04 janeiro 2012

ESPECIAL DE ANO NOVO: série Jogos Vorazes

OK, fui mordida pelo bichinho Suzanne Collins. Perdoem-me o trocadilho podre, mas devorei a série Jogos Vorazes vorazmente. Viagem a praia, da festa do ano novo, nada me impediu: li toda a série em pouquíssimo tempo. Isso ocorreu, principalmente, pela esperteza da autora, Suzanne Collins: tanto "Jogos Vorazes" quanto "Em chamas" acabam de uma maneira que dá aquele gosto de quero mais. Bom, passadas essas considerações, vamos as resenhas (com altíssimo risco de spoiler):
JOGOS VORAZES: começo genial Respirar o cacete: eu precisava ler Jogos Vorazes. Suzanne Collins amarra a história de um jeito tão natural e bem feito que senti que se abandonasse o livro por um mísero minuto eu perderia algo, como se o livro fosse criar pernas e sair correndo por aí, me deixando com uma curiosidade agoniante.
Somos introduzidos Katniss, que, com apenas dezesseis anos, já sustenta sua família, caçando ilegalmente na floresta junto com seu amigo Gale - que também usa os animais caçados, a coleta e a pesca para alimentar sua mãe e seus irmãos.
Esta necessidade não provém apenas da morte dos pais de ambos em um acidente: no mundo apresentado no livro, a América do Norte foi dividida em treze distritos e a Capital, criando um país chamado Panem. Enquanto os habitantes da Capital são riquíssimos e vivem na fartura e no exagero, a maior parte dos distritos é extremamente pobre, impedindo que as mães de Gale e Katniss achem emprego fixo.
Setenta e quatro anos antes do início do livro, o 13º distrito - especializado na produção de grafite e na indústria bélica - se rebelou e foi subjugado. A Capital, para garantir que isto não acontecesse de novo, reafirma o seu poder todos os anos através dos Jogos Vorazes, uma espécie de Reality Show muito semelhante ao Coliseu romano: vinte e quatro adolescentes (dois de cada distrito), denominados tributos, são postos dentro de uma arena todos os verões, para enfrentar toda sorte de perigos e lutar até que apenas um sobre.
No sorteio dos tributos do 12º distrito, um desastre acontece: a irmãzinha de Katniss, Primrose, contra todas as possibilidades (por possuir seu nome inscrito apenas uma vez, contra diversas de outras crianças menos afortunadas e mais famintas que aumentavam suas chances de ir à forca em troca de uma porção de grãos e óleo) é sorteada. Desesperada, Katniss se oferece para ir em seu lugar, tornando-se, junto com Peeta - o filho do padeiro, que salvara a Kat e sua família da inanição após a morte do pai da mesma - tributo de um dos distritos mais renegados de Panem, com um mentor bêbado e uma acompanhante que personifica toda a futilidade da Capital.
A parte introdutória do livro não é exatamente muito boa, mas te deixa com uma curiosidade boa para saber como as coisas prosseguiriam naquele mundo distópico que (apesar de ser um pouco falho em alguns pontos quando comparado a obras-primas tais quais "Admirável mundo novo" e "1984") é uma ótima releitura da Roma Antiga.
Apesar de gostar bastante da Katniss neste livro - como dito pela Fernanda, é bom ter uma personagem feminina forte, para variar - achei irritante a falta aparente de defeitos dela: a autora coloca as ações de Katniss acima de qualquer questionamento ou crítica. Mesmo aquelas mais terríveis são justificadas, de alguma forma, pelas circunstâncias. Adorei Peeta, por outro lado. Costumo detestar heróis apaixonadinhos pela heroína, e mais ainda aqueles que são sofridos por causa disto - no caso de Peeta, por não ser a escolha obvia ao lado do bonito e capaz amigo de longa data do seu objeto de afeição. Contudo, a inversão dos papeis que são delegados a homem e a mulher na maior parte dos livros o torna interessante: é Katniss que salva Peeta, não o contrário, e, fora alguns resmungos ocasionais, ele não parece possuir problemas com isto.
