31 agosto 2012

A culpa é das estrelas


É inevitável não esperar muito de alguns livros. Seja pelo autor, por comentários ou pelo tema: às vezes fica impossível não colocar as expectativas lá em cima, e, por vezes torná-las irreais.

Queria ser capaz de não criar expectativas assim, tão altas: é garantia de uma decepção, ainda que leve. Mas é possível se decepcionar com algo muito bom (desde que se esperasse algo estelar) e esse foi o caso de A culpa é das estrelas.

Hazel tem dezesseis anos e foi diagnosticada com câncer há três. Sua vida gira em torno da doença: as funções de sua família (a mãe parou de trabalhar para cuidar dela), a sua (falta de) amigos e o fato de ir para todo canto com um cilindro de oxigênio, atraindo olhares do que acredita ser um dos piores sentimentos existentes – a pena. A morte prematura é certa para nossa jovem heroína – o capítulo final de sua vida foi escrito no momento do diagnóstico – e alguns poucos anos a mais são sua máxima esperança.

Orações melosas, testemunhos deprimentes e frases motivacionais mal-feitas se tornam parte do cotidiano de Hazel graças a um dos principais efeitos colaterais de se estar morrendo: a depressão. Não há nada que a ajude no grupo de apoio para crianças com câncer que participa uma vez por semana além de Isaac, garoto sem um olho que também parece reparar quão piegas são as falas de seu líder.

Até que Augustus Waters aparece.

27 agosto 2012

O torreão


Como escritora, Jennifer Egan só tem um defeito: ela está viva.

Sim, detesto quando meus ídolos são pessoas com sangue correndo nas veias e ar nos pulmões: qual a garantia que possuo que eles não irão me decepcionar? A inexistência dessa possibilidade me agrada muito, mas infelizmente não é o caso de todos os grandes escritores. Ou felizmente: eles podem superar suas obras anteriores. Mas prefiro não correr o risco.

A expectativa de uma boa experiência literária, porém, supera o receio de que esta seja uma porcaria completa – e foi assim que parti para a leitura de O torreão.

Danny era o típico galã de filmes adolescentes americanos: jogador de futebol bonito popular bom aluno... Mas ir fazer a faculdade em Nova York o modifica bastante: Danny abandona a faculdade, adota um visual mais “alternativo” e, contrariando o que lhe foi ensinado, passa os dezesseis anos seguintes pulando de emprego em emprego e levando uma vida bastante arriscada e boêmia.

24 agosto 2012

Precisamos falar sobre o Kevin (filme)



Kevin já nasceu estranho. Desde o berço, a diferença entre seu comportamento frente à mãe Eva e frente ao pai Franklin (que se estende ao resto da humanidade) é enorme: com ela, um pesadelo – é marcante quando Eva prefere o barulho de uma furadeira ao choro insistente do filho. Com ele, um sonho, comportado e extremamente inteligente.

Os anos passam e a coisa piora: o que podíamos denominar de mal-criação persistente vira pura maldade. Como vários psicopatas mirins, as vítimas de Kevin são variadas e seu gosto pela dor (o bichinho de estimação de sua irmã não dura quase nada) é óbvio – mas seu principal alvo não deixa de ser sua mãe.

22 agosto 2012

O sonho de Eva



Eva Abelar é uma das maiores especialistas do mundo em sonhos lúcidos. Embora talentosa e dedicada, ela é ridicularizada pela comunidade científica  graças a abordagem pouco ortodoxa de suas pesquisas – e que “vingança” melhor do que ser convidada a trabalhar para a Yume, uma das maiores e mais sérias empresas do mundo? Poderia ter sido uma enorme vitória.

Poderia.

Mas as circunstâncias não são exatamente propícias para uma celebração. Dias antes, durante uma conferência em Viena, Eva havia recebido as notícias de duas catástrofes: a de que Anna, sua irmã, se jogara de cima da cobertura onde morava e que Joachim, seu filho de sete anos (autista e entregue aos cuidados da tia durante a viagem da mãe) desaparecera.

Diante da falta de respostas da polícia e pressentindo uma conexão entre a morte de Anna, o desaparecimento de Joachim e a Yume, Eva então faz o inesperado: aceita a proposta. Sua missão: ocupar o posto da irmã na equipe do DreamGame, empreitada inusitada da Yume que permitirá aos seus usuários que sonhem no mais real e ilimitado ambiente que existe: seus sonhos.

