo da sobrevivência na arena vai se revelando: não só Haymitch, mentor de Kat e Peeta, pirou e procurou "ajuda química" depois dos Jogos: os vitoriosos do distrito 3 tornaram-se dois viciados em morfina, e há também Finnick Odair, sex symbol do distrito 4 que coleciona amantes e a tortura de uma amada psicologicamente instável.
Fora isso, minha irritação por Katniss aumentou: além das justificativas (que, como Charlotte Bronte nos mostrou, são desnecessárias) para as suas ações, a auto-piedade foi presente em quase todo o livro, coisa que odeio, tanto na vida real quanto na ficção. Outros dois personagens, porém, conquistaram meu coração: Haymitch, que cresceu no meu conceito, passando de um velho chato a um mentor genial; e Finnick, que, por causa da minha eterna implicancia com personagens bonitos demais, devia parecer detestável aos meus olhos, mas tornou-se um dos meus queridinhos.*
*É, não gosto de personagens apaixonados ou bonitos demais. Sim sou chata.
A ESPERANÇA: ou a decepção
AH VÁ. Lá estou eu, na boa, esperando um final escabrosamente bom para essa série genial. Contudo, Suzanne Collins frustrou minhas expectativas: odiei A esperança.
Katniss - cada vez mais insuportável - é manipulada de novo, desta vez pelo núcleo rebelde sediado no distrito 13. Aquela garota forte e corajosa que conhecemos no primeiro livro desapareceu: Katniss se deixa manipular sem grandes reflexões, sendo o símbolo da revolução em troca de exigências que, embora necessárias, eram uma pequena parte para que Kat evitasse o banho de sangue que se seguiria e que uma heroína que se prezasse deveria se opor. A falta de energia de Katniss se reflete no livro: o devorei mais por curiosidade do que por causa do ritmo alucinante que me guiou nos dois outros livros.
Eu costumava ser neutra quanto a Gale, mas minha neutralidade acabou ao ver seu pensamento de Hamurabi: com Beetee (vencedor dos Jogos e brilhante engenheiro, habilidade esta que ajudou os rebeldes), ele planeja diversas armas - mais mortais do que o necessário para que eles vencessem a guerra - para os habitantes da Capital.
O único ponto positivo (para meu lado pseudo-cult, não para meu lado fã girl) foi o número de mortes: mostrou o quão estúpida a guerra é. Contudo, essa reflexão vai pelo ralo quando a propria Katniss apoia a estupidez que é a vingança.
Mesmo não tendo curtido o final, espero ansiosamente pelos filmes. O trailer, liberado há algum tempo, me deixou ansiosa para vê-los.

02 janeiro 2012

F4: O fabuloso destino de Amélie Poulain



Amélie Poulain é uma daquelas pessoas irritantemente fofas e boazinhas que você quer abraçar e jogar pela janela ao mesmo tempo. Tudo nela é calculadamente fofo: os seus colegas de trabalho (que possuem defeitos irritantes como uma unha encravada: não doí muito, mas incomoda); seus pais (ambos rígidos e insossos: depois da morte inesperada e tragicômica da mãe, o pai se torna o velho viúvo recluso); seus amigos (a zeladora que ainda sonha com o marido há muito perdido; um velhinho que não sai de casa há anos por possuir os ossos "frágeis como cristal" e cujo único passatempo é reproduzir obras de Renoir e um funcionário da quitanda que sofre por causa de um chefe controlador) e seus pequenos prazeres (quebrar a crosta do creme brulée com a colher, afundar a mão no saco de sementes - ok, esse daqui é realmente legal - e jogar pedras no canal).

O roteirista usou um recurso literário que, apesar de batido, eu amo: a exposição de detalhes inúteis. Como nos lembrou Huxley em Admirável Mundo novo, "os detalhes, como se sabe, conduzem à virtude e à felicidade; as generalidades são males intelectualmente necessários. Não são os filósofos, mas sim os colecionadores de selos e os marceneiros amadores que constituem a espinha dorsal da sociedade" e tais detalhes aparentemente insignificantes enriquecem e mostram muito da personalidade de cada personagem.


A minha implicância com a fofura - que culmina com os seus "pequenos bons atos", que me fizeram dar boas risadas - parou completamente quando um defeito seu for apresentado: o medo da rejeição. Nas estações de trem, Amélie sempre cruza com um rapaz bonitinho, que procura por fotos debaixo daquelas cabines de foto expressa. Essa procura por fotos se mostra ser parte de um album, que Amélie acha depois de o tal rapaz o esquecer na estação. Visitando a loja de filmes pornô no qual ele trabalha, Amélie descobre que ambos possuem muito em comum e se apaixona.
A partir daí é um vai-e-vem estilo novela: Amélie, por medo, perde as várias oportunidades que tem de falar com Nino, deixando mensagens misteriosas para atiçar a sua curiosidade.

No geral, é um filme muito bom. Amélie por pouco não cansa, mas o seu 'modus operandi' me fez dar 
boas risadas. Ponto também para o roteiro, com diálogos e frases muito legais - além dos detalhes inúteis que já confessei adorar - e para a fotografia, que deixa tudo (não só a Amélie) fofo.