29 fevereiro 2012

10 livros para os quais eu daria uma música tema

1 – This is War, A esperança
A esperança é completamente baseado em descrever os malefícios da guerra, mesmo quando ela parece “necessária”. Embora não tenha gostado muito desse livro, ele se assemelha muito a essa música – cujo clipe, que aborda vários aspectos da guerra, me faz chorar.
Um aviso para as pessoas,
O bem e o mal,
Isto é uma guerra,
Para o soldado,
O civil,
O mártir,
A vítima,
Isto é uma guerra,
É o momento da verdade e o momento para mentir,
É o momento para viver e o momento para morrer,
O momento para lutar, o momento para lutar,
Para lutar, para lutar, para lutar.”
This is war, 30 seconds to mars
2 – Beautiful Dirty Rich, Série Gossip Girl
Gossip Girl conta a estória de jovens do Upper East Side – um dos bairros mais ricos de Manhattan – cuja a vida se baseia em beber, fazer sexo e intrigas. Parece fútil, não? E realmente é. Mas Cecely Von Ziegsar é bastante cativante, tornando aquelas pessoas lindas com cintos que custam mais do que todo meu guarda-roupa extremamente cativantes, não só por sua riqueza e glamour, mas também pela constatação que eles também são feitos de carne e osso com todos os problemas e complexidade que temos todos nós.
Papai, sinto muito, sinto muito
Nós apenas gostamos de festejar, gostamos de festejar
Bang bang, nós somos lindas e podres de ricas
Bang bang, nós somos lindas e podres de ricas”
Beautiful dirty rich, Lady Gaga
3 – Apesar de você , 1984
Em 1984, o mundo é ditatorial, a vida é miserável e baseada em mentiras contadas pelo governo – representadas na forma do Grande Irmão. Winston Smith se rebela, mas de uma maneira muito peculiar: ao invés de cometer “atos revolucionários” contra o Grande Irmão (o que com certeza o levaria à morte), ele se utiliza da sua “insubordinação mental” para afirmar seu poder como cidadão. Apesar de Você foi endereçada à um dos presidentes da ditadura militar do Brasil, e é simplesmente brilhante.
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o
 perdão”
Apesar de você, Chico Buarque (<3)
4 – Blues da piedade, Pergunte ao pó
Bandini é um escritor bastante inconseqüente: gasta os poucos trocados que recebe como direitos autorais, mesmo sabendo que não tem “material” de vida para produzir mais do que alguns contos por ano. Enfim, só lembrei desta música pelas leves e ácidas críticas de Bandini àqueles que vivem de forma tradicional, sem grandes emoções.
Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo, derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com caras de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo
Que não têm
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas mini-certezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia”
Blues da piedade, Cazuza
5 – The sound of sunshine, A mediadora
Suze consegue ver fantasmas – é o que chamam de mediadora, resolvendo os problemas dos mortos-vivos para que eles possam finalmente passar para a próxima vida. Ao se mudar para a Califórnia, seu dom vai com ela, lhe causando vários problemas em casa (onde um fantasma lindo habita seu quarto há mais de um século) e na escola. Mas o ponto não é esse: morri da inveja das descrições de Suze do mar da Califórnia, que pode ser visto da janela de uma das suas salas de aula da escola. Já imaginou que legal? The Sound of Sunshine me lembra praia, mar, tudo relacionado ao verão.
6 – Le plus beau du quartier, Anna e o beijo francês
Étienne St.Clair, mocinho de Anna e o beijo francês, é lindo e adorado por todas as garotas do internato em que ele e Anna estudam. Embora ele não tenha a aura de convencido do personagem dessa música, é impossível não relacionar os dois – até pela própria música de Carla Bruni ser em francês.
Olhe pra mim
Eu sou o mais belo do bairro
Sou muito amado
Quando elas me vêem
Sentem-se enfeitiçadas
Encantadas, hum.
Quando chego
As mulheres roçam-me seus
Olhares inclinados
Bem contra a minha vontade, he.”
Le plus beau du quartier, Carla Bruni
7 – Balaclava, Especiais
Tally, personagem principal da série Feios, tem meio que um dom de acabar com tudo – e em Especiais isto está especialmente visível.
E você vai se encontrar em um conflito
E você desejará nunca ter nascido
E você se amarrará nos trilhos
E de lá você não irá voltar
E isso está errado errado errado
Mas vamos fazer de qualquer maneira porque nós adoramos um pouco de problema”
Balaclava, Arctic Monkeys
8 – La Cumparsita, Os homens que não amavam as mulheres (Stieg Larsson)
Essa música não tem letra, mas me lembra muito o ritmo de La Cumparsita – elegante, porém rápido. É um dos meus tangos preferidos, recomendo bastante para os amantes de músicas bem elaboradas.
9 – Faroeste Caboclo, Série Desventuras em Série (Lemony Snicket)
Embora as estórias sejam bastante diferentes, os irmãos Baudelaire e João de Santo Cristo têm uma coisa em comum: nunca parece nada dar certo para eles.
10 – California Dreamin' As vinhas da Ira (Jonh Steinback)
As vinhas da Ira é um dos meus livros preferidos em todo o universo – é uma crítica social, feita através da estória da família Joad, que perdeu seu pedaço de terra para um grande banco. À procura de um meio de vida como bóias-frias, assim como muitos americanos do Oklahoma na época, eles vão para a Califórnia, encontrando uma realidade muito diferente da que esperavam.
Parei em uma igreja
Pela qual passei no caminho
Bem eu fiquei de joelhos
Fiquei de joelhos
E fingi rezar
Fingi rezar
Você sabe que um pregador gosta de frio
Pregador gosta de frio
Ele sabe que eu vou ficar
Sabe que eu vou ficar
Sonho californiano”
California Dreamin’, The Mamas and The Papas

Esse post é parte do Top Ten Tuesday do The Broke and the Bookish, meme semanal de listas literárias. E sim, sei que hoje é quarta.

