26 março 2012

Jogos Vorazes (filme)





É um hábito irritante dos diretores de filmes baseados em bestsellers não explicarem direito certas coisas, certos aspectos do enredo que, se não são essenciais para a história, pelo menos a fariam mais interessante. É como se eles possuíssem a certeza de que apenas fãs ensandecidas pela série assistirão aquele filme, e que nenhum curioso que não sabe que o filme em questão é baseado numa série de sucesso mundial  ousará pisar numa sala de cinema onde ele esteja passando.
Em menor escala do que o geral, o primeiro filme da série Jogos Vorazes, escrita por Suzanne Collins, sofre desse mal: quando Panem (o país distópico onde a trilogia se passa) é apresentado, senti uma carência muito grande de informações sobre o mesmo. Não é como se não houvessem explicações, mas senti que, caso eu não houvesse lido os livros, não entenderia muito bem porque todo aquele desespero em torno de algo chamado “colheita” ou porque colocar cercas com placas de “não ultrapasse, limites do distrito” em torno de uma vila.
Panem se localiza no que já foi a América do Norte que, depois de muitas guerras, foi dividida em treze distritos e uma Capital. Cansadas de trabalhar em prol do luxo e da ostentação da Capital, as pessoas do distrito treze se rebelam – mas são rapidamente vencidas. Para lembrar quem está no comando – e conseguir um bom show para seus habitantes ociosos – a Capital, todos os anos, realiza os Jogos Vorazes, uma espécie de Coliseu onde vinte e quatro jovens de 12 a 18 anos, dois de cada distrito (os chamados tributos) devem lutar até que apenas um sobre.
Katniss Everdeen – uma garota de dezesseis anos do distrito doze que garante o sustento de sua família através da caça desde a morte de seu pai – sabia que as chances de que ela fosse sorteada eram grandes: em troca de comida, ela aceitava, ano após ano, que seu nome fosse posto no pote onde os tributos eram sorteados mais vezes que o normal.
O que ela não esperava, contudo, era que sua irmã Prim, de apenas doze anos e com o nome no pote apenas uma vez fosse sorteada. Desesperada, Katniss se oferece em seu lugar – cena que, confesso, me emocionou desde os trailers – e assim vai para os Jogos Vorazes.
Mesmo sem grandes explicações sobre o mundo onde o filme se passa, uma coisa essencial se entende: os distritos se encontram em um péssimo estado, com bastante pobreza e algumas pessoas vivendo como quando no medievo. Quando Katniss e Peeta (o outro tributo do distrito doze) chegam o contraste entre a vida que ambos costumavam levar é imenso quando eles contemplam a vida cheia de excessos que pessoas dos doze distritos sustentam.
O filme é cheio de símbolos e referências, algo é mais possível de forma visual do que no papel: o estandarte onde o Presidente Snow fica, por exemplo, lembra bastante os palcos que eram armados para os comícios de Hitler, numa referência ao totalitarismo que é o governo de Panem. Não havia conseguido formar esta imagem mental durante o livro, mas ao ver Katniss de arco e flecha com uma trança no cabelo, consegui me lembrar das míticas Amazonas que, assim como ela, representavam força e poder femininos.
Como adaptação, é bem fiel: as mudanças foram poucas – na verdade, foram mais omissões, e os acréscimos me pareceram necessários para a introdução do segundo filme, Em Chamas. Não consigo imaginar outra que Jannifer Lawrence para fazer Katniss: ela conseguiu capturar aquela essência de menina forte que tanto me encantou quando li os livros. Josh Hutcherson também conseguiu capturar o precioso carisma de Peeta, que é essencial para sobrevivência dele e de Katniss na arena. As cenas das lutas não foram muito sangrentas, mas também não foram muito leves - apenas o suficiente para ser realista sem exagerar na classificação, ou espantar pessoas mais sensíveis do cinema. O único erro grande – além da supracitada falta de informação para quem não leu os livros – foi na sonoplastia, que, na falta, torna alguns filmes mais chatos do que realmente são.
Mas Jogos Vorazes não é chato – não mesmo. Lamento muito a série só ter ido até o terceiro livro – sem possibilidade de continuação graças ao seu final – mas agora que não tenho mais livros ou filmes de Harry Potter para ansiar por, posso muito bem me contentar em roer as unhas pelos próximos filmes de Jogos Vorazes.
OBS.: resenhei a trilogia inteira aqui.
ATUALIZAÇÃO (eu não poderia deixar de falar disso): Vários tweets foram feitos por fãs de Jogos Vorazes reclamando da escolha dos atores que interpretaram Cinna e Rue. Mas não foi por sua qualidade (eu particularmente acredito que não haveria melhor atriz para intepretar Rue), e sim pela cor de sua pele. O nível é bem baixo - um cara chega até dizer que não ficou mais com pena de Rue depois que descobriu que ela era negra. As justificativas são bem podrinhas - que Rue deveria parecer com Prim (Katniss fala que é por sua idade e tamanho, não fisicamente, e a propria autora fala que os concebeu ambos tributos do onze como afro-americanos) ou que Cinna deveria ser bonito (como se Lenny Kratvitz não o fosse). É uma coisa tão pequena se preocupar com a cor da pele de dois atores, tão insignificante para o curso geral do filme que não tenho nem palavras... Não os ter imaginado negros é uma coisa; sair fazendo comentários racistas e dizendo que o filme foi uma merda por causa disso é outra. Eles se dizem fãs, mas não entenderam a mensagem que o livro (como a maioria de ficção distópica) traz. Não leia esse blog que reuniu os tweets racistas caso você não queira ficar um tiquinho deprimido e com vergonha de ser humano. 
Nota: 5/5

