08 agosto 2013

Filminho de quinta: Idiocracia



Mais uma pra série coisas que me irritam na humanidade (mas que provavelmente faço também): complexo de superioridade. Embora possivelmente isso seja um problema mais freqüente na classe média brasileira do que na humanidade em si. [E aqui recorro a outra coisa que me irrita: dizer que alguma coisa é problema do Brasil. Bom, não somos perfeitos, e as fascinantes terras tupiniquins e a internet sem lei tem sido meu universo até agora, então não poderia falar com o mínimo de propriedade de qualquer outro povo.]

Dá nos nervos essa prepotência de que você sabe o que é certo, que seu voto é o correto, você é fã de verdade do livro X e interpretou-o corretamente. É o resto que é culpado pela eleição de políticos ruins, é o resto que não sabe o que está dizendo sobre o livro X e por aí vai. Irritante, irritante, irritante. A culpa é sempre dos outros.

Freqüentemente essa culpabilização dos outros é acompanhada por um leve elitismo (sobretudo quando se fala de política) como se a população menos favorecida financeiramente fosse um tumor para o país e nós, a educada e superior classe média, sustentássemos o Brasilzão nas costas. Que falácia. Mesmo se tratando de um filme americano, isso me causou um certo desconforto no início de Idiocracia, aonde, com um tom de sátira, é narrada uma pequena história sobre a evolução humana no século XXI.


Segundo o filme, a natureza, essa madrasta má, só se importa com uma coisa: que geremos proles. Também segundo o filme, há uma enorme tendência de que as pessoas mais “burras” (outro conceito que me incomoda e faz com que apareçam vários fiozinhos brancos no meu cabelo) tenham mais filhos. A equação é bem simples e segundo a tal “seleção natural”, os mais burros sobreviveriam.



É. Que premissa podre. Confesso que fiquei com vontade de parar de assistir nesse exato momento, mas resolvi dar uma chance na forma de vinte minutos de filme. E não é que melhora bastante?

Joe é um soldado do exército americano que é a perfeita representação da média, aqueles que não são bons ou ruins em nada. É exatamente por isso que ele é escolhido para testar um programa secreto do governo que pretende “congelar” os melhores soldados até que estes sejam necessários. Joe não está entre eles, é claro, e é um mero ratinho de laboratório junto com Rita, uma mulher do “setor privado”.



Mas algo dá errado no projeto e ao invés de serem “descongelados” após um ano, Joe e Rita só são acordados (por acidente) após quinhentos, encontrando um mundo completamente desolado. Não, não estou falando de uma distopia dominada por corporações ou com governo ditatorial, e sim de um mundo de “idiotas”, onde todos substituem água por Gatorade e só se preocupam com programas besteiróis.

Um aviso: Idiocracia é muito, muito idiota. Desde o enredo (um padrão de filmes Sessão da tarde onde o herói deve salvar o mundo para salvar sua própria pele) até as resoluções não há nada minimamente sagaz.



E é essa a graça: o filme brinca de forma maravilhosa com a indústria atual do entretenimento, a moda e a invasão da propaganda em cada cantinho de nossas vidas, incluindo nossas casas e roupas. Talvez você em um dia de tédio, passeando pela televisão aberta, tenha visto algo que parece um recorte do filme Idiocracia, de tão pouco complexo que é. Assim como o Brasil e a Internet são meu universo, provavelmente os Estados Unidos é o universo do roteiristas do filme, então muitas das coisas que ele critica, felizmente, não chegaram até aqui. Nem todas, porém – os diagnósticos médicos, por exemplo, são feitos por máquinas com botões coloridos para indicar sintomas, a agricultura sofre um forte lobby das grandes corporações, a alimentação é composta basicamente por porcarias industrializadas e por aí vai.

Como em qualquer coisa distópica, não faltou meu choque de estarmos tão perto de uma “idiocracia” assim...

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