28 fevereiro 2012

L14 - Mansfield Park

Demorei bastante para ler esse livro: há mais de quinze dias estou com ele na minha cabeceira. Não sei se foi pelo fato de que foi o primeiro livro que realmente li em inglês (adaptações curtinhas não contam) ou pela cansativa volta à rotina escolar, mas uma coisa é certa: não foi por “culpa” desta obra de Jane Austen, que, apesar de não atingir a mesma qualidade do que nos seus livros que li anteriormente, me surpreendeu mais uma vez.
As Srtas.Ward tomaram destinos bem diferentes na vida. Destinadas somente para o casamento, como as mulheres da época, suas trajetórias centraram-se nisso: a bonita e cativante Maria, a filha mais velha, casou-se com Sir Thomas Bertram, tornando-se então rica e parte da nobreza – uma ascensão social basante grande para quem possuía apenas algumas milhares de libras como dote. A filha do meio casou-se com um reverendo, o Dr.Norris, que, por influência da cunhada, foi empregado em Mansfield Park, a propriedade dos Bertram, o que lhes garantiu uma vida bastante confortável. Já Frances, a mais nova, não teve a mesma sorte das irmãs: para esta, coube o Sr.Price, um tenente da marinha sem herança ou conexões. O salário minúsculo do Sr.Price, seu hábito de beber e a grande fertilidade da mulher os fizeram ter vários filhos e uma vida bastante diferente da vivida por Lady Thomas e pela Sra.Norris.
A fim de ajudar a irmã, a Sra.Norris sugere que uma das crianças seja adotada pelos Bertram – afinal, onde moram quatro crianças, podem também morar cinco. Por isto, aos dez anos, chega em Mansfield Park a pequena Fanny Price, uma garotinha tímida e sem grandes atrativos.  Assim, ela é criada ao lado de seus seus primos: o filho mais velho (e herdeiro da família), o esbanjador Tom; as glamurosas e fúteis Maria e Julia e o atencioso Edmund, que não mede esforços para ver Fanny confortável e está destinado, como filho mais novo, a se tornar um reverendo.
Depois da morte do Dr.Norris, o cargo de reverendo de Mansfield (ter um reverendo por propriedade era regra na Inglaterra da época; e os párocos anglicanos, ao contrário dos padres católicos, poderiam se casar e constituir família, além de possuir alto grau de educação e um bom salário) fica por conta do Dr.Grant, cuja esposa possuía dois irmãos – Henry e Mary Crawford, ricos e charmosos jovens acostumados à sociedade diversa e elitista de Londres. Todo o charme dos Crawford balança o coração dos Bertram; tanto de Júlia e Maria quanto de Edmund; mas quando o caráter de Mary vem à tona e Henry se apaixona por Fanny – logo o patinho feio da família! – tudo vira de cabeça para baixo em Mansfield Park.
Não encontrei outro autor com a capacidade de dizer com palavras coisas outras que seu sentido original como Jane Austen. A grande escritora inglesa é de uma ironia bastante peculiar: é bastante leve, e o leitor precisa ter atenção redobrada para percebê-la em alguns trechos. Confesso que, no início, achei Fanny meio sem sal: ela não era excepcionalmente inteligente, extrovertida e tão pouco suas observações eram essenciais para o decorrer da estória. Contudo, depois de algumas páginas, percebi o que Jane Austen queria com isto: ao revelar aos poucos os trunfos de Fanny, ela questionava o  status de “caridade” que havia sido dado à sua “adoção” por parte dos tios – afinal, Maria e Julia Bertram eram bastante fúteis, e, sem Fanny, Lady Thomas Bertram com certeza se sentiria solitária.
Mas, infelizmente, ao contrário dos outros livros que li da autora, ela errou a mão em um ponto importante: enquanto alguns personagens chave têm suas características descritas timtim por timtim (com toda a complexidade psicológica típica de Jane Austen), outros são negligenciados nesse aspecto. O livro também flui de forma mais lenta e empacada do que os outros – apesar de ser mais curto do que quase todos eles. Como já haviam me falado, os livros Jane Austen são bastante indicados para quem não está acostumado a ler em inglês, não só linguisticamente (ela não é de muitos floreios): até o próprio preço vale a pena (várias livrarias importam as edições dos Penguin Popular Classics, que saem por cerca de sete reais).
Mansfield Park não deixa de valer a pena por causa dos pontos negativos que levantei – afinal, ainda É Jane Austen, e estou curiosa para saber se essa mulher sabia escrever algo ruim.
Nota: 4/5

27 fevereiro 2012

F15 - A invenção de Hugo Cabret

Eu não sei o que exatamente causa essa aura de magia em torno de A invenção de Hugo Cabret – seria a fotografia linda, ganhadora do Oscar nesta categoria? O cenário da Paris dos anos 30? Ou senão o velho conto do menino solitário?


