17 dezembro 2013

5 coisas sobre a República Tcheca - 116° dia edition


Como falei no meu post de volta (e em quase todos os posteriores – intercambista tem vício de falar disso mesmo, juro que não é “querer se mostrar”, como dito em bom baianês) estou fazendo um intercâmbio de dez meses na República Tcheca, morando em casa de família e estudando em uma escola de ensino médio. O clichê é imenso, mas de fato intercâmbio é uma vida em um ano, não um ano em sua vida – construir toda uma nova rede de relacionamentos e aprender hábitos culturais feito um bebê fazem tudo parecer maior e mais fascinante.

Portanto, não dá (nem de longe) para resumir tudo que eu vivi aqui, e isso fugiria um pouco do objetivo. Porém, quero colocar aqui um pouquinho desse país centro-europeu lindo, compartilhando minhas dez impressões (que, não preciso falar, são bem pessoais e não necessariamente refletem a realidade) nesses três meses e meio de aventura. Não perderei meu tempo (como muitos intercambistas cheios de espírito de vira lata, deslumbrados pelos eletrônicos baratos e ruas limpas) em comparar a qualidade de vida com o Brasil, sendo óbvio que dois países com trajetórias bastante distintas teriam isso também distinto. Vamos lá então:

1. Praga é a cidade mais linda do mundo.

Certo, talvez haja um pouco de exagero aqui – não conheço muitas cidades. Na verdade, fui a uns cinco estados brasileiros, e esse intercâmbio é a minha primeira incursão ao exterior. Mas como superar os prédios antigos e preservados, as ruas estreitas feitas na época que se usavam carroças e os bondes ronronantes, passando lentos, como se não levassem pessoas para lá e para cá na maior cidade da República Tcheca? Não, minhas futuras andanças pelo mundo podem dizer diferente, mas por enquanto, Praga é insuperável.

2. Eles odeiam os comunistas – tipo, do fundo do coração.
Politicamente, não definiria muito os tchecos como “coxinhas” - fora um preconceito bastante forte contra os ciganos (em que eles não são os únicos, infelizmente) eles são respeitadores das liberdades individuais alheias e geralmente a favor de políticas que boa parte dos brasileiros de classe média definiriam como “paternalistas”, mas que na real vem funcionando muito bem para manter o bem estar social em alguns países desse lado do Atlântico. Quando se fala de comunismo, porém, os tchecos (que, ainda sob o nome de Tchecoslováquia, o tiveram como regime) torcem o nariz e bravejam desejos de morte, mantendo-se tão longe de qualquer coisa vermelha como se possa estar.

3. A escola? Bom, é escola...
Na aula de inglês (uma das poucas que consigo compreender) tivemos longas discussões sobre isso; e é quase unânime entre meus colegas que a República Tcheca está um pouco atrás de outros países da União Europeia em termos educacionais. O modelo usado é parecido com o geralmente adotado no Brasil : o professor fala. Os alunos decoram. Exceto pela universalidade do ensino (mesmo em lugares mais remotos, as escolas públicas são tão boas quanto as particulares) e idiomas (todos na minha escola tem um inglês muito bom, e dependendo da outra língua estrangeira escolhida, o nível da mesma também beira a fluência) não há muito de diferente no currículo tcheco do velho decoreba brasileiro para o vestibular (aqui há algo semelhante, o Maturita). Levemente decepcionante...

4. Ver livros baratos – e não poder comprá-los.
Pois é – aqui as bibliotecas são lindas e completas, tendo coleções de Young Adult e vários outros gêneros em qualquer bairro de tamanho médio. Se você quiser fazer aquisições também não é tão mal: embora não seja nada como Submarino em Black Friday, as edições geralmente são capas-duras bem bonitas e bem feitas, com preços bastante decentes (geralmente girando em torno de 200 a 250 coroas, ou 20 a 25 reais). O probleminha? Exceto por umas duas livrarias no centro de Praga, com coleções em língua estrangeira mais completas, os livros estão todos em tcheco...

5. Ah, a língua tcheca!

Quando você diz que vai fazer intercâmbio para um país cuja língua você desconhece as reações geralmente se dividem em três:
a) Ah, mas eles sabem inglês, né?
b) Menina! Como você vai fazer isso?
c) Mas em imersão se aprende tão rápido...
Em termos de República Tcheca (julgado pela falante de uma língua de um grupo linguístico completamente diferente do tcheco) infelizmente só as duas primeiras são verdadeiras. Sim, eu não tinha a mínima ideia de o tanto de culhões que estava tendo ao vir para a República Tcheca- meus sentimentos pela língua nativa desse povo vão da apatia (“nunca vou aprender mesmo...”) a raiva “essa porra é impossível!”). Com uma gramática bastante complicada (são nove declinações, ou seja, mudanças no final de palavras de acordo com o papel que as mesmas representam nas frases) e fonética semi-impossível (o ř , por exemplo, é um fonema exclusivo do tcheco, que estrangeiros demoram anos para dominar – se chegarem a tanto) me encontro no nível “dois anos de idade”. E sim, eles – em sua maioria – sabem inglês, mas é como disse o saudoso Nelson Mandela: Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração.