10 comentários:

  1. Oi Isa
    concordo com você em tudo. O filme tem mais omissões do que cortes. E em algumas coisas eles falharam mesmo ao não explicar, meu marido então , por exemplo ficou boiando no começo, e não entendeu o tamanho alvoroço causado pela colheita. Enfim,foi como se tivessem feito o filme para os fãs da trilogia, sabendo que quem leu iria entender, e quem não leu ficou boiando.
    Não sabia dessas manifestações a respeito da cor da Rue.Engraçado que quando li, só conseguia imaginá-la negra, assim como o menino do mesmo distrito.
    E o Lenny é muito gato (ok, eu sou fã dele e minha opinião não conta muito rs)
    ridículo essas críticas aff.
    Adorei a sua resenha sobre o filme, eu pretendo assistir novamente, porque a pré-estreia foi muita bagunça e eu mal podia ouvir as vozes dos atores.
    bjos

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    1. poxa, aqui nem teve bagunça, e meio que senti falta disso. é tão coisa de fan girl, sabe? e eu queria soltar mini-gritinhos no cinema de felicidade em algumas partes, mas nem rolava, pq eu parecia ser a única fã da série ali DUASDHAUS

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  2. POsso dizer que quase 95% dos blogs estão falando desse filme
    E eu ainda não li o livro
    Mas tenho muita vontade
    Devido a tante repercução

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com

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  3. "Não leia esse blog que reuniu os tweets racistas caso você não queira ficar um tiquinho deprimido e com vergonha de ser humano." Concordo com vc sobre esse fato lamentável que acontenceu. Sério. QUAL É O PROBLEMA? A atriz que interpreta Rue, além de ser uma gracinha, foi supeeeer boa no papel de Rue. Sem comentários.
    MAS, sobre o filme, eu gostei bastante das cenas em que mostra o estado precário do distrito 12, porque isso é essencial para quem não tinha lido os livros, entender a situação da população. Também concordo com vc na parte dos símbolos — ficaram ótimos — e dos atores!
    Uma coisa que me incomodou muito foi a câmera que tremia muuito. Não sei se foi porque eu estava sentada mais na frente, fiquei "tonta" algumas vezes, hahaha xD
    Sobre a falta de informação, eu tb achei que muita coisa foi deixada de fora, MAS fiquei meio impressionada com alguns detalhes que colocaram: sabe a cena da colheita? Em que a Katniss coloca a blusa da Prim dentro da saia e depois que a Prim é chamada, coloca novamente? Quase sai gritando no cinema, falando: "PRESTEM ATENÇÃO NESSE DETALHE, VAI QUEBRAR SEU CORAÇÃO NO TERCEIRO". HAHAHA eu sei que é um exagero, mas adorei esse detalhe.
    Gostei bastante da sua resenha, vou confessar que foi a única opinião que fiquei com vontade de ler a respeito do filme! :)
    Beijos!

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    1. nem pensei nesse detalhe patinha da prim ahhaha mas é verdade! corações quebrados daqui a dois anos, é só isso que digo hahahahah

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  4. Adorei o post! Já falei que você escreve super bem? :)
    Olha, já vi muita resenha por aí do livro Jogos Vorazes e até então eu não sentia nem vontade de ler a sinopse, não sei pq, mas agora que eu li sobre o filme até que achei bem legal a história. Não sei se vou ler o livro, mas o filme acho que assistirei sim. Não gosto muito de assistir o filme antes de ler o livro, mas como nesse caso eu não faço muita questão... hehehe
    Só é ruim pq você disse que falta informação para entender direito a história, para quem não leu o livro, mas infelizmente isso acontece mesmo com a maioria das adaptações, né. Ou eles omitem informações ou acrescentam (o que acho ainda pior).
    Isso que você comentou de pessoas reclamarem dos atores escolhidos por conta da cor de pele é realmente ridículo! Eu só não gosto quando mudam a aparência do personagem quando isso vai de fato mudar a história. Vou dar um exemplo super bobo, não repare, mas no livro Pretty Little Liars uma das meninas é ruiva se apaixona por uma amiga que é negra, então na história é deixado claro que a mãe da ruiva tem não só preconceito pela filha ser gay, mas também pela filha amar uma negra, entende? Ai na série eles colocam a ruiva sendo morena, então muda a história, concorda? Essse tipo de mudança eu não acho legal!
    Enfim, está enorme isso aqui :p

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    1. verdade, reparei isso de PLL tb! embora racismo possa vir até mesmo dos proprios negros, ficaria bem mais coerente pra o decorrer dos fatos caso ela fosse ruiva...

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  5. Estou lendo tanto sobre este filme que acho que terei um infarto se não assistí-lo!! Vou ter que dar um jeito...

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  6. Adorei sua resenha! Você viu muitas coisas no filme que eu não percebi. Eu só não sabia dessa sobre a Rue e o Cinna! :O
    Eu não gosto muito do Lenny Kravitz como o Cinna, mas é porque ele não bate com a descrição do livro. Porém, falar que ele é feio é pegar pesado. Quanto a atriz que faz a Rue, ela é peeeeeerfeita para o papel! A atriz é linda e bate totalmente com a descrição do livro. Não acredito que tem gente tão preconceituosa a ponto de falar uma coisa dessas.

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  7. Oi Isabel.
    Eu assisti JV semana passada e gostei. Apesar de ainda não ter lido os livros, acredito que a interpretação dos atores foi muito boa, agora só me resta ler os livros para ver se aprovo também.
    Beijos.

    http://booksedesenhos.blogspot.com

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