Bom, não sei se encontrarei uma resposta, mas o filme é realmente tão bom quanto dizem. Hugo é um garoto bastante solitário: primeiro, perdeu a mãe. Anos depois, o pai morre num incêndio no museu onde trabalhava, o deixando sob custódia do tio grosso e alcoólatra.
O tio, por sua vez, desaparece, o que causa alguns empecilhos para o menino: embora não necessitasse dele fisicamente (Hugo sabia se virar muito bem sozinho, fazendo o trabalho do tio dando corda nos relógios da estação e realizando pequenos furtos para comer) ou não possuísse grandes laços emocionais com o mesmo; o engraçadissimo inspetor da estação, obcecado pela ordem da mesma, adora pegar órfãos “vadios” e mandá-los ao orfanato – o que faz com que Hugo viva escondido, observando num canto com seu doce olhar de criança o que se passa por ali, traçando logo algumas estórias paralelas (não gosto quando elas são muitas e “roubam a cena” dos personagens principais; mas se conduzidas de uma forma boa, como em A invenção de Hugo Cabret, se tornam uma parte adorável do filme).
Sua única herança, um boneco autômato, é também seu projeto: usando um caderno de anotações do pai como instrução e roubando peças das lojas de brinquedos, Hugo tenta consertar o boneco, na esperança de que ele lhe traga algum tipo de mensagem. Um dia, contudo, George, o dono da loja, pega Hugo tentando roubá-lo, e, ao pedir que ele esvazie os bolsos, fica desnorteado ao ver o caderno de anotações que o menino trazia consigo.
Como forma de “compensar” por seus furtos, George faz com que Hugo – que é ótimo consertando coisas – trabalhe para ele durante algum tempo,  caso contrário, seria entregue ao inspetor da estação. Sob a ameaça de ter o seu caderno queimado, Hugo se alia com Isabelle, sobrinha de George, menina louca por livros e que se anima com a perspectiva de viver uma aventura.
A maior parte dos grandes sites que consultei trata A invenção de Hugo Cabret como um filme infantil. Bem, a premissa do roteiro realmente é, e até mesmo um pouco batida: um órfão solitário, cujas maiores qualidades são a coragem e a habilidade, vivendo uma aventura junto com uma menina inteligente – é obvio que você já viu meia dúzia de obras assim.  Além disso, o uso de crianças espertas ao invés dos adolescentes em crises existenciais e cheios de dramas entre si torna o enredo mais dinâmico e agradável (e não só para crianças – eu já me animo sob a perspectiva de um filme com protagonistas assim).
   
Mas a  julgar pelo ritmo do filme (e pelo tédio expresso pelas crianças que estavam perto de mim no cinema e tiraram minha atenção com suas reclamações para os pais em alguns trechos) não sei exatamente se o filme é realmente bom para a meninada. Sim, o olhar infantil de Hugo sob as coisas e as cenas com uma fotografia encantadora  chamam a atenção de qualquer um em qualquer faixa etária, mas as reflexões talvez ditem um ritmo mais profundo e lento do que é agradável para a maior parte das crianças. A invenção de Hugo Cabret fala sobre solidão, sobre sonhos destruídos e sobre a mudança que a guerra causa nas pessoas, o que o torna mais adulto do que qualquer filme de ação por aí.
 A cenografia é algo à parte: filmes de bom orçamento em geral capricham nesse aspecto, mas da última vez que vi algo que me transportou de uma maneira tão cativante para um tempo que não vivi foi nos primeiros episódios da série Boardwalk Empire (que, não por acaso, possuíram o mesmo diretor de A Invenção de Hugo Cabret).
Eu poderia fazer discursos pseudo-cult quanto ao Oscar, falando que ele apenas premia filmes comerciais sem nenhuma qualidade. Certo, isso se aplica a uma parte dos filmes indicados pela academia – mas A Invenção de Hugo Cabret, embora de fato seja “comercial”, foi um dos filmes de maior qualidade que assisti recentemente.
Nota: 5/5
OBS.: Eu não podia deixar de falar isto: estou revoltada por Man or Muppet ter batido Real in Rio na escolha de melhor música original. Juro que não é meu nacionalismo falando: embora Man or Muppet seja legalzinha possa trazer boas e nostálgicas lembranças para muitos, Real in Rio é tão, sei lá, enérgica (minha gente, tem samba, forró, olodum e tudo mais! Poxa, pode esteriotipar nosso país, mas a música é linda!), original e está anos luz à sua frente. É impressionante como parece doer admitir que algo vindo de um país subdesenvolvido pode ser melhor...

