06 janeiro 2012

F6: Dr. Jivago


Adoro filmes e livros que retratem guerras e/ou revoluções. Não a parte sanguinária delas a política talvez, mas acima de tudo gosto de filmes e livros que retratem como as pessoas comuns, os zés ninguém da vida reagiram a toda a privação que uma situação como essa impõe.
Doutor Jivago destaca-se neste âmbito: é um romance - não daqueles açucarados, ou impossíveis ou perfeitos demais ou que o amor de ambos os personagens parece injustificado: somente um romance - ambientado em parte durante a primeira guerra e durante a revolução russa. Os insights históricos, por assim se dizer, são mínimos, mas o retrato do desespero do povo russo diante da destruição de uma guerra seguida por uma revolução - no qual tanto exercito revolucionário como o contra revolucionário eram destituídos de inocência - não chega a ser ruim. O filme se inicia com o enterro da mãe de Jivago (que então era apenas uma criança) e adorei a mensagem que o diretor quis passar nesta cena: o pequeno Jivago olha para cima duas vezes, e ambas as vezes somente encontra o vento, como se este fosse seu único companheiro e acalanto no mundo. A sensação de solidão passada pela cena - além da inegável esperteza do diretor de conduzi-la desta maneira - me fez ter vontade de assistir mais de um filme que, em geral, eu passaria reto por um motivo ou outro.
E não me arrependi. Apesar da duração incomum - o filme tem cerca de três horas - não foi cansativo: cada minuto pareceu essencial para contar a história de Jivago e Lara. Jivago que depois da morte da mãe foi criado por pais adotivos e, na juventude, torna-se médico e poeta, além de ter um romance com sua irmã de criação. Não era ativo politicamente, mas parece ser consciente o bastante para entender a beleza e utilidade de uma manifestação que passou em frente a sua casa - e deixou diversos feridos.
Manifestação comandada pelo namorado de Lara, mulher que constitui um personagem interessante, mas não muito: seu sonho era conseguir uma bolsa de estudos na França, centro político e cultural da época, mas seus rumos mudaram graças a um abuso na adolescência por parte de um "amigo da família" com um alto status social. Quando sua mãe descobre, tenta suicídio, fazendo com que seu caminho e o de Jivago se cruzem pela primeira vez quando ele - então médico assistente - vai cuidar da mesma.
Depois de outro estupro, Lara se cansa, pegando uma arma e atirando no seu algoz durante uma festa. Feliz ou infelizmente - depende do seu ponto de vista - ela atinge somente a sua mão, que é rapidamente remendada por Jivago, também presente na festa que recebeu o evento. Meu lado de esquerda deu risadinhas ao ver o que se seguiu: um rapaz vestido de operário - Pavel, namorado de Lara - entra no recinto, retirando-a de lá e deixando todos os presentes (na sua maioria burgueses alheios a miséria em que toda a Rússia se encontrava) de boca aberta.
Este namorado é Pavel, revolucionário comprometidissimo e o melhor personagem do filme: na minha opinião, ele é o retrato da pessoa comum. Ama Lara, e passaria a vida inteira com ela, contudo, reconhece que há mais coisas entre o céu e a terra do que sua amada. Gosto desse tipo de personagem, porque é mais real, mais palpável: mesmo que tenha havido paixão - daquela em que as noites de sono são substituídas por vigílias cheias de devaneios, as pernas tremem e palavras bonitas nunca parecem suficientes - em um casal, ela raramente dura muito, e a felicidade se torna um misto de amor e comprometimento. Desde o início, foi isso somente que Pavel prometeu a Lara, apresentando o que é, na minha opinião, uma atitude honesta e verdadeira. [Enfim, eu realmente não acredito inteiramente nisso. Mas vá lá, esse é meu lado racional falando para variar.]
Mas aí vem a parte que me irritou no filme: as coincidências. Depois que Lara foge para uma cidadezinha com Pavel e tem uma filha, e Jivago se casa e tem um filho com sua irmã de criação, os dois têm a sorte de servir no mesmo hospital de guerra. Depois de algum tempo, quando Jivago e sua família vão fugir - já que a situação em Moscou era insustentável para um poeta "burguês" como ele - fogem exatamente para a casa de campo próxima da residência de Lara.
Bom, isto realmente me fez ficar: "ah, okay, vamos para a parte estilo novela agora", porque, afinal, a Rússia não é pequeninha e os anos que se passaram de lá para cá não a aumentaram de tamanho. Se você estiver disposto a relevar alguns pontos (tal qual o gostinho ruim que fica pelo filme ter sido feito em inglês, não em russo), é um ótimo filme. :)

2 comentários:

  1. Nossa, ainda não assisto D.Jivago- que vergonha!
    Olha, adorei sobre o que vc escreveu no meu blog. E pra ser bem sincera, até eu que sou mãe tenho vontade de sair correndo de tanto blog materno cheio de açúcar e perfeição...argh! E vc está certíssima: filhos só depois dos 30, vou falar isto para Beatriz até encher o saco dela!
    Estou sempre lendo seus textos! Menos este, pelo motivo já mencionado...shame!

    ResponderExcluir
  2. Olá, tudo bem?
    Os únicos livros que já li que são +/- parecidos com esse são os da 2° guerra mundial
    Não sei se tem comparação, mas também são bastante interessantes
    Saber como as coisas funcionam nesses tempos difíceis

    Beijos
    @pocketlibro
    http://pocketlibro.blogspot.com

    ResponderExcluir