21 dezembro 2013

O oceano no fim do caminho



Por meio desta, eu confesso:
tenho um probleminha com Neil Gaiman.

Antes que venham as pedras, afirmo, por favor, de que não estou tecendo críticas à este maravilhoso autor – toda a confusão encontrada na hora das minhas leituras foram graças a minha falta de capacidade de interpretação. Sim, ela existe, mas não para essas leituras em específico; nós dois aparentemente não estamos na mesma sintonia.

Mas é claro que eu me sentia perdendo um bocado em ter que excluir da minha lista um dos maiores escritores pós-modernos (que, por ser do meu tempo, devia apresentar-se mais fácil) e foi um alívio quando O oceano no fim do caminho propôs uma reconciliação.
A história é narrada por um homem lá na sua meia-idade, mas não é ele que é a estrela, e sim sua versão de oito anos de idade – um rapazinho imaginativo e solitário, que depois de uma festa de aniversário fracassada para a qual ninguém apareceu, faz uma nova amiga.

Todas as resenhas e análises (pois este é um livro que as rende em profusão) que li ou assisti de O oceano no fim do caminho especulam sobre o tal rapazinho ser alter ego do próprio Neil. Pois bem, a possibilidade não é ridícula: todos aqueles que trabalham com literatura (ou somente tem a intenção de fazê-lo) sabem que as infâncias destes tais seres místicos chamados escritores não são comuns como poderiam ser. Viver em Nárnia, Hogwarts ou qualquer outra terra mágica por boa parte do dia (afinal, as horas são longas e abundantes quando se é criança) moldam uma espécie de estranheza, uma dificuldade de por os pés nos chão e conseguir viver de maneira outra que não inventando coisas.

Como um menino imaginativo, o nosso protagonista não tem lá muito crédito com sua família, fato que se torna essencial depois do suicídio do minerador de Opala. O tal minerador era um sublocatário do quartinho de cima, anteriormente pertencente ao nosso personagem e cujo dinheiro era essencial nos tempos passados pela família.

Depois de perder uma enorme quantidade de dinheiro em uma aposta (situação essa que, apesar de não tão trabalhada, gera milhares de reflexões) o minerador se suicida no carro da família, e não querendo que seu filho fique exposto tão diretamente à morte, ele concorda que ele vá brincar com Leslie Hempstock, uma garota de uma fazenda próxima.

As mulheres da fazenda Hempstock, porém, não são mulheres comuns, fato que vem a ser extremamente útil na chegada de Úrsula, nova moradora do quartinho e babá para as crianças que prova a ser em pouco tempo cada vez menos humana – em todos os sentidos.

Ao ler O oceano no fim do caminho me senti como uma criança novamente – mas não por sentimentos gerais ou situações passadas no livro, mas sim pela impressão forte que a obra causou. Tudo ao meu redor não se parecia exatamente como a realidade, embora esta fosse a mesma de todos os dias. Como é bom – e raro, mesmo nesses dias em que a vida adulta ainda não chegou – mergulhar em um livro de uma forma tão intensa!


Não vi coesão interna no “mundo de fantasia” do livro, somente criaturas mágicas que eram, como em qualquer bom livro, metáforas. Finalmente, Neil Gaiman, eu consegui. Já passava da hora.

1 comentários:

  1. Nunca li Neil Gaiman e, apesar de já ter ouvido falar muito bem do autor, demorei pra ter curiosidade a respeito. Eu assisti Stardust e lembro de não ter gostado nada, mas não dá pra julgar o autor a partir de uma adaptação que não foi ele quem fez, né? Meu contato mais ~direto~ com o autor, digamos assim, foram os episódios que ele escreveu para Doctor Who, que foram muito bons, e dá pra dizer que isso aumentou um pouco meu interesse.

    Mas esse livro especificamente chamou muito minha atenção porque esse título é interessante, essa capa é estranha e atrativa - e se eu já tinha sido comprada só por isso, resenhas como a sua ajudam bastante, então devo ler em breve. Que bom que vocês conseguiram se entender com esse livro, espero que aconteça isso comigo também (caso não aconteça, nós sempre teremos Doctor Who. Mas ainda assim, espero que dê certo hahaha).

    ResponderExcluir