22 junho 2012

Clockwork prince


Minhas opiniões sobre clichês se contradizem. Sim, a sensação “já vi isso – mais ou menos um milhão de vezes” é péssima, mas clichês não seriam tão largamente usados se não fossem pelo menos um pouquinho bons.

Se as pessoas não gostassem deles.

Não tem aquela coisa meio Bella/Edward/Jacob, de um triângulo amoroso que não pode se concretizar graças a insegurança da mocinha (que é, obviamente, seu único defeito de fato) e falhas imperdoáveis (no caso, respectivamente, vampirismo e licantropia) dos heróis? Pois é: Cassandra Clare, adorada por nove entre dez leitores de YA fantástica, abriu mão desse artifício no segundo livro da sua série As peças infernais (prequel para a mais famosa Os instrumentos mortais), Clockwork Prince.

Em ambas as séries, um submundo sobrenatural existe – e Tessa Gray é parte dele. A garota, contudo, é bastante incomum: ela desconhecia seu poder – o de mudar de forma – antes de se mudar para a Inglaterra e ser “treinada” por uma dupla de feiticeiras que a seqüestrou.  Depois de ser salva de suas sequestradoras, Tessa é acolhida pelos Caçadores das Sombras – uma espécie de polícia desse submundo – do Instituto de Londres. Seu novo lar, contudo, vê-se ameçado.

Desde que assumiu a diretoria do Instituto de Londres, Charlotte encontra resistência por parte dos outros Caçadores das Sombras – não por incompetência, mas por ser mulher – imaginem só: se somos raras em cargos de liderança em 2012, no século XIX, então, o estranhamento era maior ainda.

Pois bem: por ter deixado que o Magister – mundano rico conhecedor das artes mágicas e possuidor de um exército de autômatos (daí o nome da série), que pretende seqüestrar Tessa a fim de usar seu poder – escapasse, Charlotte enfrenta ainda mais oposição. Para que o Instituto não passe para as mãos do detestável Benedict Lightwood, uma missão impossível deve ser cumprida: encontrar o Magister em duas semanas.

O defeito que apontei no primeiro livro, Anjo Mecânico, sumiu – não porque Cassandra Clare matou o personagem Will ou mudou seu comportamento detestável, mas uma justificativa boa o suficiente veio a tona para os leitores. Isto, contudo, deu um tom levemente melodramático ao livro: o típico “ai meu deus, sintam pena de mim” se fez presente. O desconhecimento dessa justificativa por parte de Tessa a faz continuar entre a cruz e a espada: ficar com Will, que alterna momentos de comportamento irascível e ternura contida ou com Jem, que está morrendo – ironicamente, graças a droga que o mantém vivo?

A questão do poder feminino é explorada mais a fundo, não só com Charlotte e sua direção no Instituto, mas também com Tessa vencendo pouco a pouco seu horror a coisas não “femininas” – afinal, como andar com Caçadores das Sombras e não aprender a lutar? Embora o livro não se foque tanto em descrever a Inglaterra Vitoriana como Anjo Mecânico, ainda há algumas pitadas aqui e ali, dando toques especiais as passagens onde esta descrição se faz presente. Os diálogos parecem ser o ponto forte de Cassandra Clare: os músculos do meu rosto se organizavam em um sorriso involuntariamente (juro, eu tentei) toda vez que Will e Tessa conversavam – ambos são loucos por livros, e suas referências e debates sobre os mesmos são fascinantes.

Mesmo me decepcionando um pouco com Clockwork Prince e todo seu açúcar, o mundo que a autora criou é fascinante demais para me fazer não querer esperar até março de 2013 pela continuação. Alguém aí tem uma maquina do tempo sobrando?

Nota: 3/5

8 comentários:

  1. Ainda não li nenhum livro dessa trilogia, mas ouço bastante elogios quanto aos livros da Cassandra, mesmo com os clichês, me interessei por esse, em português claro :/ rs

    Beijos
    Meu outro lado

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  2. Não conheço o estilo de escrita da autora, e confesso não ter interesse por suas obras ao momento. Acredito que essa coisa de clichê muitas vezes não indispensável, porém, cabo ao autor saber ser original a ponto de fazer com que sua obra mereça o destaque que ele deseje.
    Gostei muito da resenha e dos pontos explanados... se, apesar de tudo, ele soube te fascinas, com certeza vale a pena ler sua continuação.

    Um abraço!
    http://universoliterario.blogspot.com.br/

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  3. comecei a ler Cidade dos Ossos agora, então já captei esse "mundo fascinante", porque é mesmo. Acho que se a Cassandra Clare decidir jogar todos os clichês pro alto e resolver abdicar da vida pessoal dos seus personagens, mesmo assim a narrativa sobrevive só baseada no quanto esse mundo criado por ela é foda. De qualquer maneira, você tem razão - clichês, apesar de serem CLICHÊS, são clichês por um motivo, e geralmente é porque, aplicados da maneira e na medida corretas, se tornam coisas boas. Às vezes funciona, às vezes não. Acho que o caso de Infernal Devices é mais.... não.

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  4. Oi Isa
    amei a resenha.Sabe que o que me irrita na Cassandra, é o fato dela criar sempre personagens engraçadinhos e mocinhas sempre na dúvida cruel de qual escolher. E também aquele lance: beijo, mas depois me arrependo...aff
    Mesmo assim eu gostei bastante do primeiro livro da série, achei que melhorou e muito desde Cidade dos Ossos, mas Clare não me impressiona em nada.
    bjos

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  5. Ainda não tive vontade de ler este livro
    E essa resenha também não me chamou atenção ...

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com.br

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  6. Tinha curtido a capa assim que abri teu post. Tenho péssima sorte com capas bonitas de conteúdo duvidoso. Até preconceito, admito. Nunca tinha visto esse livro na minha vida, mas não parece fazer meu tipo. E eu já tenho livro demais pra ler. Culpa sua, sério mesmo. Tanto que vou perder alguns dias na Travessa, lendo por lá mesmo, porque comprar tudo... e vou, no começo de cada mês, falar sobre livros lidos no mês anterior. Tipo resenhar, só que não assim, tipo você. Algo menos "profissional", por assim dizer.

    Voltei, babeee.

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  7. Eu li a resenha mesmo sem ter lido o primeiro volume desta série. Eu mal posso esperar para ler Anjo Mecânico! Infelizmente estou sem grana, então é uma leitura que terá que esperar:(

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  8. Nem li o primeiro livro, mas estou louca para ler essa série ): sou louca pelo século XIX e só de pensar que tem um livro assim com uma pitada de sobrenatural, me dá muita vontade de ler.

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