Mais uma pra série coisas que me irritam na humanidade (mas
que provavelmente faço também): complexo de superioridade. Embora possivelmente
isso seja um problema mais freqüente na classe média brasileira do que na
humanidade em si. [E aqui recorro a outra coisa que me irrita: dizer que alguma
coisa é problema do Brasil. Bom, não somos perfeitos, e as fascinantes terras
tupiniquins e a internet sem lei tem sido meu universo até agora, então não
poderia falar com o mínimo de propriedade de qualquer outro povo.]
Dá nos nervos essa prepotência de que você sabe o que é
certo, que seu voto é o correto, você é fã de verdade do livro X e
interpretou-o corretamente. É o resto que é culpado pela eleição de políticos
ruins, é o resto que não sabe o que está dizendo sobre o livro X e por aí vai.
Irritante, irritante, irritante. A culpa é sempre dos outros.
Freqüentemente essa culpabilização dos outros é acompanhada
por um leve elitismo (sobretudo quando se fala de política) como se a população
menos favorecida financeiramente fosse um tumor para o país e nós, a educada e
superior classe média, sustentássemos o Brasilzão nas costas. Que falácia.
Mesmo se tratando de um filme americano, isso me causou um certo desconforto no
início de Idiocracia, aonde, com um
tom de sátira, é narrada uma pequena história sobre a evolução humana no século
XXI.
Segundo o filme, a natureza, essa madrasta má, só se importa
com uma coisa: que geremos proles. Também segundo o filme, há uma enorme
tendência de que as pessoas mais “burras” (outro conceito que me incomoda e faz
com que apareçam vários fiozinhos brancos no meu cabelo) tenham mais filhos. A
equação é bem simples e segundo a tal “seleção natural”, os mais burros
sobreviveriam.
É. Que premissa podre. Confesso que fiquei com vontade de
parar de assistir nesse exato momento, mas resolvi dar uma chance na forma de
vinte minutos de filme. E não é que melhora bastante?
Joe é um soldado do exército americano que é a perfeita
representação da média, aqueles que não são bons ou ruins em nada. É exatamente
por isso que ele é escolhido para testar um programa secreto do governo que
pretende “congelar” os melhores soldados até que estes sejam necessários. Joe
não está entre eles, é claro, e é um mero ratinho de laboratório junto com
Rita, uma mulher do “setor privado”.
Mas algo dá errado no projeto e ao invés de serem “descongelados”
após um ano, Joe e Rita só são acordados (por acidente) após quinhentos,
encontrando um mundo completamente desolado. Não, não estou falando de uma
distopia dominada por corporações ou com governo ditatorial, e sim de um mundo
de “idiotas”, onde todos substituem água por Gatorade e só se preocupam com
programas besteiróis.
Um aviso: Idiocracia
é muito, muito idiota. Desde o enredo (um padrão de filmes Sessão da tarde onde
o herói deve salvar o mundo para salvar sua própria pele) até as resoluções não
há nada minimamente sagaz.
E é essa a graça: o filme brinca de forma maravilhosa com a
indústria atual do entretenimento, a moda e a invasão da propaganda em cada
cantinho de nossas vidas, incluindo nossas casas e roupas. Talvez você em um dia
de tédio, passeando pela televisão aberta, tenha visto algo que parece um
recorte do filme Idiocracia, de tão
pouco complexo que é. Assim como o Brasil e a Internet são meu universo,
provavelmente os Estados Unidos é o universo do roteiristas do filme, então
muitas das coisas que ele critica, felizmente, não chegaram até aqui. Nem
todas, porém – os diagnósticos médicos, por exemplo, são feitos por máquinas
com botões coloridos para indicar sintomas, a agricultura sofre um forte lobby
das grandes corporações, a alimentação é composta basicamente por porcarias
industrializadas e por aí vai.
Como em qualquer
coisa distópica, não faltou meu choque de estarmos tão perto de uma
“idiocracia” assim...
parece ser um filme bem bizarramente engaçado, quem sabe eu assista um dia Seguindo o coelhobranco
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