21 agosto 2012

Bel Ami (filme)


Por meio desta, eu confesso:
fui fã de Crepúsculo.

Dessas de passar horas em sites e sonhar com o Jacob; de escrever fanfic e fazer uma camiseta para a estréia do filme. De recortar entrevistas e fotos dos atores em revistas e guardar em uma pastinha. De ficar com ciúmes quando as amigas começaram a gostar também. O fato é que todos temos uma listinha secreta de coisas que gostamos e hoje nos dão vergonha, fotos de franjas cortadas em casa e atitudes inocentes, porém ridículas.

Se você for fã de Crepúsculo, não me mate (como eu faria na época com alguém que falasse esse tipo de coisa) mas com o passar do tempo, fui percebendo a óbvia falta de qualidade da obra de Stephanie Meyer. Já quanto aos filmes, eles não são tão ruins assim em termos de produção (pudera, com um orçamento milionário) – mas os atores deixam bastante a desejar: Kristen Stewart tem basicamente uma expressão facial (porque, Walter Salles, por quê?) e Robert Pattison... Bom, ele não estava ruim, mas tão pouco merecia um salário tão grande e tanta atenção.

19 agosto 2012

As vantagens de ser invisível e tatuagens literárias


Sou louca para fazer uma tatuagem, e quase todas nas quais já pensei são frases de livros que, de alguma maneira, marcaram a minha vida. Por isso o Contrariwise – que reúne tatuagens literárias de várias pessoas ao redor do globo – é um dos meus sites favoritos na internet. As minhas preferidas são as do poeta e.e. cummings (sim, se escreve com letra minúscula). Alguns tatuam estrofes inteiras, mas as palavras desse poeta são fortes o suficiente para funcionarem como frases soltas.


Jack Kerouac, ícone da geração beat, também inspira muita gente.


Kurt Vonnegut é bastante popular por lá, e isso me influenciou a comprar o seu livro Slaughterhouse Five, tido como um dos maiores livros anti-guerra de todos os tempos. A frase “so it goes” (algo como “assim vai” em português) é repetida 127 vezes em todo o livro, fato que incentivou os blogueiros do Contrariwise a procurar o mesmo número de tatuagens com essas três palavrinhas. Já conseguiram 44.

15 agosto 2012

Rangers: ordem dos arqueiros 1 - Ruínas de Gorlan



Sou sonhadora, mas de uma forma meio estranha. Sei (ou acho que sei) exatamente até onde posso ir, então não perco meu tempo devaneando sobre entrar em Harvard, ser uma cantora pop ou escalar o monte Everest. Caso uma classificação seja necessária, nomear-me-ia de “sonhadora prática”. Não me tome por limitada: reconhecer impossibilidades e fraquezas, sabendo medir as chances que algo dê certo risca muitos alguns itens da minha lista, mas as coisas restantes são tantas e tão fascinantes que prefiro não me incomodar muito com isso.

Will, protagonista de Ruínas de Gorlan (primeiro livro de Rangers: ordem dos arqueiros) não compartilha dessa minha natureza de sonhadora prática: ele é pequeno e frágil, mas ainda assim quer entrar na exigente escola de Guerra do feudo onde mora (parte de um mundo que mistura o sistema social da idade média com um pouco de fantasia, pobremente descrito no volume em questão). O motivo? Ele crê que seu pai (morto há anos em um combate com as tropas do maior inimigo do reino, Morgarath) ficaria feliz com isso. Criado como protegido (ou seja, um órfão acolhido pelo Barão) no castelo, Will não tem ninguém que possa lhe guiar nessa escolha, e as chacotas de outros protegidos não são de grande ajuda.

Como esperado, o garotinho não é admitido como aprendiz de guerreiro. Arrasado, ele vê para si somente uma vida de camponês, já que não possui outras habilidades e não pensou em planos B, C ou D (coisa que nós, sonhadores práticos, nunca deixamos de fazer).

Contudo Halt, da Ordem dos Arqueiros, intercede em seu favor, aceitando-o como aprendiz. Will, afinal, não era tão sem habilidades assim: ele consegue escalar os muros do castelo com bastante destreza, atributo bastante útil para arqueiros. Dei um sorriso quando soube disso: lembrou-me bastante de Bran, de Guerra dos Tronos – um dos meus personagens preferidos da série. O destino de Will é então permeado de perguntas sem resposta, um mestre mal-humorado e muito trabalho.

