22 junho 2013

Talento e Eragon



Eu não acredito em talento. Creio que não existe uma disposição ou genialidade naturais, só um conjunto de condições favoráveis (que em geral não é tão específico assim e freqüentemente dispensável) e muito, mas muito suor.

Pouco tempo total de prática é o defeito apontado por John Scalzi em seu post “Porque a escrita adolescente é ruim”. Sou uma aspirante a escritora e a condição de adolescente me pertence por ainda alguns meses (as espinhas, contudo, ainda parecem ter uma curiosa resistência a tal separação) mas mesmo que concordar com Scalzi seja chamar minha príopria escrita de porcaria, tenho de admitir que ele tem razão.

Mas ah! Como eu queria ser Christopher Paolini!

Aos quinze anos, ele iniciou a escrita de Eragon, primeiro livro de uma quadrologia mundialmente aclamada. E que sim, mostra a imaturidade de seu autor, mas de forma leve e superficial. 

[Só para não me contradizer, haviam as tais condições a favor de Paolini: como muitos americanos, ele estudou em casa ao invés de na escola, podendo assim focar o seu estudo em áreas que gostava (como a escrita) e se formar anos antes do comum, se dedicando então inteiramente a Eragon.]

Um velho conto: um menino comum do campo encontra o fantástico. No caso de Eragon, o fantástico é um belo ovo de dragão.

Pois é, os ovos de dragão são a ruína e o triunfo de Alagaesia, a terra de Eragon. Foram eles que trouxeram paz e prosperidade ao reino anos atrás, graças aos admirados Cavaleiros de Dragão. Mas também foi graças ao cavaleiro traidor, Galbatorix (só eu acho que isso parece nome de desenho animado?), que agora Alagaesia está sob seu ditatorial poder, com uma quase extinção dos dragões.

Quase.

O ovo eclode, revelando Saphira, um dragão fêmea. Os perigos de tão peculiar e poderosa criatura logo ficam evidentes - há a leve ameaça de Galbatorix, que tem sua glória construída em cima do controle dos ovos de dragão. O fator “perigo mortal” acaba se concretizando quando ocorre um ataque que mata o tio de Eragon, sua única família além de seu primo que está longe a trabalho.

Eragon sai então com Brom, o contador de histórias local (único nas redondezas que sabe algo de fato sobre os dragões) e Saphira, em busca dos assassinos de seu tio. Soa como blábláblá básico de Fantasia, mas na verdade é bem legal.

Temi, durante um tempo, de estar diante de uma Premise Novel – isto é, aquele tipo de livro cuja busca principal parece colocar em jogo coisas grandes (tipo a vida do protagonista ou de um ente querido deste) mas não traz, na verdade, nenhum crescimento para o protagonista ou mensagem para o leitor.

Não, não estou falando de ficção literária intrincada em que Ana embarca em uma jornada de auto conhecimento graças a um cego mascando chiclete, e sim de qualquer livro decente de literatura de entretenimento – Harry Potter, por exemplo, representa a coragem, a falta de medo do desconhecido e outras tantas coisas ao longo de seus sete livros. Eragon, felizmente, me mostrou lá pela metade que não é somente um monte de palavras digitadas sem entrelinhas – como diriam por aí, o rapaz cresce e aparece.

A mitologia da história não é tão inovadora (sobretudo para aquele acostumados com literatura fantástica) envolvendo elfos, anões e outras criaturas do “folclore” das terras mais geladas. O autor diz em seus agradecimentos que o livro passou por centenas de revisões – a maior parte delas feitas por sua editora, que “melhorou” o trabalho de um garoto de quinze anos. Na maior parte do tempo, é de fato imperceptível, mas algumas construções frasais ficaram extremamente imaturas.  Há também o hábito de contar, não mostrar – também conhecido como dar tudo “mastigadinho”, explicitando ao leitor o crescimento de Eragon. Esmagando com palavras as entrelinhas.


Acaba que nosso protagonista é, irritantemente, um Cavaleiro do Dragão nato, aprendendo rapidamente tudo que compete a profissão e desdizendo tudo que expressei acima. Ah, o talento!

7 comentários:

  1. Oi!
    Parabéns pela resenha! :)
    Confesso que por mais que eu ouvisse muita gente comentando sobre esse livro e os demais da quadrilogia, eu não nutria muitos interesses sobre tal. Mas depois de sua resenha - UAU! - fiquei bastante interessada nele!

    Abraços.
    Entre Livros e Livros.
    http://musicaselivros.blogspot.com.br/
    Obs: Não esqueça de comentar e concorrer a um livro! (http://musicaselivros.blogspot.com.br/2013/06/resenha-dupla-esperando-por-voce-susani.html)

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  2. Voce escreve muito bem! Tô retribuindo a visita, e fiquei encantada com o seu cantinho!

    Sou fã dos dragões, e procuro ler tudo que encontro sobre eles. Li todos os quatro do Ciclo da Herança, uma das minhas sagas favoritas!

    Beijokas
    escolhasliterarias.blogspot.com.br

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  3. Christopher Paolini também teve sorte, convenhamos. Claro que não tiro o mérito dele de maneira alguma, já que eu, aos quinze, muito provavelmente estava escrevendo fanfictions dos Marotos e não uma história original. E apesar de gostar da história do Eragorn (só me falta ler o último livro) sempre fiquei com uma sensação estranha enquanto lia os livros. Talvez por isso mesmo que você frisou, das construções de algumas frases e até mesmo a facilidade com que Eragorn domina o novo. E outra que eu não conseguia torcer pelo protagonista, estava mais interessada no que aconteceria ao Murtagh!

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  4. Adoreia resenha! Não li Eragon ainda, mas já ouvi falar muito bem dos livros, mesmo Paolini sendo muito novo. Também acho que as coisas que escrevo não são tão boas. Acho ainda que falta muita experiência, muitos livros a serem lidos, muita coisa a aprender. Mas adoraria escrever um livro decente logo.

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  5. Oie Isabel =)

    Eu acredito mais em sorte do que em talento, afinal conheço pessoas bastante "talentosas" que nunca conseguiram muito destaque por falta de sorte rs...

    Ainda não li Eragon, mas ele esta na minha meta de leitura desse ano. Já assisti inumeras vezes ao filme por que gosto bastante, mesmo achando o protagonista um porre rs...

    Ótima resenha!

    Beijos e um ótima semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  6. Isabel, eu ainda tenho que ler Eragon e os os outros livros da série, fazem um bom tempo que estão parados aqui, mas existem tantas opções no campo fantasia que eu acabo sempre a deixando pra depois. Eu acredito que a experiência de escrita seja mais importante que os anos de vidado autor, acho que eles amadurecem seus textos com o tempo, e não necessariamente com o que ele viveu - principalmente em se tratando de textos de fantasia.

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  7. Tenho vontade de ler Eragon, todo mundo fala dos livros! Admiro o autor ter começado a escrever essa saga tão jovem. também sou aspirante a escritora, já escrevi livros e agora estou escrevendo uma saga.
    bjs

    TRASH ROCK

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