23 fevereiro 2012

F14 - Cada um tem a gêmea que merece


Comédia não é um dos meus gêneros preferidos. Não que eu não goste de rir ou não tenha bom-humor – pelo contrário, rio por qualquer besteira – mas as maiorias das comédias que já assisti apela para sexualidade e/ou preconceito de gênero, sexualidade ou etnia, o que acredito ser desnecessário para fazer rir.
Mas fui voto vencido na escolha do filme, e ao invés de estar na sala ao lado assistindo A invenção de Hugo Cabret, lá fui eu tentar rir das piadinhas de Adam Sandler em Cada um tem a gêmea que merece. É uma típica história de vamos-mostrar-o-valor-da-família: enquanto Jack foi popular e bem sucedido em toda a sua vida, Jill era meio chatinha e sem grandes talentos. Ofuscada pelo irmão e sem convívio social outro que a casa dos pais, Jill se torna uma pessoa inconveniente, sendo suas visitas anuais um estorvo para Jack. Em uma dessas visitas, depois de brigas homéricas (e bastante engraçadas – consegui me ver na situação de melodrama extremo entre irmãos) ela decide passar mais tempo do que o planejado.
Percebendo o quão solitária a sua cunhada é, a esposa de Jack – que foi tão insignificante na estória que nem lembro o seu nome – sugere, juntamente com seus filhos, que Jill crie um perfil em sites de namoro. Vem aí um grande problema que detectei: o filme trata namorar como a única forma de aplacar a solidão dela.  Quase todo ser humano tem a necessidade de um vínculo nesse estilo, mas ao invés de ressaltar isso, foi a mentalidade de que uma mulher necessita de um homem que marcou as cenas do filme. Além disso, não seria mais inteligente “exercitar” as habilidades sociais de Jill (que nunca teve amigos ou interesses fora da esfera familiar) por algum tempo? Ou, mesmo que ela tentasse arranjar um namorado, custava muito considerar ter contato com seu irmão e sobrinhos e fazer amigos como uma maneira de se sentir menos sozinha depois da morte dos pais?
Além disso, o fato de Jill ser “feia” e “quarentona” é bastante ridicularizado (mais até do que sua personalidade inconveniente e chata): ela apenas obtém um encontro por um anúncio “ousado” e levemente mentiroso que seu irmão coloca em outro site. Afinal, a foto de uma “baranga” que também é “masculinizada” (uma cena mostra Jill levantando mais peso do que os “marombeiros” da academia) não serve para nada além de assustar moscas.
Ironias à parte, sei que a maioria das pessoas considera a aparência como fator decisivo na hora de escolher seu par, mas colocar isto como uma condição sine qua non (e a falta de beleza como defeito quase mortal) é uma grande imbecilidade.
Como o espectador já deveria esperar, Jill leva um fora no seu encontro, não acreditando mais na possibilidade de achar alguém – ao ponto de ignorar as atenções de Al Pacino (sim, do Poderoso Chefão), que se encanta com ela. É aí é que vem o problema: Jack, que tem uma agência de publicidade, precisa de Al Pacino para um comercial para seu maior cliente, o Dukin’ Donuts – não conseguir o famoso ator poderia levar sua agência à falência. O problema é que o comercial é ridículo, com chances mínimas de que um grande ator aceite fazê-lo. E então, subitamente, Jack passa a desejar a companhia da irmã – que desprezou durante toda a sua vida – com o único intento de fazê-la convencer Pacino a salvar sua agência.

Não sei que tipo de dívida Al Pacino contraiu para precisar do cachê de um filme desses, mas espero que seja com traficantes ou alguém que ameace, de alguma maneira, a sua vida – outra coisa não justificaria.O eterno Michael Corleone parecia simplesmente deslocado demais num filme desse gênero, sofisticado demais para fazer piadinhas do lado de Adam Sandler – os dois juntos foi como ver um pedaço de um bom chocolate perto de uma salada de rúcula e jiló.
Mesmo com toda minha implicância, eu gostei do filme. O fato é que as premissas machistas que ele traz são coisas bastante enraizadas na nossa sociedade e nem chegam a ser consideradas sexistas pela maior parte da população. Embora eu não pudesse deixar de observar, ainda vai passar algum tempo antes que todos percebam e lutem contra isso – se eu excluísse obras com esse tipo de “violência” eu não leria livros ou assistiria filmes (e, conseqüentemente, perderia boa parte da minha sanidade). Gostei muito da abordagem que o filme traz sobre família: não é a aquela coisa melada, docinha demais e irreal, e sim uma longa jornada pavimentada com erros, defeitos imperdoáveis de todas as partes pedidos de desculpas e o tal do amor – bastante próximo à vida real.
Bom, o fato é que Cada um tem a gêmea que merece faz comédia do jeito que eu gosto: brincando mais com palavras e situações do que ridicularizando o diferente – e quando um filme “comercial” consegue fazer isto, não posso fazer nada além de tirar meu chapéu.
Nota: 3/5
 

17 fevereiro 2012

11 coisas

Sarah do Ei Sarah me indicou para essa tag. Nunca tinha feito uma antes, então perdoem-me pelos erros e pelo comprimento gigante. Enfim, faço muitas resenhas de filmes e livros, já estava na hora de falar um tiquinho de mim mesmo:
11 coisas sobre mim
1 – Eu não consigo fazer NADA sem tomar um café preto. Sem brincadeira nenhuma: acho que meu cérebro desliga durante a noite e o café é a chave para torna-lo operante de novo. E tomo de um jeito, digamos, bem peculiar: detesto qualquer coisa quente - me doem os dentes e a lingua - então esfrio com uns dez cubinhos de gelo. E ai de quem achar estranho.
2 – Já comecei a escrever uns duzentos livros, mas abandonei quase a totalidade porque nunca era criativo o suficiente para sustentar um enredo durante duzentas, trezentas páginas. Minha produção realmente “terminada” tem um quê bastante infantil, mas espero escrever algo minimamente decente muito em breve - já estou amadurecendo uma ideia de ficção distópica YA na minha cabeça. Por enquanto, vou treinando a parte de coesão por aqui mesmo.
3 – Sou muito chorona. Não com coisas pessoais (quando é de leve ou médio, sempre ignoro; quando é algo grande, dou uns pitizinhos ou escrevo), mas com o resto do mundo mesmo: noticiários são motivos para ficar com os olhos marejados; documentários e filmes me fazem derramar litros de lágrimas e a maior parte dos meus livros tem manchinhas e rugas nas folhas (alguns até têm páginas rasgadas) por essa razão.
4 – Eu gosto de TODAS as matérias de ciências humanas, o que eventualmente me causa problemas – tipo para escolher o curso do vestibular, o que deve (idealmente) ocorrer em cerca de dois anos. Provavelmente, por essa razão e por gostar de escrever, vou acabar escolhendo jornalismo, já que o bom profissional dessa área precisa de uma boa noção geral de filosofia, sociologia, história e etc.
5 – Sou envolvida com projetos sociais. Já fui voluntária em dois tipos de projetos diferentes e, em março, vou começar um em uma creche comunitária. Apesar de saber que esse tipo de coisa é só uma gota num oceano ridiculamente enorme de sofrimento e problemas, acredito muito na máxima “eduque um, atinja cem”  e aí vou tentando – tanto socialmente quanto politicamente – fazer minha parte.