Apreciei Rangers, mas de uma forma muito estranha. Detesto a figura do “herói inesperado”: todos nós acabamos sendo (a nossa própria maneira) heróis inesperados uma hora ou outra (ou pelo menos podemos nos ver como tal), fazendo com que tal perfil acabe sempre me parecendo um recurso podre do autor para criar identificação entre o leitor e o personagem.

Como é comum em livros do gênero, a linguagem é bastante simples e limpa. Só encontro um grande defeito nesse ponto: a fim de não sofrer da maior praga de livros narrados em terceira pessoa (a repetição excessiva dos nomes dos protagonistas) Flanagan força um pouco a lógica a fim de encontrar sinônimos para tais. Há um certo uso de deus ex machina, mas não é exagerado: é perceptível que a prioridade do autor nesse livro em específico é apresentar a nova vida de Will como um aprendiz de arqueiro, não criar grandes tramas, conspirações e histórias. Gosto desse clima de tudo novo e fresco, de ser introduzida a todo um novo mundo junto com o protagonista. 

Mesmo com os erros listados acima, confesso: me diverti enquanto lia Ruínas de GorlanNão há nenhuma qualidade que possa fazê-lo grande como outros livros de fantasia (como as tramas de George Martin ou a magia de C.S. Lewis), mas não há nenhuma falha excepcional, e a fluidez da leitura o torna um bom presente para aqueles que não gostam de ler. É nesse momento que meu eu “crítica” e meu eu “normal” entram em conflito: quando não se pode ter as duas coisas (qualidade e diversão) qual é mais importante?


10 agosto 2012

Bel ami (livro)



Creio que ainda mais importante do que conhecer bem as coisas que você gosta ou com as quais você concorda é conhecer o que você critica. Sem isso, a crítica perde completamente a propriedade e a autoridade, se tornando algo pouco pior do que uma fofoca.

É por isso que leio a revista Veja.

Em geral, espero abobrinhas e absurdos (e raramente me frustro nessa minha expectativa), mas algumas se superam - como esta matéria, na qual a pesquisadora inglesa Catherine Hakim desfila suas teses excêntricas (estou sendo gentil). Uma delas, por exemplo, é que a utopia feminina moderna é ser uma dona de casa ociosa.

Como se isso não fosse estapafúrdio o suficiente, outra coisa me chamou ainda mais atenção: para Hakim, pessoas “bonitas” devem ser valorizadas tanto quanto (ou até mesmo mais que) pessoas inteligentes e esforçadas. Os “feios”, portanto, devem ser excluídos dos cargos de chefia, por mais competentes que sejam - uma pequena sanção por deixar o mundo mais visualmente desagradável.

Não vou entrar nessa questão: a subjetividade da beleza é algo óbvio e tenho quase certeza que você ergueu suas sobrancelhas em uma expressão confusa no paragrafo anterior. Contudo, se substituímos “ser bonito” por “atender determinados padrões” o sonho de Catherine Hakim é a mais pura realidade – inclusive na vida do protagonista do livro Bel Ami (recentemente adaptado para o cinema, filme do qual falarei em breve), Georges Duroy.

Depois de servir algum tempo no exército Francês, o filho de camponeses Georges Duroy de Cantaleu se muda para a cidade, esperando lá conseguir fama e fortuna. Não estamos falando de qualquer cidade, e sim da Paris de 1885, que acaba se revelando ao nosso personagem muito mais cruel do que o esperado: graças ao seu espírito pouco frugal (e portanto incompatível com sua condição de empregado de escritório) Duroy sobrevive à duras penas.

Mas eis que acontece com Georges um estranho encontro que acaba mudando seu destino de forma irreversível: em um bar ele se encontra com Forrestier, um antigo colega de regimento (agora jornalista, bem de vida e casado com uma mulher de nome Madeleine) que depois de alguns drinques,  o convida para jantar em sua casa.

Duroy se assusta: afinal, ele não tem roupas para tal ocasião, muito menos sabe como se portar nela. A insistência de seu ex-colega vence e no jantar ele conhece Madeleine Forrestier, uma mulher extremamente inteligente e astuta que não se deixa limitar ao papel social da mulher na época, guiando o destino e a vontade de seu marido (portanto o seu próprio) – inclusive o convencendo a arrumar um emprego para o belo Duroy.

