Jean-Baptiste Grenouille poderia ser só uma de várias
crianças rejeitadas na Paris do século dezoito. O órfão (sua mãe foi condenada
à morte pelo infanticídio de quatro crianças, abandonadas debaixo do balcão de
uma peixaria – destino quase compartilhado por Jean-Baptiste) possuía um olfato
sobre humano: desde a mais tenra idade ele aprendeu a reconhecer, catalogar e
lembrar os mais diferentes tipos de cheiro, mesmo que o sentisse uma vez só;
mesmo que ele estivesse a quilômetros de distância; sendo ele bom ou ruim,
natural ou não.
E também aprendeu rápido o que as sensações olfativas
causavam nas pessoas: com apenas alguns meses de idade, foi rejeitado por uma
ama-de-leite, por não possuir cheiro algum – fato considerado demoníaco por uma
mulher do século dezoito, sem muita informação e acostumada ao cheiro agradável
de vários bebezinhos. Na creche para o qual foi encaminhado, não foi muito
diferente: a cuidadora, uma mulher dura e sem olfato, não era atenta o
suficiente para perceber as diversas tentativas de assassinato de Grenouille
feitas por outras crianças – ele era simplesmente estranho demais para elas. O
garoto, contudo, a incomodava: porque ele conseguiria prever a chegada de
alguém com minutos de antecedência? Porque ele não tinha medo do escuro como todos
os outros?
As interrupções dos pagamentos por parte da ordem religiosa
que cuidava de Grenouille dão a esta mulher motivos o suficiente para se livrar
dele, deixando-o para morrer como semi-escravo em um cortume. De novo, porém,
ele contraria as regras da natureza: ao invés de perecer pelo trabalho duro e
insalubre e a pouca comida, ele se torna um empregado valioso, ganhando alguns
trocados e até obtendo folgas para andar por aí. Seu interesse, porém, não era
bebida ou mulheres como havia de se esperar, e sim sentir todo e cada cheiro
existente na cidade-luz.
Bom, embora filmes que retratam tempos tão pretéritos quanto
o final do século dezoito insistam em dizer o contrário, a Paris daquela época
não é o que consideraríamos, para os padrões modernos, agradável: tudo era sujo
e fedido, graças a falta de noções da higiene das pessoas em geral e a
inexistência de saneamento básico. Grenouille sabia disto como ninguém, e se
prendia à uma brisa de mar como sua melhor lembrança olfativa. Um dia, contudo,
isto muda: ao passar por um jardim qualquer, sente o cheiro de uma moça, um
cheiro maravilhoso e inebriante. Enlouquecido, enquanto sorve seu aroma ele a
assassina, em um gesto de pura paixão – não por aquela moça e por sua beleza, e
sim pela sensação olfativa que ela lhe proporcionava. Esse é o pontapé inicial
numa busca incessante pelo perfume perfeito, pelo perfume que lhe tornaria o
maior alvo, a escolha mais óbvia, o personagem principal de um sentimento nunca
antes lhe dispensado – o amor.
As descrições do autor são maravilhosas: focando no cheiro,
sentido subestimado e esquecido, ele faz com que as páginas do livro pareçam
impregnadas pelos mais diversos aromas, ricamente descritos (o que me lembra
Escola dos Sabores, que faz o mesmo com o paladar). Meu mundo olfativo era
dividido em três grupos até então – cheiros bons, neutros e ruins – mas O
perfume me fez perceber a complexidade e a singela beleza deste sentido. Ele
não se fia muito em descrições físicas – não sei a cor dos cabelos ou olhos do
personagem principal, por exemplo – mas há algum tempo não me sinto tão “dentro
de um livro” como com O perfume.
Cartaz do filme *_* |
As páginas também estão inebriadas de paixão: não aquela
paixão entre amantes, ou uma paixão saudável por algo que se goste de fazer,
mas sim uma paixão doentia por parte de Grenouille pelo aroma perfeito. É a sua
única característica que o faz humano: baseado nela, ele mata, morre, sente-se
feliz ou triste. A única beleza que conhece é a olfativa; e não sente nojo de
nada até que isto se ponha em seu caminho.
Pode-se concluir que o livro é maravilhoso pelos meus
comentários acima e realmente é, exceto por uma parte – o final. Embora eu
acredite que só este fator não deve dissuadir ninguém de lê-lo, o final é
tosco, terrível, já seria bastante deslocado em um livro medíocre, portanto
certamente não faz jus a O perfume e o grande livro que ele poderia ser.
Nota: 4/5
Esse post faz parte do Desafio Literário 2012, e o tema
deste mês é Serial Killer.
Eu amei quando vi o filme sobre o livro no cinema- que diziam ser impossível de ser filmado por causa das sensações olfativas presentes no texto. O que gostei foi do que acontecia com as pessoas que foram " ponte" para o protagonista: morriam qdo perdiam contato com ele. Como se ele fosse um anjo do avesso...o ator que fez a personagem era de cortar o coração!
ResponderExcluirfiquei curiosa quanto ao filme depois que vc falou.. assistirei!
ExcluirEu adoro livros sobre serial killer, e por mais que o final não tenha sido bom, quero ler este livro. A capa é muito bonita, e não sabia que tinha filme da obra. Vou colocar na lista de compras desse mês.
ResponderExcluirAmei a resenha
bjos
o início e desenvolvimento do livro são muito bons, e se vc gosta de serial killer, aposto que vai gostar :)
ExcluirEu estou com esse livro no meu computador, mas ainda não li. Eu assisti o filme e gostei muito, porém, também achei o final ruim (não sei se é o mesmo do livro, mas, pelo visto, deve ser). Mesmo assim, ainda quero muito ler essa história.
ResponderExcluirolha, acho que compensa, por todo o início e desenvolvimento do livro... mas só lendo pra julgar direitinho :)
ExcluirEu lembro que meu professor de espanhol indicou esse filme, era um dos favoritos dele, e desde então tenho vontade de assistir — e ler, também, é claro! :)
ResponderExcluirMas aahh, não acredito que ele tem um final não-tão-bom! É tão triste quando isso acontece...
Adorei a resenha!
Beijos!
Estou muito desenformada
ResponderExcluirPois não sabia da existência nem do livro e muito menos do filme
Mas gostei de ver sua resenha, que assim pude conhecer
Beijos
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Também li esse livro para o Desafio, por isso fiquei curiosa para ler a sua crítica. Concordo com você, o final deixou a desejar... Bizarro demais! Abraços.
ResponderExcluirPaty.
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Oi Isabel!
ResponderExcluirEu já vi o filme e gostei.
Pelo que você falou do livro, me deu a impressão que a gente até consegue sentir os cheiros, de tão perfeita que é a descrição.
Ótima resenha!!
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Ah, livro maravilhoso! Um dos melhores que li no ano passado. Fiquei encantada com a reconstituição histórica, fe pelo autor. A narrativa tem um tratamento raro e singular e que por isso gera mesmo um certo estranhamento.
ResponderExcluirAcho que até sou meio suspeito pra falar, como grande apreciador da obra do Patrick e amante d' "O Perfume". Ao contrário da autora do post, gostei bastante do final e pra mim (e pra maioria das pessoas que conheço) ele é surpreendente. Eu, ao menos não esperava. Não que o final seja inovador (e confesso, nem esperava por isso), mas a forma como tudo ocorre e é narrada, é genial e em momento algum decepciona, assim como o filme.
ResponderExcluirE, se ainda cabe dizer, parabéns pelo texto, pela forma como expôs.
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