28 dezembro 2012

Rebel Heart




Eu não acredito em quem diz que não gosta de ler.

Essa é uma crença forte e irracional, quase religiosa, da qual dificilmente serei dissuadida. Não querendo puxar a sardinha para o meu lado de leitora voraz e aspirante à autora, mas não há nada que te transporte, te entretenha e te ensine como um bom livro. Existem vários motivos pelos quais alguém comete o grande engano de achar que não gosta de ler, e elenco “não ter achado os livros certos” como principal, ao menos nas pessoas que conheço. É dose que a maioria tenha começado a sua vida leitora com um Machado de Assis (maravilhoso, mas na fase certa) imposto por uma professora dificilmente simpática em um lugar que geralmente se odeia.

Ao mesmo tempo que a defendo com tanto ardor, porém, é difícil acreditar que a literatura sobreviveu a plataformas visualmente mais atraentes, como o cinema e os jogos. O Gotham writers’ workshop (oficina de escrita, cuja apostila pode ser baixada gratuita e legalmente no Brasil aqui) aponta que os personagens são a razão pela qual lemos ficção, e, mais do que isso, o diferencial entre o livro bom e o ruim. Ao contrário do cinema, por exemplo, em um livro passamos horas e horas com os mesmos personagens, entramos em seus pensamentos e conhecendo o seu passado de forma dificilmente possível na vida real, despertando, se eficiente, empatia. Como fã de literatura de gênero, fiquei um pouco cismada com essa afirmativa – não são os mundos e cenários igualmente importantes? – mas o segundo volume da série Dust Lands, Rebel Heart, me faz ver que o pessoal da Gotham está certo.

Saba é o tipo de protagonista que podia ser nossa colega de classe – não porque é comum, e sim porque é real como a dor. Esquiva e bruta, ela tem razão para sê-lo, e mostra uma coragem do tipo que só se tem caso se ame ou se odeie muito a alguém.

{Pode conter spoilers do volume um, Caminhos de sangue, a partir daqui – minha resenha deste começo magnífico está aqui.}

26 dezembro 2012

Amigo secreto blogueiro 2012

Minha relação com a fotografia é meio estranha. A aprecio bastante como arte e falo “puxa, queria ter uma câmera agora” algumas vezes por semana, mas quase tudo que já tentei fotografar foi meio desastroso.

Dasty do blog Spleen Juice organizou um amigo secreto blogueiro, onde cada participante faria como “presente” um post dedicado a quem tirou. Acontece é que a minha amiga secreta AMA fotografia – seu blog é onde ela posta seus cliques, cada um mais lindo do que o outro. Até tentei pensar em outra coisa (leia a palavra “desastroso” no parágrafo acima) mas o blog dela é tão inspirador que eu não conseguiria lhe dar outro presente que não minhas fotos chinfrins, todas inspiradas em gostos em comum (que são vários) e nas fotos inspiradoras demais da minha amiga secreta. Enfim, Andrea, espero que goste.

24 dezembro 2012

As vantagens de ser invisível (filme)




O primeiro livro que lembro de ter me emocionado com foi  A marca de uma lágrima, de Pedro Bandeira. Peguei-o pela primeira vez aos nove anos na biblioteca da escola e nos anos seguintes foram mais cinco ou seis empréstimos – cada releitura como a primeira. O enredo parece trivial, sobretudo quando se fala de um livro para adolescentes: Isabel conhece Cristiano em uma festa e, em pouco tempo, acredita que ele é seu grande amor. Mas Rosana, sua prima bonitona, pensa o mesmo – e eu não respeitaria Pedro Bandeira caso minha xará fosse escolhida ao invés de Rosana. Virando então agente dupla, Isabel escreve poemas para ambos os pombinhos, ajudando (com bondade e paciência estilo Jesus Cristo) um relacionamento que no fundo no fundo ela quer avacalhar.

21 dezembro 2012

Os irmãos Karamazov




Já deletei essa resenha umas três vezes, por simplesmente não conseguir expressar o que quer. Detesto não saber o que pensar sobre um livro mesmo depois de refletir por algum tempo (quase um mês, no presente caso) mas preciso registrar a minha opinião (ou falta de) para a posterioridade.