Mesmo não tendo sequer concluído o ensino médio (curso que seus pais lutaram por pagar, mas que não foi concluído por indisciplina do filho) Georges vira então jornalista. No início lento e desajeitado, o rapaz acaba percebendo do que era capaz e consegue, através da sedução, dinheiro e cargos melhores, desvendando fofocas e segredos de estado, se tornando então o maior alpinista social que Paris já viu.

Fantástico, fantástico e fantástico. Não há um tema central em Bel Ami, apenas Duroy e sua caçada por mais e mais e mais dinheiro, status e fama. Apesar de ser o que poderíamos considerar um clássico, a linguagem não é complicada (embora seja rica) e as situações são tão presentes no cotidiano que é difícil não entender, ou até mesmo se identificar. Para aqueles que torcem o nariz para livros do gênero (mas sabem que não deviam) é uma ótima pedida.

Uma das coisas que mais gosto no Realismo é que esse movimento literário não separa as pessoas entre vilões e mocinhos; bonzinhos e monstros. Embora Duroy tenda na maior parte do tempo para a maldade e a ganância, nada que ele faz é calculadamente cruel - .Não há nada tão libertador quanto pensar que não há mal ou bem absoluto, do que ver a vida em tons de cinza e não em preto e branco. É calmante, sim, pensar que a boca do mesmo personagem (que poderia ser uma pessoa, e com certeza é representativo de várias delas) cospe e beija. Talvez tenhamos a necessidade da figura do herói, mas renunciar dela é tão real e às vezes, extremamente necessário.


06 agosto 2012

A bússola de ouro (livro)


Não acredito muito nisso de alma ou em qualquer coisa sobrenatural, mas gostei da possibilidade de A bússola de ouro: nesse livro as almas de todos são chamadas dimons, e assumem formas de animais – mutantes na infância, quando ainda não se sabe quem é, e fixas na vida adulta, quando teoricamente esta fase já passou.

Seria bem útil ter um dimon: me ajudaria, certamente, a saber mais sobre minha personalidade – e conseqüentemente, sobre minhas fraquezas. Lyra, como criança, ainda não tem esse privilégio, mas não liga muito: sua vida é relativamente plena e feliz na Faculdade Jordan, onde foi criada pelos catedráticos depois da morte de seus pais. Ela está lá graças ao tio Asriel, que trabalha na universidade, mas não o vê muito: a vida do inteligente homem é cheia de explorações, negociações e mistérios, pelos quais sua sobrinha alimenta grande curiosidade e anseio de participar.

Mas em Oxford e em todo lugar, crianças começam a desaparecer. Lyra, desconfiada, começa a “investigar”, sobretudo pela suspeita de que tais desaparecimentos tem algo a ver com uma estranha conversa que escutou escondida meses antes. Mas como uma boa criança que é, acaba não tendo foco o suficiente para prosseguir. Quando seu amigo e companheiro de todas as horas, Roger, desaparece, a coisa é bem diferente: fica inevitável para a garotinha de alma aventureira não se envolver.

Não torço o meu nariz para livros complexos, mas eles têm de ser muito bem executados – o que é o caso de A bússola de ouro. É um livro steampunk por excelência, misturando os costumes de várias épocas no passado com tecnologia estranhamente avançada – quando digo estranhamente digo algo atemporal, mecânico e que dificilmente ficará obsoleto.

 Contudo, se eu fosse escolher um gênero para classificar A bússola de ouro, escolheria fantasia: além dos dimons, feiticeiras e clãs de “ursos de armadura” são encarados com naturalidade, resultando em uma mistura bem inusitada de ciência e religião. Se você assistiu ao filme com Nicole Kidman, esqueça: nem 10% do livro é passado ali. Faltam explicações e magia, coisas nas quais o autor do livro investe pesado.

Como já devo ter falado aqui, creio que crianças espertas são protagonistas muito melhores e fáceis de se gostar do que adolescentes de qualquer espécie – pode soar estranho para uma leitora de YA, mas é verdade. Alguns autores, porém, relutam em colocar grandes defeitos em seus personagens com menos de doze anos (como se pequeninos fossem intocáveis e não pudessem ser extremamente desagradáveis) o que não acontece com A bússola de ouro: Lyra é sim inteligente, esperta e corajosa – mas também impulsiva, mandona e desprovida de imaginação. Essa última característica foi a única que o autor explicitou ao invés de insinuar através das ações: segundo ele, caso Lyra possuísse imaginação, ela não teria embarcado naquela aventura. Afinal, aqueles que a possuem logo vem com milhares e milhares de razões porque a tal empreitada poderia dar errado.