6 – Tenho uma vontade imensa de conhecer vários lugares do mundo - desde lugares "comuns" como NY e Paris até lugares mais "exóticos", tipo a Coreia do Norte ou o Qatar.  
7 – Passo por “fases” musicais: às vezes é clássica, às vezes eletrônica, MPB, reggae, eletrotango e onipresentemente há o pop. Contudo, nesse momento, essa música é meu vício.
8 – Estou participando de um processo seletivo para bolsas de estudo no exterior, dadas por essa organização que, assim como eu, acredita que a educação é uma arma poderosa para mudar o mundo. Passei da primeira fase (uma prova escrita e uma carta de apresentação pessoal) e espero passar das próximas duas (uma entrevista e um convívio – uma espécie de acampamento onde o comitê selecionador avalia os candidatos através de dinâmicas de grupo). Enfim, vou falar mais sobre isso depois, mas desejem-me sorte! ;D
9 – Quando eu era pequena, enchia o saco da minha mãe para ter uma máquina de escrever. Achava - e continuo achando - extremamente charmoso.  
10 – Já tive cabelo rosa, vermelho, azul e etc e ADORO.

11 – Sou *fluente* (na medida do possível) em inglês: estudei-o por oito anos em um curso e agora continuo fazendo meu papel lendo, (tentando) assistir filmes sem legendas entre outras coisas. Estudo umas coisinhas de francês sozinha faz um tempinho, e finalmente entro no curso esse ano – espero que a língua do amor seja a segunda de MUITAS que aprenderei.
11 perguntas
1. Celebridade que você ama/surta quando vê ou simplesmente gosta muito?
Surtar não surto, mas gosto bastante de Lula, Natalie Portman e JK Rowling (espero que políticos e escritores contem como celebridades haha).
2. Se fosse homem, quem você gostaria de ser?
Olha, sou bastante feliz sendo mulher. Já me sinto meio alienada da realidade sendo parda e de classe média, então imagine se eu fosse homem, recebendo vários privilégios sociais e nem me dando conta disso?
3. Novela mexicana ou novela brasileira?
Não assisto novela hoje em dia, mas eu curtia muito as mexicanas que passavam no SBT quando eu era menor.
4. Se sua vida fosse um seriado, qual seria a música tema?
Mistério do planeta, Novos Baianos.
5. Quem é sexy?
Matt Boomer (e sim, eu não sabia o nome dele até procurar para fazer esse post).
6. Quem muitos dizem ser lindo-sexy-maravilhoso e você acha a coisa mais sem graça do planeta? (Tanto faz se é homem ou mulher)
Sempre achei Robert Pattinson beem sem sal. Piorou depois que ele admitiu não tomar muitos banhos.
7. Já leu romances de banca? 
Não. Não sei se é só aqui, mas a maior parte dos romances da banca tem cara de ser, digamos, meio indecentes...
8. Vampiro ou Lobisomem?
Lobisomem. Detesto qualquer coisa que envolva sangue – toda vez que preciso tirar, é uma novela que envolve meu pai me segurando na cadeira, eu chorando, a enfermeira errando a veia umas dez vezes e umas vinte balas de consolação depois.
9. Qual personagem (de livro, série, filme, anime etc) você tem a impressão de que é baseado em você?
Olha, não realmente tem alguém que acho que foi “baseado” em mim, mas me identifico com alguns aspectos de Emma, de Jane Austen. Assim como ela (mas em outras áreas, nunca tentei desenhar ou cantar) tenho uma facilidade para algumas coisas, mas em geral não persevero, além de pais e professores em geral tenderem a superestimar minhas habilidades. Saquem só:
“Sempre quis fazer de tudo e conseguiu mais progressos – tanto em desenho quanto em música do que muitos o teriam conseguido com o pouco esforço que ela sempre entregou a isso. Desenhava, tocava e cantava em quase todos os estilos; mas sempre lhe faltava perseverança; e em nada se aproximou daquele grau de excelência que bem gostaria de possuir e que não devia ter deixado de alcançar. Não estava muito decepcionada com sua própria habilidade, fosse como desenhista ou musicista, mas não queria decepcionar os demais ou vê-los tristes por saber que sua fama de grande realizadora era em geral maior que a merecida.”
10. Personagem mais chato de todos os tempos? 
Com certeza Katniss, mas não durante toda a série Jogos Vorazes – somente no último livro, “A esperança”.
11. Qual é a pior coisa que alguém pode escrever num comentário no seu blog?
Nunca realmente pensei sobre isso, mas detesto quem passa só para divulgar, sem nem fazer um comentário sobre o post. Galere, só pra constar: irrita. Se a pessoa fizer um post,  é para ser lido, poxa, e se for para comentar, pelo menos elabora um pouquinho, faz uma adição, elogio ou crítica construtiva...
Minhas 11 perguntas
1 – Adaptação para o cinema preferida?
2 – Matéria preferida na escola/faculdade?
3 – O que você não vive sem?
4 – Qual a melhor coisa “por acaso” que já lhe aconteceu?
5 – Qual o último livro que você abandonou pela metade?
6 – Primeira coisa na vida que se lembra?
7 – Porque decidiu fazer um blog?
8 – Livro preferido?
9 – Filme preferido?
10 – Gosta das coisas organizadas ou não faz questão?
11 – Se irrita com falta de pontualidade?
Não sei muito bem quem indicar, já que Sara, que me indicou, já pegou minhas principais vítimas hahahah Enfim, quem quiser, é só pegar as perguntas :D