EM CHAMAS: O preço alto da vitória
Dos três, é o meu preferido. Algo sem precedente aconteceu: dois tributos, ao invés de um, sairam vivos da Arena, graças a atitude de Katniss que, recusando-se a matar Peeta, sugeriu que ambos se suicidassem. Graças a esta atitude, ela está em apuros: o quase suicídio foi considerado uma ridicularização a Capital, e alguns distritos mais subversivos, cansados da fome e da opressão, se revoltaram, espelhando-se em Katniss Everdeen, a garota em chamas. Essa é uma ótima oportunidade para que ela seja usada como peão pela primeira vez: tentando reverter um pouco do dano, o presidente Snow a obriga - em troca da segurança dela e de sua família - a continuar com o romance com Peeta diante das câmeras, mesmo sabendo que aquela era uma mera jogada para angariar fãs e patrocinadores.
Como só esta punição não era o suficiente, a edição especial do 75º Jogos Vorazes é bem conveniente aos interesses da Capital: ao invés dos vinte e quatro jovens comuns, os tributos seriam ex-vitoriosos, deixando a Katniss e Peeta nenhuma alternativa além de se apresentarem de novo para os Jogos.
Gosto mais deste livro por ser bastante profundo: a reflexão do ódio e da dor infligidos pela Capital se torna mais profunda a medida em que Katniss vai tomando mais conhecimento da situação em todos os distritos. Além disto, o custo da sobrevivência na arena vai se revelando: não só Haymitch, mentor de Kat e Peeta, pirou e procurou "ajuda química" depois dos Jogos: os vitoriosos do distrito 3 tornaram-se dois viciados em morfina, e há também Finnick Odair, sex symbol do distrito 4 que coleciona amantes e a tortura de uma amada psicologicamente instável.
Fora isso, minha irritação por Katniss aumentou: além das justificativas (que, como Charlotte Bronte nos mostrou, são desnecessárias) para as suas ações, a auto-piedade foi presente em quase todo o livro, coisa que odeio, tanto na vida real quanto na ficção. Outros dois personagens, porém, conquistaram meu coração: Haymitch, que cresceu no meu conceito, passando de um velho chato a um mentor genial; e Finnick, que, por causa da minha eterna implicancia com personagens bonitos demais, devia parecer detestável aos meus olhos, mas tornou-se um dos meus queridinhos.*
*É, não gosto de personagens apaixonados ou bonitos demais. Sim sou chata.
A ESPERANÇA: ou a decepção
AH VÁ. Lá estou eu, na boa, esperando um final escabrosamente bom para essa série genial. Contudo, Suzanne Collins frustrou minhas expectativas: odiei A esperança.
Katniss - cada vez mais insuportável - é manipulada de novo, desta vez pelo núcleo rebelde sediado no distrito 13. Aquela garota forte e corajosa que conhecemos no primeiro livro desapareceu: Katniss se deixa manipular sem grandes reflexões, sendo o símbolo da revolução em troca de exigências que, embora necessárias, eram uma pequena parte para que Kat evitasse o banho de sangue que se seguiria e que uma heroína que se prezasse deveria se opor. A falta de energia de Katniss se reflete no livro: o devorei mais por curiosidade do que por causa do ritmo alucinante que me guiou nos dois outros livros.
Eu costumava ser neutra quanto a Gale, mas minha neutralidade acabou ao ver seu pensamento de Hamurabi: com Beetee (vencedor dos Jogos e brilhante engenheiro, habilidade esta que ajudou os rebeldes), ele planeja diversas armas - mais mortais do que o necessário para que eles vencessem a guerra - para os habitantes da Capital.
O único ponto positivo (para meu lado pseudo-cult, não para meu lado fã girl) foi o número de mortes: mostrou o quão estúpida a guerra é. Contudo, essa reflexão vai pelo ralo quando a propria Katniss apoia a estupidez que é a vingança.
Mesmo não tendo curtido o final, espero ansiosamente pelos filmes. O trailer, liberado há algum tempo, me deixou ansiosa para vê-los.