Isso nunca havia passado pela minha cabeça, mas é a mais pura verdade. Considero-me do grupo “com imaginação”, e mal penso em fazer algo e meu cérebro já vem, quase que involuntariamente, com centenas de contratempos possíveis. Quase sempre não é exatamente um defeito, já que não deixo de tentar por isso; mas talvez possa vir a ser um dia.

Os dez milhões de leitores da trilogia Fronteiras do Universo são (ao menos por A bússola de ouro) completamente justificáveis: eis um dos melhores livros de fantasia que já li.

03 agosto 2012

A mentira


É pouco comum que isso aconteça, mas estou gostando bastante das leituras da minhas aulas de literatura na escola. Nenhuma delas foge ao padrão “ensino médio = vestibularvestibularvestibularepuramente”, mas é difícil não me deixar fisgar pelas palavras de Álvares de Azevedo ou Machado de Assis, autores que eu dificilmente leria de outra maneira (provavelmente por preconceito – o mito de serem eles difíceis demais é bastante contagiante, mesmo para eu que não sou muito de “medos literários”).

Contudo, não tive nenhum tipo de identificação pessoal com nenhum deles: é difícil ver algo do enredo de Dom Casmurro ou d’O Cortiço no meu dia-a-dia (a menos que falemos dos impulsos demasiado humanos das personagens, mas isso é outra história). Já com Olive, protagonista de A mentira, o oposto acontece: todos os livros escolares que ela lê estranhamente têm algo a ver com o momento atual de sua vida. A obra em questão: o desafiador A letra escarlate, onde uma imigrante puritana nos Estados Unidos do século XVII sofre ostracismo por parte de sua comunidade ultra religiosa por ser “promiscua” – isso é, ter gerado um filho de um relacionamento extra conjugal.

Soa estranho que isso seja parecido com a vida de Olive, mas todos sabemos o quão possível é. Como o título indica, tudo começou graças a uma mentira: a de ter perdido a virgindade durante o fim de semana com um amigo do irmão – cujo falso encontro com havia sido sua desculpa para não acampar com os pais hippies da melhor amiga, a “vítima” de Olive.

Como um raio, os rumores da suposta promiscuidade de Olive se espalham pela escola – principalmente graças a Marianne, presidente do conselho de estudantes cristãos e caricatura da religiosa que tenta enfiar sua crença goela abaixo (dos outros). Isso não é o suficiente para desestabilizar Olive, mas é para que seu amigo Brandon (perseguido bem no estilo bullying de filme americano por ser gay) lhe peça um favor bastante incomum: fingir ter transado com ele, de forma que seus perseguidores amenizem sua violência depois do “exemplo de heterossexualidade”.

Logo uma fila de meninos “rejeitados” se forma a frente de Olive: todos querem, de alguma forma, afirmar sua masculinidade (de mentirinha) perante os colegas assim como Brandon – ganhando assim uma vida mais fácil na selva que é uma high school americana. O nível de maldade das fofocas só aumenta, o que faz com que Olive use um contra-ataque bastante incomum: um A escarlate no peito, o símbolo da promiscuidade entre os imigrantes d’A letra escarlate, que pulsa a mensagem de “não ligo para o que vocês pensam”.

Não esperava nada além de um filme leve quando comecei a assistir; não me arrependi e ganhei um adicional: A mentira é também inteligente, rindo dos papéis sociais que são atribuídos a meninos e meninas na adolescência ao invés de somente reafirmá-los. Olive é engraçada, solidária, ousada e inteligente – embora complique bastante sua própria situação as vezes – um estilo de protagonista perfeito para esse tipo de filme: aquela que gostaríamos de ter como amiga. Emma Stone, ainda no início da carreira, está impecável: é como se a personagem tivesse sido feita por encomenda.

Ao contrário dos livros para adolescentes, os filmes voltados a esse público vem cada vez mais me desagradando por sua falta de mensagem e, principalmente,personagens caricaturais, que não desafiam os velhos papéis (principalmente de gênero), somente os reafirmam. A mentira não é nenhuma dessas duas coisas, o que o faz um dos melhores teen movies - e comédia, aliás, gênero que raramente me agrada – que já assisti.








OBS.: Realmente mudei o sistema de dar notas: de 0 a 5 era curto demais. O fato é que tem filmes/livros que adoro o suficiente para dar 5, e outros que amo tanto que gostaria de dar 1000 haha.