14 fevereiro 2012

F13 - V de Vingança

2011 foi um ano especial. Com as mais diversas reivindicações – desde o impeachment de tiranos nos países árabes ou medidas mais enérgicas frente aos efeitos da crise do capital nos EUA e na Europa – pessoas de todo o mundo saíram às ruas, exercendo o único direito realmente inalienável, ao menos para a alma humana: o de ter o mínimo de liberdade, o mínimo suficiente para que protestar não seja um crime.
Embora em menor escala, essa onda de indignação chegou no Brasil, na forma de diversas causas e movimentos: alguns organizados e focados, outros bastante dispersos, mas, de qualquer jeito, compostos por pessoas que querem um futuro melhor. Em meados de outubro, fui convidada para uma manifestação anti-corrupção, e uma coisa me chamou a atenção: a descrição do evento no Facebook pedia que os participantes, se possível, usassem uma máscara de Guy Fawkes.
Em 1606, Guy Fawkes, depois de lutar pela Espanha nos países baixos, usou seu vasto conhecimento sobre explosivos para tentar explodir o Parlamento Inglês, matando assim o rei e colocando de volta um monarca católico no trono. Contudo, seu plano falhou, e Fawkes foi capturado e sentenciado à morte. O dia cinco de novembro – dia planejado para o seu plano falho – é até hoje celebrado na Inglaterra como uma vitória de seus monarcas, onde crianças – aproveitando-se da maravilha que costumam ser os feriados escolares – queimam bonecos representando o quase-terrorista.
Mas não é em tributo a Fawkes que os manifestantes sugerem o uso desta máscara, e sim à cultura pop: o personagem V., da comic novel e do filme (do qual falarei) V de Vingança, planeja o estopim de uma rebelião a partir da realização do sonho de Fawkes: a explosão do parlamento e o assassinato de um tirano.
Num tempo futuro, depois que uma arma biológica dizima boa parte da população estadunidense, a mesma praga se insinua em território britânico. Seguindo uma tendência de países em crise (a “mão forte” do conservadorismo finge dar segurança) o povo elege um candidato do partido Fogo Nórdico, que vai gradualmente retirando de seus cidadãos suas liberdades individuais e eliminando aqueles com pensamentos ou atitudes “subversivas.
É neste cenário que V. planeja acender uma centelha de rebelião no povo Inglês: munido de um vasto conhecimento sobre explosivos e uma máscara de Guy Fawkes, ele convida seus compatriotas a marcharem, no próximo cinco de novembro, até o parlamento, onde uma explosão os aguarda. Se a clara citação de uma figura histórica e seu discurso inflamado já parecem convencer a população em geral, a explosão seria mais convicente ainda: o suposto ato terrorista poderia ser um símbolo para a transformação que estaria para vir, através das ações das massas. No meio do caminho para sua primeira ação direta, ele salva Evey (cujos pais foram mortos pelo regime por serem ativistas políticos) de um estupro por membros do Dedo, uma espécie de polícia do regime. Depois de ser associada pelo governo à V., Evey precisa se esconder com ele, nos revelando cada vez mais do misterioso homem com a máscara.
V de vingança é muito bom, mas eu esperava mais em alguns aspectos. A reflexão sobre liberdades individuais poderia ser mais profunda: como disse na minha resenha de Trainspotting, acredito que a melhor maneira de educar e conscientizar seja pela arte, mostrando uma determinada coisa como ela é e fazendo com que o espectador decida por si mesmo. Não consigo pensar em um lado bom de um governo ditatorial, mas a atenção dada ao lado ruim foi insuficiente: o episódio de um padre pedófilo é tratado com tanta leveza que torna-se quase cômico e a falta de liberdade política mal é mencionada . A única exceção a esta regra é quando é contada a trajetória de uma lésbica, que, por sua orientação sexual, foi presa e feita de cobaia de armas biológicas pelo regime – mas, apesar da história ter me feito derramar algumas lágrimas, não há o devido aprofundamento do assunto.
 Além disso, uma espécie de culto à vingança – não à vingança coletiva, destruindo tiranos, e sim à vingança individual, aquela feita com as próprias mãos – é feita. Certo, concordo que o pobre V. tinha razão para procurar todos seus carceireiros – assim como a moça lésbica, ele também foi feito de cobaia – e matá-los, mas um pouco menos de reverência a esta atitude não faria mal. Os aspectos irreais típicos de Comic Novels foram irritantemente mantidos eu gosto de filmes de fantasia ou de super-heroí, mas não há insinuação nenhuma de que V. tenha ganho super poderes ou que eles sequer existam no mundo narrado – ainda estou sem saber como V., com suas meras facas e espadas, consegue enfrentar um batalhão de homens armados ou entrar em instituições com segurança máxima.
Mas, para ganhar meu conceito de muito bom, o filme também possui seus pontos positivos: o principal deles é a atuação de Natalie Portman como Evey é uma delas. Alguns atores conseguem fazer com que eu goste de personagens ruins – mas isso é raro, e Evey de V de vingança foi uma delas.
 Sempre gostei de jogar um joguinho comigo mesma: nas horas de tédio mental, eu me pergunto como eu seria se houvesse nascido em São Paulo, no Sudão ou na França. Não é que eu não goste da minha própria vida, não é isso: colocar-me no lugar dos outros é um ótimo exercício de tolerância. Um dia, simplesmente travei nas minhas reflexões: e se eu fosse um garoto da faixa de Gaza, e um grupo me recrutasse para sacrificar minha vida (e a de muitos outros) em nome da Palestina? A reflexão não era tão complexa pela situação em si, e sim pela pergunta que quase todos falham em responder: o que é terrorismo, e o que é luta política?
Logo de antemão, já digo: não gosto que ninguém inocente seja ferido. Mas e se meus líderes já houvessem esgotado sua saliva tentando negociar com líderes estrangeiros, sem sucesso, durante décadas? E se meu povo não possuísse atenção ou voz sem sacrificar vidas? E se, sem isso, meu povo continuasse sem terra, sem comida, vivendo dentro da grande prisão que é um campo de refugiados, amedrontados? E se meu vizinho corresse o perigo de ser preso e torturado, meu pai de ser morto e minha amiga de ser estuprada por um soldado que usa a ilegitimidade de minha nação como justificativa? E se minha melhor perspectiva para a vida fosse somente sobreviver, somente sobreviver alimentando minh'alma com nada mais do que esperança, ao invés de realmente viver de que lado eu me colocaria – do povo que vi sofrer desde que nasci ou de desconhecidos?
 Não sei se um dia chegarei à resposta, mas me lembrar desta reflexão me fez achar a ambigüidade de V. é maravilhosa: fazer com que o espectador se pergunte se o herói é um revolucionário ou um terrorista (embora seus atos não pareçam ferir ninguém ou nada a não ser o ego do governo) foi algo particularmente inteligente, principalmente no clima de “caça ao terror” que o mundo se encontrava na época que o filme foi lançado.
Bom, já divaguei demais. Mas, com todos os defeitos do imperfeito mocinho deste filme, ainda estou certa de que o mundo precisa de mais gente como V. .