4 comentários:

  1. essa trilogia é mesmo MARA, né? não dá tempo de você pensar em respirar, ou pensar em qualquer coisa. é tipo uma porrada atrás da outra. exatamente o tipo de livro que fica na sua cabeça por dias e que vc não consegue largar nem pra comer. eu fiquei completamente presa. o último, embora seja totalmente diferente, foi perfeito e pra mim foi o mais impactante, porque tem ao mesmo tempo a sensação de arena, mas com um peso um milhão de vezes maior. mas também é super 8 ou 80: vc se decepcionou, eu amei, e não tem em cima do muro.
    ótima resenha :)

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  2. Eu adorei o terceiro livro, foi meu favorito!
    Acho que a Katniss sempre foi um pouco ingênua, e sim, no terceiro livro ela de fato concorda com uma coisa que eu não acredita ser certa para salvar Peeta, mas era a única opção que ela tinha — ou isso, ou sua família e amigos pagariam pela sua escolha. O terceiro livro para mim foi o mais denso e triste, tudo o que a Katniss tem que passar, é simplesmente horríve! Em Chamas foi o mais cruel para mim, fiquei com TANTA raiva de ela ter que voltar para a arena!!!
    Mas concluindo eu também adoro essa trilogia, não vejo a hora de ver o filme!!
    Adorei a resenha!
    Beijos!

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  3. Fico feliz em ver que você gostou. Essa é uma das melhores histórias "para jovens" (aspas porque eu acho que é pra qualquer um que se interessa) dos últimos tempos. Não li 1984 nem Admirável Mundo Novo, mas Jogos Vorazes me fez ter vontade de conhecer as distopias mais famosas (e, quem sabe, melhores - como você disse). E acho que isso é uma das coisas que a série faz: te instiga a querer ler - se você ainda não fez isso - coisas diferentes, te faz pensar de verdade.
    Tem muita gente que diz que Jogos Vorazes é inspirado numa outra história (japonesa, acho) e vivem reclamando por causa de plágio. Mas como você disse, o negócio da Arena e dos Jogos remete ao Império Romano, então acho que as pessoas precisam parar e olhar um pouco pra história (revolta haha).
    Eu não acho a Katniss detestável. Eu sei que muita gente reclama que ela ficou chorona, dramática e chata. Mas ela é um ser humano, gente, mesmo sendo muito forte no começo. E olha as coisas pelas quais ela passou. Não deve ser fácil você conviver com o fato de ter matado e ainda ser ameaçada por um cara tão assustador quanto o Presidente Snow e forçada a viver uma vida dupla. Acho que não é por acaso que o Haymitch recorreu ao álcool e os outros vencedores a outros tipos de droga (ah, você citou uma Fernanda no post. Se não era eu, me identifiquei haha).
    Também não gostei do final da série, mas concordo com você: conseguiu mostrar muito bem que coisa estúpida é a guerra.

    Ok, vou parar por aqui antes que fale demais.

    Beijo!

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  4. Resenhas dignas de aplauso!
    Também acho que Em Chamas é o melhor dos três, com certeza. Terminei de lê-lo pela segunda vez ontem e, mesmo pela segunda vez, ainda mexeu comigo do mesmo jeito que fez da primeira vez. Parabéns à Suzanne Collins!
    Ao contrário de você, eu gostei do final. O final humanamente perfeito. Katniss poderia ser real, de tão humana que se mostra nesse último livro. Acho que esse fim fez com que a série fosse ainda melhor e mais admirável. Collins mostrou o que há de pior e de melhor na humanidade.
    Estou ansiosa pelo Em Chamas, o filme!

    "Happy Hunger Games! And may the odds be ever in your favor!"

    Beijos,
    Ana Alice N.
    http://carnesecacomcheddar.blogspot.com.br/

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