Mas mesmo estando longe de ser uma fã do programa, me irrito
profundamente com as campanhas anti-BBB que são feitas online antes e durante a
sua exibição – além dos incontáveis “graças a deus” e “ufa!” quando o programa
acaba. Alegam que o Big Brother não traz cultura ou conhecimento para seus
espectadores. Mas quem na terra assiste BBB para ficar mais “culto”? Qual seria
o problema de entretenimento só por entretenimento?
Essa defesa do BBB acaba funcionando bastante ao meu favor –
não pelo reality show da Globo em si, mas sim por outras duzentas coisas que
adoro mas que, de fato, não acrescentam em nada no meu “repertório” ou me fazem
refletir. Apesar de inconscientemente endossá-la às vezes, odeio essa
perspectiva de que tudo na vida tem que ter uma utilidade prática – até mesmo
as coisas feitas nos seus momentos de diversão e relaxamento.
Nesta lista de “entretenimento por entretenimento” estão os
filmes do multiverso Marvel. Comecei a assisti-los por pura falta de opção – na
cidade onde moro, só há um cinema, que tem o dom de quase nunca passar filmes
que não sejam de criança/de ação/de comédia – e depois, por ter de fato tomado
gosto pelas cenas de ação bem-feitas e produção impecável. Alguns deles têm
também o poder de surpreender: adorei as referências históricas nos recentes
Capitão América e X-Men: Primeira Classe – este último tão legal que é um dos
poucos filmes que me fizeram pagar um indecentemente caro ingresso de cinema
mais de uma vez.
Os Vingadores está sendo bastante elogiado no Tumblr, e,
apesar de preferir os supracitados, compartilho em parte da empolgação. O
enredo em si é bastante trivial para o universo das HQs: o semi-deus rejeitado
Loki planeja a dominação da terra. Para isto, ele necessita do Tesseract, uma
fonte inesgotável de energia encontrada pelas Indústrias Stark e estudada pela
agência de espionagem SHIELD, com as pesquisas comandadas pelo Dr. Erik Selvig.
Depois de capturar o Tesseract, Loki hipnotiza (afinal, ele
é um semi-deus bem fraquinho, mas ainda é um semi-deus) o Dr.Selvig e o agente
Clint, para que ambos o ajudem no seu propósito de abrir uma fenda no espaço
com o mesmo. Fenda esta por onde passariam soldados alienígenas Chitauri que,
em troca do Tesseract, fariam com que os terráqueos se prostrassem aos pés de
Loki.
Diante da ameaça, Nick, diretor da SHIELD, reinicia a iniciativa
Vingadores – um time de super heróis usado para defender os Estados Unidos a
Terra. Os Vingadores não são exatamente tão heróicos assim: o seu líder, o
Capitão América, acaba de acordar de um “sono” de 50 anos e não está habituado
ao mundo moderno; o playboy Tony Stark, o Homem de Ferro, tem problemas com
modéstia e trabalhar em equipe; o Dr. Bruce, que ao menor sinal de raiva, pode se
transformar em Hulk, matando a todos; a assassina profissional da SHIELD
Natasha (ou Viúva Negra) vive entre crises de consciência por seu trabalho e Thor,
por ser irmão de Loki, não tem certeza se deve ou não se juntar aos Vingadores.
Talvez o principal problema do filme – que não o tornou tão
bom quanto outros da Marvel que assisti – sejam os personagens. Fora Tony Stark
– que brilha por sua imodéstia charmosa e ironia sem limites – todos os outros são muito pouco explorados no tocante as suas personalidades. Desde
o início do filme, os seus problemas pessoais e a falta de química entre os Vingadores são
bastante enfatizados, e é uma pena tal desperdício.
De resto, o filme faz magnificamente bem o que se propõe. As
cenas de ação são impecáveis, e ocorrem com uma freqüência que torna impossível
o tédio. O que alguns milhões de dólares não podem fazer?
Embora de fato não sucite muitas reflexões a primeira vista, Os Vingadores (e outros filmes do gênero) não é exatamente vazio. A defesa as posições americanas
perante o resto do mundo é bastante sutil – bem mais sutis
do que o ultra-patriotismo em Capitão América, por exemplo – mas estão lá.
Através de uma metáfora – onde os inimigos não são seres humanos de países ou etnias
diferentes, e sim alienígenas feinhos e poderosos – o indefensável é defendido
e justificado. Não sei o quanto essa "mini lavagem cerebral subconsciente" ajudou na construção do império que os EUA são hoje, mas chuto que bastante. O que seria da Terra do Tio Sam sem sua indústria de
entretenimento?
Nota: 4/5