9 comentários:

  1. Eu sou louca, louca, louca pra fazer intercâmbio, mas devo dizer que você teve muita coragem. Eu queria fazer pra Itália, mas como o italiano não é muito influente, acho melhor um país de língua inglesa, mesmo ainda querendo morar na Itália por um tempo. Traga mais novidades!

    Clara
    @mmundodetinta
    maravilhosomundodetinta.blogspot.com.br

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  2. Um post Maravilhoso Isabel, não sabia do seu intercâmbio e olha acho que nunca faria, só se fosse para Londres, Nova Zelândia e USA..
    Adorei suas imagens!!

    beijos Mila
    http://www.dailyofbooks.blogspot.com.br/2013/12/no-meu-leitor-virtual.html

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  3. Você precisa fazer vários desses posts de intercâmbio, Isabel! É muito fascinante! Minha parte favorita é a linguística. Não fazia a menor ideia de que o tcheco tinha declinações, é pior ainda de aprender (diz a pessoa que estava super "omg agora vou aprender latim!!!" quando decidiu mudar pra Letras e daí descobriu que pode ser um inferno). Mas, ei, força! Você está aprendendo um idioma que pouca gente sabe, o quão legal é isso?

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  4. HAHAHA gostei :) Viva as aventuras ai e traga ainda mais novidades!! :D Fala do Natal e o ano novo ai em Praga, pq eu tô curiosa pra saber como eles celebram isso em outro país (se é como aqui, se é diferente, as semelhanças, etc, etc)

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  5. Isabel, cada vez que leio seus posts fico admirada com sua coragem e experiência de vida. Muito sucesso aí em Praga!!!

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  6. Adorei o post, Isa! Continue falando sobre seu intercâmbio e mais sobre a República Tcheca! Você já conheceu o interior ou alguma outra cidade? Quais matérias tem na escola? Que horas as aulas começam? É obrigado a fazer todas as matérias ou os alunos podem escolher o que cursar? Obg desde já e estou esperando ansiosamente por mais um post sobre esse incrível intercâmbio :D

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  7. Bel, acho que a escrita sempre é resultado da travessia, logo é muito boa a narrativa das andanças de uma sertaneja pelos caminhos do mundo, fale mais, de cá, do sertão da Feira, vai ser bom ouvir sua voz...

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  8. Isabel,
    Muito maneiras suas impressões. E, como se tratam de "impressões", não tenha medo de nos apresentá-las; por mais verdades que sejam para uns e falsidades para outros, elas são modos de ver o mundo "do outro", que para ser seu - por via das interpretações e do olhar - chocam, doem, mas nos fazem aprender, apreender, crescer e nos marca profundamente para uma vida "em um ano" (como disse) ou para sempre. Vc foi morar num país, cujas cidades são lindas... da menor, da mais simples, às mais exuberantes como Londres, Roma, Madrid e Paris (onde vivi), a gente aprende muito... não importa se assim ou "assado"... são mundos que precisam entrar em nossa cabeça no tempo em que nelas estivermos, seja uma tarde, seja 10 meses ou uma eternidade.
    Quer um conselho: não tenha o menor preconceito (o que não significa aceitar tudo ou deixar de recusar para não causar má impressão ou ser mal educada). Não é isso. Digo não ter preconceito para que todo o aprendizado te chegue de forma natural. Digo isso também porque vi colegas brasileiros em Paris aprender pouco da cultura, da política, da história, das artes, da moda, da economia, dos transportes, dos modos distintos de vida simplesmente porque "achava a língua uuuóóóó´e os franceses chaaaaaatos. Daí essas pessoas só tinham duas alternativas: andar com brasileiros ou falar em inglês com aqueles que tinham boa vontade ou pensava do mesmo modo para com elas falarem em inglês. Ora, a língua francesa não é fácil como também não o é o português para eles, mas nos é mais próxima do que o inglês por diversas razões. Suas impressões são coerentes com as minhas quando estive na Holanda, uma vez que o holandês/ néerlandais e as línguas e dialetos de famílias germânicas me eram muito inapreensíveis. Um vez um francês me tratou mal na fila de um banco... ele estava apressado, era fim de expediente e, certamente queria se livrar de mim e dos demais. Então, como estava impaciente com “estrangeiros” começou a me gritar em inglês... lhe respondi na língua dele “o sr. está bravo? Alimentou-se bem hoje? Beijou seus filhos antes de sair?” Disse que em meu país as pessoas não atacam os clientes por conta de problemas familiares... ele ficou tão envergonhado que me procurou 3 dias depois para me pedir desculpas. Hoje tenho-o como amigo e sempre nos falamos. É assim, o intercâmbio serve-nos para nos reconstruir a mil por hora, e através das línguas nós também reconstruímos os outros...
    Enfim, espero que aprenda muito, inclusive a língua nativa com todas as declinações. Você vai muito se orgulhar de você mesma quando se fizer compreender e mais ainda quando estiver no Brasil e poder ajudar/falar/pedir/discutir/pensar com um tcheco... impossível? Não é. Parabéns!
    Desculpas pela intromissão e pelo depoimento além da conta! Escreva mais...
    Nilson (ex-aluno de nossa querida Norma)

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