02 fevereiro 2015

Pride (filme)


A falta de união entre os movimentos sociais é uma coisa que ao mesmo tempo que me parece culpa de ninguém, me parece culpa de todo mundo. Mesmo que o discurso seja de igualdade (e é) nunca é fácil confraternizar com o “inimigo”, com o opressor, com aquela pessoa que agora precisa de ajuda, mas em outra ocasião facilmente te desprezaria.

É nessas questões que Mark, um dos protagonistas de Pride, esbarra. O ano é 1984, e a Inglaterra sofre com um período extremamente conturbado: os mineiros ingleses sofrem nas mãos de Margaret Tatcher, a dama de ferro, que recusa-se a ceder um milímetro que seja nas revindicações desses trabalhores. A escolha, em muitas pequenas cidades dependentes da mineração, parece bem simples – ou furar a greve ou morrer de fome.

Mark, gay e ativista em Londres, percebe que a polícia não está mais invadindo seus clubes ou perseguindo homossexuais por uma só razão: eles estão ocupados demais com os grevistas. Junto com seus amigos e o recém-chegado e no armário Joe, ele começa um pequeno grupo de apoio aos mineiros, o LGSM, arrecadando, só na parada gay de Londres, duzentas libras – bastante dinheiro na época.

Mas as coisas não eram tão fáceis assim: muitos provindos de cidadezinhas de mineração, os amigos gays e lésbicas de Mark se recusam a participar do grupo, lembrando de todas as agressões físicas e verbais que sofriam. Do outro lado também não há muita tolerância: ao procurar uma entidade ou sindicato para o qual destinar suas doações, o LGSM sempre é ignorado. Segundo alguns críticos britânicos, os mineiros eram, fora Tatcher e seus cupinchas, provavelmente o grupo mais homofóbico da sociedade inglesa da época.

Quase que por acidente, a pequena cidade galesa de Dulais aceita o apoio do LGSM. A comemoração dos membros do grupo não dura muito, porém: como era de se esperar, ao visitar a cidadezinha, eles encontram uma resistência gigantesca.

Por ter sido baseado em uma história real, Pride conseguiu uma proeza dos nossos tempos: não açucarar demais as coisas. Embora o apoio do líder grevista local, de um senhor da comunidade e de uma das voluntárias do comitê de greve imponha algum respeito, é de cortar o coração as agressões verbais que o LGSM sofre quando chega em Dulais pela primeira vez. Aos poucos, porém, eles vão conseguindo conquistar a maior parte da vila, mostrando que a maior parte das visões sobre os gays são equivocadas (e ainda compartilhadas por alguns trinta anos depois).

Sendo só um filme sobre a greve dos mineiros, Pride seria lindo. Sendo só um filme sobre o movimento gay na Inglaterra dos anos 80 (no qual se descobriu a AIDS), Pride também seria lindo. Mas de alguma forma, ao propor a união entre os dois, o filme atinge outro nível de beleza. Com pitadas de humor inglês, o filme não é um relato de momento histórico comum. Preparem os lencinhos.

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