12 fevereiro 2012

L13: Emma

À primeira vista, o cotidiano dos homens e mulheres da aristocracia inglesa do século dezoito pode parecer terrivelmente entediante: os homens não trabalhavam muito; a vida das moças girava em torno de conseguir um marido e das mulheres em torno do casamento; os preconceitos de classe eram mais acentuados e as regras sociais pormenorizadas a um nível quase insuportável. A fala era polida demais, as ocupações e diversões escassas e a educação feminina extremamente limitada.
Por isso que devo chamar Jane Austen de fada: ela realizou a mágica de fazer essa sociedade tão intrincada, parada e diferente parecer fascinante, mesmo sob o olhar de uma jovem do século XXI. A falta de “atrativos femininos” de Jane Austen a fez nunca se casar, usando então o tempo que outras mulheres dedicariam aos seus maridos para observar a natureza de seus pares.
Natureza humana esta que pode ter mudado de foco com o passar das décadas, mas não de essência: identifiquei-me com várias das características de Emma (infelizmente, mais com seus defeitos do que qualidades), personagem principal do livro homônimo, e conseguia encontrar semelhanças entre os meus conhecidos e os da heroína. Mesmo com a ascensão da mulher, o fim de uma aristocracia e de um modo de vida como narrado e a constante e lenta “criminalização” de preconceitos de classe; a essência humana continua (para o bem e para o mal) a mesma.
Emma é mimada por seu pai e pela sociedade: como se não bastasse sua riqueza (trinta mil libras de herança, uma fortuna enorme na época), ainda é bonita e inteligente. Morando em uma cidade com poucas pessoas que poderia considerar “de seu nível”, é rapidamente cativada pela doce e bela Harriet Smith, jovem pensionista em uma escola de damas e de procedência familiar desconhecida –  algo que era considerado quase um crime para uma moça na época.
Ignorando os conselhos de seu bom amigo Sr. Knightley – que, ao contrário dos outros heróis nos livros de Jane Austen que li, me cativou bastante por sua racionalidade – Emma prossegue com esta amizade, que, como era de se esperar, tem conseqüências desastrosas. A chegada de Frank Churchill, filho do Sr.Weston (marido da ex-governanta e mãe de criação de Emma), criado por seus tios no seio da alta sociedade inglesa, torna a situação ainda mais confusa e complicada.
Mesmo parecendo longo, o livro passa rapidinho, até rápido demais. Embora sua prosa seja muito boa (descritiva sem ser maçante, com diálogos brilhantes e reviravoltas boas e críveis) não é esta a maior qualidade de Emma ou de qualquer outro livro de Austen que eu já tenha lido: a autora não esconde de seus leitores a falta de beleza, inteligência ou o gênio ruim de quaisquer de seus personagens. Até mesmo os mais irritantes (como o Sr.Woodhouse, pai de Emma, que é o que nós, no século XXI, chamaríamos de hipocondríaco) tornam-se suportáveis pela extrema humanidade contida em si. Não há nenhuma tentativa,de fazer heróis perfeitos ou vilões maus demais para serem reais. Na verdade, essas duas categorias – heróis e vilões – são inexistentes: todos os personagens são salvadores ou algozes, dependendo por qual ponto de vista ou do momento que estão passando.
 Obrigada, Jane Austen, por não ter se casado ou feito qualquer coisa esperada das mulheres da sua época: se contrário fosse, não teríamos suas brilhantes análises da natureza humana.
Nota: 5/5

