28 fevereiro 2012

L14 - Mansfield Park

Demorei bastante para ler esse livro: há mais de quinze dias estou com ele na minha cabeceira. Não sei se foi pelo fato de que foi o primeiro livro que realmente li em inglês (adaptações curtinhas não contam) ou pela cansativa volta à rotina escolar, mas uma coisa é certa: não foi por “culpa” desta obra de Jane Austen, que, apesar de não atingir a mesma qualidade do que nos seus livros que li anteriormente, me surpreendeu mais uma vez.
As Srtas.Ward tomaram destinos bem diferentes na vida. Destinadas somente para o casamento, como as mulheres da época, suas trajetórias centraram-se nisso: a bonita e cativante Maria, a filha mais velha, casou-se com Sir Thomas Bertram, tornando-se então rica e parte da nobreza – uma ascensão social basante grande para quem possuía apenas algumas milhares de libras como dote. A filha do meio casou-se com um reverendo, o Dr.Norris, que, por influência da cunhada, foi empregado em Mansfield Park, a propriedade dos Bertram, o que lhes garantiu uma vida bastante confortável. Já Frances, a mais nova, não teve a mesma sorte das irmãs: para esta, coube o Sr.Price, um tenente da marinha sem herança ou conexões. O salário minúsculo do Sr.Price, seu hábito de beber e a grande fertilidade da mulher os fizeram ter vários filhos e uma vida bastante diferente da vivida por Lady Thomas e pela Sra.Norris.
A fim de ajudar a irmã, a Sra.Norris sugere que uma das crianças seja adotada pelos Bertram – afinal, onde moram quatro crianças, podem também morar cinco. Por isto, aos dez anos, chega em Mansfield Park a pequena Fanny Price, uma garotinha tímida e sem grandes atrativos.  Assim, ela é criada ao lado de seus seus primos: o filho mais velho (e herdeiro da família), o esbanjador Tom; as glamurosas e fúteis Maria e Julia e o atencioso Edmund, que não mede esforços para ver Fanny confortável e está destinado, como filho mais novo, a se tornar um reverendo.
Depois da morte do Dr.Norris, o cargo de reverendo de Mansfield (ter um reverendo por propriedade era regra na Inglaterra da época; e os párocos anglicanos, ao contrário dos padres católicos, poderiam se casar e constituir família, além de possuir alto grau de educação e um bom salário) fica por conta do Dr.Grant, cuja esposa possuía dois irmãos – Henry e Mary Crawford, ricos e charmosos jovens acostumados à sociedade diversa e elitista de Londres. Todo o charme dos Crawford balança o coração dos Bertram; tanto de Júlia e Maria quanto de Edmund; mas quando o caráter de Mary vem à tona e Henry se apaixona por Fanny – logo o patinho feio da família! – tudo vira de cabeça para baixo em Mansfield Park.
Não encontrei outro autor com a capacidade de dizer com palavras coisas outras que seu sentido original como Jane Austen. A grande escritora inglesa é de uma ironia bastante peculiar: é bastante leve, e o leitor precisa ter atenção redobrada para percebê-la em alguns trechos. Confesso que, no início, achei Fanny meio sem sal: ela não era excepcionalmente inteligente, extrovertida e tão pouco suas observações eram essenciais para o decorrer da estória. Contudo, depois de algumas páginas, percebi o que Jane Austen queria com isto: ao revelar aos poucos os trunfos de Fanny, ela questionava o  status de “caridade” que havia sido dado à sua “adoção” por parte dos tios – afinal, Maria e Julia Bertram eram bastante fúteis, e, sem Fanny, Lady Thomas Bertram com certeza se sentiria solitária.
Mas, infelizmente, ao contrário dos outros livros que li da autora, ela errou a mão em um ponto importante: enquanto alguns personagens chave têm suas características descritas timtim por timtim (com toda a complexidade psicológica típica de Jane Austen), outros são negligenciados nesse aspecto. O livro também flui de forma mais lenta e empacada do que os outros – apesar de ser mais curto do que quase todos eles. Como já haviam me falado, os livros Jane Austen são bastante indicados para quem não está acostumado a ler em inglês, não só linguisticamente (ela não é de muitos floreios): até o próprio preço vale a pena (várias livrarias importam as edições dos Penguin Popular Classics, que saem por cerca de sete reais).
Mansfield Park não deixa de valer a pena por causa dos pontos negativos que levantei – afinal, ainda É Jane Austen, e estou curiosa para saber se essa mulher sabia escrever algo ruim.
Nota: 4/5

6 comentários:

  1. Dizem que Fanny é a personagem menos "impactante" da Jane, e por isso este seria seu livro mais fraco.
    Ora, como fã da Jane, acho impossível achar alguma obra dela fraca, ainda não li o livro, mas já tenho em minha estante.Mas confesso que vou ler sem muita expectativa.
    ótima resenha, como sempre.
    bjos

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    1. poisé, fraco não é - jane é diva ahha. mas, em comparação, é realmente o menos legal...

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  2. Oi Isabel.
    Já tinha ouvido falar que esse livro da Jane é um pouco fraco. E como eu só li um livro dela até hoje, acabo não tendo muita opinião a respeito de seus livros, porém esse fato de alguns personagens não serem tão detalhadamente descritos é um comum de se ver por aí, pois acredito que os autores as vezes se perdem um pouco e com isso criam histórias sem atrativos.
    Beijos.

    http://booksedesenhos.blogspot.com

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    1. sim! mas as vezes, dependendo do autor, são os personagens que fazem o livro ser bom. mas, como tudo na vida, varia.
      beijos!

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  3. Nunca li Jane Austen, mas um dos meus professores já me disse que ela é maravilhosa. Pelas críticas que vc fez em algumas partes, é melhor eu não começar por esse rs. Acho que vou comprar "Emma". Foi esse que meu professor me indicou.

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    1. acho que emma seja melhor mesmo... é, na minha opinião, o melhor dela - e não é nem 1% tão mulherzinha quanto orgulho e preconceito, que é o mais famoso de jane.

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