Os irmãos Karamazov quase me vencia, confesso. Por muitas vezes pensei em abandonar a leitura (arrastada ao longo de quase dois meses) mas a sensação de que algo legal me esperava ali era forte. E eu não gosto de simplesmente abandonar livros porque eles são obras complicadas – não me sinto bem depois.

19 dezembro 2012

Meus dez livros preferidos de 2012


Até a quarta série estudei em uma escola com uma biblioteca maravilhosa. Apesar de ter (acho) menos de quatrocentos alunos, a escola tinha umas dez vezes mais do que isso em livros. Eu, que sempre gostei de ler, chegava ao “absurdo” da taxa de uma obra por dia – sem muito dever de casa e com tantos livros a disposição, era fácil, tranqüilo e delicioso.

 Infelizmente a segunda etapa do ensino fundamental veio, e com ela colégios com depositórios de livros didáticos e módulos ao invés de bibliotecas de verdade. Em termos de literatura (tanto leitura como produção – eu fazia umas coisas bem legais para uma menina de nove anos) classifiquei meus últimos anos naquele paraíso para mini-bookaholics como melhores da minha vida. Ou classificava.

Porque nesse sentido, 2012 foi quase perfeito. Não li uma livro por dia letivo, mas graças a blogosfera descobri autores maravilhosos e dicas valiosas de penchichas. Não produzi livretos super criativos (um dia encontro a historinha das bruxas espiãs e posto – sério, eu devia comer alguma coisa alucinógena no recreio)mas terminei dois livros (um deles muito chinfrin, mas fazer o quê) e tenho um banco gigante de idéias gritando para serem usadas.

Enfim, essa lista foi dolorosamente difícil de fazer. Não entendo essa mania de top dez: não poderia ser top vinte, top trinta? Até pensei em fazer, mas como um top trinta meu ficaria maior do que a bíblia (capacidade de síntese, onde foi que eu te deixei?), então eis o veredito:

14 dezembro 2012

O colapso de tudo




Não sei por que gosto tanto de histórias sobre o fim do mundo ou a vida após ele. Talvez todos gostem, e eu só um pouco mais: às vezes ficamos tão aparentemente à beira do colapso que ele se torna algo quase desejável, para que a incerteza acabe e a corda bamba entre civilização e caos finalmente se rompa.

Embora isso soe contraditório graças ao tom distópico de muitas obras do gênero, não sou muito fã de ficção científica. Poucos livros já caíram nas minhas mãos, confesso, mas em geral os achei pouco didáticos na hora de explicar os elementos componentes do tal futuro, diferindo bastante da distopia política ou Young Adult, que são claras e práticas.

“Pouco didático” é uma crítica que não podemos fazer ao livro que resenho, O colapso de tudo. Torci o nariz quando vi na orelha do livro que o autor, John Casti, é matemático – não me dou exatamente muito bem com essa área e os conceitos embutidos nela – mas ele cumpre muito bem a promessa feita na sinopse de manter a parte técnica nas notas, para eventuais curiosos. A teoria da complexidade, que Casti usa para embasar as onze possibilidades de fim de mundo que apresenta, é explicada com exemplos recentes ou historicamente relevantes, tornando a leitura leve, o diferindo bastante dos livros de não ficção que já li.


11 dezembro 2012

Sessão de terapia + resultado do sorteio




Você pode até não gostar de novela, mas dizer que os populares dramas globais são mal-feitos é um pouquinho demais. Acompanho alguns seriados americanos e sou viciada em mini-séries de época britânicas, e posso dizer que os nossos equivalentes raramente deixam algo a dever em termos de produção – geralmente é ao contrário.



Quando se fala de inovação da trama e qualidade do enredo, porém, novelas freqüentemente pecam – o que não é difícil, considerando que elas vão ao ar seis vezes por semana durante meses. Pelo risco de ver mais do mesmo, não me incomodo em acompanhar uma há alguns anos, mas os elogios freqüentes a produções nacionais mais curtas despertaram minha curiosidade.