[Esse post foi feito para o Desafio Literário 2012]

08 fevereiro 2012

F12 - Persépolis

Tenho essa mania terrível de assistir filmes à prestação, pulando para a quinta cena antes mesmo de ter visto a primeira seguindo uma ordem pessoal e pouco padronizada que irrita a todos exceto por mim mesma. Porém, meu método pouco ortodoxo se mostra falho várias vezes, por exemplo agora: terminei finalmente de assistir Persépolis do jeito certo (ou seja, inteiramente, em uma só sentada e seguindo a ordem pré-estabelecida pelo diretor) e arrependo-me de não tê-lo feito antes.

Já vou logo avisando: minhas parcas palavras não podem fazer jus a este filme. Persépolis é a biografia da artista Marjane Sartrapi, narrando sua trajetória desde a sua infância: filha de pais “modernos” de classe média, é educada nas melhores escolas e ensinada desde pequena o valor da liberdade e da igualdade. Embora o radicalismo religioso influencie de certa maneira o seu modo de pensar quando criança, a sua forte herança familiar (além de seus pais, o resto de sua família era envolvida com movimentos comunistas e descendente da monarquia iraniana, deposta pelo Xá) molda sua personalidade, por demais rebelde para o Irã da época.
Nos primeiros minutos de filme, é enorme a felicidade dos pais de Marjane pela revolução: finalmente, depois de muito sangue derramado (como grandes mudanças infelizmente teimam em ser) e luta, o Xá é deposto. Contudo, o país acaba indo em rumos inesperados: ao invés de se tornar uma república democrática, o Irã é mergulhado no radicalismo religioso dos Aiatolás, apoiado pela maior parte da população que, por seu iletramento, não fazia a mínima ideia do valor de um estado laico e acreditava que forçar que todos sigam as leis de Deus (sem questionamentos ou liberdade) era o melhor caminho para a paz. Um tirano é, por mais uma vez na história iraniana, trocado por outro ainda pior, e a situação é agravada pelo início da guerra Irã-Iraque (este último se aproveitando da fraqueza pós-revolução do primeiro) e, levando um milhão de jovens à morte – muitos incentivados pelos agentes do regime, que usavam o paraíso eterno como moeda de barganha.

A vida de Marjane muda significativamente: o uso do véu se torna obrigatório; as constantes festas e reuniões que seus pais compareciam se tornaram escassas e secretas;  bens básicos, assim como seus entes queridos desapareceram e qualquer influência ocidental estava pronta para ser aniquilada pelos agentes do regime teocrático. Depois de receberem uma ligação da escola, onde Marjane questionou sua professora de religião – que, assim como todos que gostariam de sobreviver, mudara de “lado”, apoiando agora o governo vigente ao invés do Xá –  os pais da mesma a mandam para estudar na Áustria, decidindo que o Irã não é seguro o suficiente.
Lá, ela passa por uma grande crise de identidade: enquanto não consegue se adaptar ao modo de vida europeu (por tudo que passou e por saber tudo que seus concidadãos estavam passando), ela sabia que parte de seus laços com o Irã haviam sido cortados, e que o regresso àquele país onde as liberdades civis eram cerceadas cada vez mais seria difícil. A solidão de ter de crescer sozinha em um país estrangeiro – Marjane tinha apenas 14 anos quando foi mandada à Áustria – também a perseguia.

O aspecto mais interessante é, com certeza, aquele que eu já havia comentado em Doutor Jivago: Pérsepolis não é informação pura. Não é um livro de História ou um documentário: não há nenhuma tentativa falha de imparcialidade ao contar aos fatos. Na verdade, não há sequer uma tentativa de contar os fatos: o filme é a biografia de Marjane Sartrapi, e a revolução Islâmica é apenas o pano de fundo. Li os HQs que inspiraram o filme e, em comparativo, posso dizer que houveram acréscimos, omissões e reduções de vários acontecimentos, tornando-o ainda mais interessante. A arte é algo a parte: o desenho (na maior parte do tempo em preto-e-branco) é tão bonito que eu simplesmente não sabia que fotos usar para ilustrar este post.

Marjane é ótima, humana de uma forma palpável, que erra milhares de vezes, é cheia de dúvidas, corajosa e vai amadurecendo no curso do filme. Contudo, minha personagem preferida é sua avó: desbocada, dá lições de moral sem mostrar que o faz, baseando-se na trajetória de seu marido (morto pelo regime do Xá) e é uma quebra interessante ao clichê de mulher mulçumana submissa.
Entende-se porque alguns regimes ditatoriais, ao tomarem o poder, censuram não só os jornalistas, políticos e professores, mas também os artistas: não há melhor maneira do que a arte para comunicar, emocionar e mudar o mundo.
Nota: 5/5