Resolvi começar por Sessão de terapia: franquia israelense de sucesso no mundo todo, veio ao Brasil com as devidas adaptações culturais e direção de Selton Mello, seguindo Theo, um terapeuta, na sua semana carregada de dores alheias.



Rainer Maria Rilke dizia que o jovem poeta que não consegue encontrar poesia em seu cotidiano deve culpar a si, e não à rotina. Essa premissa é bastante seguida em Sessão de terapia: embora alguns dos pacientes possuam problemas que não se encontra em qualquer esquina, a maioria sofre de males pouco extraordinários, que encantam exatamente por sua falta de ineditismo.

06 dezembro 2012

A corrida de escorpião




Dou graças aos céus por nunca ter entrado na ondinha I-love-UK de detestar o Brasil e tudo que vem daqui. Não falo isso só pelo lado nacionalista de amar o seu país e mimimi (embora esse seja um mimimi verdadeiro e importante para mim) mas sim pelo de idolatrar outra nação sem saber de fato os seus defeitos e trunfos, de dobrar o joelho para o que vem de fora quase que indiscriminadamente. O sentimento de pertencer é bom sob qualquer circunstância – mesmo que seja para o tal do viajar o mundo e não esquecer o quintal de casa.

Puck Conolly, protagonista de A corrida de escorpião, não quer nem a parte de viajar o mundo, ainda que a ilha de Thisby, onde nasceu e viveu sua vida inteira, tenha sido o cenário da situação mais triste de sua vida – a morte repentina de seus pais. Thisby tem algo de bastante peculiar: os capaill uisce, cavalos que saem do mar e se alimentam de carne e sangue ao invés de feno, sendo seu pão e vinho freqüentemente provenientes daqueles que os montam (ou tentam).

Puck, pelos lápis de um fã.

Em novembro, quando o mar está agitado e os capaill ainda mais, ocorrem as corridas de escorpião (basicamente a única fonte de renda da ilha) onde homens de todas as idades e classes sociais enfrentam o irresistível perigo de correr nesses enormes e fatais cavalos. É redundante dizer que a maré alta lavará o sangue de muitos deles da areia no final do mês.

Embora odeie esse símbolo da ilha – ela nunca foi às corridas – Puck ama Thisby, e se desespera quando seu irmão mais velho, Gabe, anuncia que vai ao continente em busca de emprego. Ainda que ele já trabalhe e Puck e o caçula Finn façam bicos, o dinheiro é curto, fazendo com que três órfãos corram riscos muito maiores do que o atual desconforto em viver à base de maçãs e feijão.

Tentando manter o que resta de sua família unida, Puck anuncia que se juntará às corridas – a primeira mulher desde sempre a fazê-lo. Contará com, além da resistência dos seus concidadãos, a ajuda de Sean Kendrick, cavalariço cuja mera presença parece exercer um poder mágico sobre os capaill – ele os controla perfeitamente, tendo ganho quatro das seis vezes que participou das corridas de escorpião.

04 dezembro 2012

Cinco livros que eu não me importaria de ganhar do papai noel




Atualmente me falta tempo para ler, não livros. Sim, senhoras e senhores, quando este post foi escrito, eu estava na marca dos cinquenta e dois livros comprados/emprestados e não lidos – e contando (dê uma espiada aqui). Cheguei ao ponto de ficar angustiada – porque as pessoas continuam escrevendo histórias legais? Nunca vou poder ler tudo! O pensamento de que pode ter outro As vantagens de ser invisível por aí que eu nunca vou chegar a conhecer me faz roer as unhas e respirar fundo para não chorar.

Não riam. É triste, e é sério.

Mas é a vida.

Estou tentando me segurar e não ser uma Becky Bloom dos livros, como bem definiu Larissa Siriani nesse vídeo daqui. Só que é claro que as pessoas não deixam de produzir livros legais só porque tenho muito o que ler, e é claro que eu não deixo de descobrir novas obras. Com dor no coração porque provavelmente não os encontrarei a beira da árvore no dia 25, aí vai meu top cinco de mais desejados.